Revista da Academia Paraense de Letras 1961

de nosso mundo, que é a miséria generalizada e a injustiça social, os adeptos, conscientes ou não dêsse sutil produtivis– mo materialista, crêem que todos os sêres humanos, tôdas as faculdades intelectuais, tôdas as mãos e tôdas as parcelas do tempo de ·cada um dos indivíduos - tudo isso deve ser empregado num tipo de ação uniforme, tendente à modifi– cação das estruturas sociais e à elevação do nível econômico das massas desprotegidas. Não podemos negar a enorme dose de verdade que se esconde dentro das afirmações paradoxais e dos apêlos paté– ticos que nos chegam da parte daqueles que , mais de perto, se têm debruçado sôbre a realidade social de nossa época e se sentiram, como que entontecidos com a vertigem das injusti– ças e dos abomináveis crimes que se cometem em nome da civilização ou de regimes ultrapassados contra a pessoa hu– mana, em todos os países do mundo. E' compreensível e justa a manifestação dessa revolta e o veemente desejo de conta– minar todos os homens de boa vontade com a febre da indig– nação contra as instituições opressoras e as formas oficiais de exploração da miséria. Então, todos nós percebemos (ou de– vemos perceber) a obrigação - humana e cristã - que in– cumbe a cada homem de não ficar indiferente, de não omitir– se, de não fugir às incomodidades de uma posição definida, de não acumpliciar-se com padrões sociais inadequados ou ineficiêntes para resolver os grandes problemas atuais. Nada do que puàermos dizer sôbre o assunto deve atenuar ou minimizar a fôrça e a vitalidade dêsse aspecto da questão, e as consequências que dela podem provir para cada uma das criaturas humanas de nossos dias; a ênfase que merecem as ciências sociais e· as pesquizas no campo econômico, a proeminência equilibrada a ser concedida pelos organismos oficiais aos institutos de experimentação científica que se des– tinam e encontrar aplicações pacíficas e progressivas para as grandes descobertas modernas, a urgência de retirar dos pro-– gramas de ensino êsse tom excessivamente teorizante, que faz os alunos saírem do colégio desligados de sua realidade so– cial e, pior ainda, sem possibilidades de modificá-la, e outras semelhantes. Mas o que é preciso·acrescentar, como indispen– sável complemento a essa visão dos problemas atuais, é uma palavra de cautela contra o inegável perigo de se derivar para nm tecnicismo isolacionista, ou um produtivismo com pre– tensões a presidir as finalidades do ensino e das ciências. O homem é um ser vário em suas manifestações e em sua realização pessoal, - e esta é uma verdade fundamental e ele– mentaríssima que deve colocar-se na base de qualquer pes– quisa social. Tôdas as tentativas !Para uniformizar a ação do homem ou a sua realidade existencial, com o objetivo de au- - 94 - .. - ..

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