Quero - 1946

Ç!In casa, de barraca em barraca, elas vão entrando. Uma fala , a outra resa . E, sob o r,ol quente , prosseguem no edificante apos– tolado . Chi! exclama Cicília, olha que va– mos ter de escalar um morro . - E não é mesmo? - Sabes como se chama este lugar ? o Alto do Bóde . E como está cheio de la– ma com a chuva de ontem ... Vamos, segu- 1 a a minha mão para não meteres o pé na poça. Pronto . Estamos livres dos buracos . Que bonito ! Sabes que estou gostando dest2, ;',ventura ? Deus nos ajude a conseguir :mui– tos títulos, no meio desta gente humilde. Que gente bôa é es~a. exclama Cecília. Vê.:; ,;orno nos t ratam bem? E como têm comprc– cns:io da coisas. Do comw1ismo não que– rem nem ouvir falar. Falta, ainda, aquela barraquinha, aponta Ana Maria. Será que mora gente ali dentro? Mais parece uma i;st re:nria . - Dá licença? -Entre - diz uma voz ~·ouca. 8entada, em rêde muito baixa, wna mulher parece esperar a visita da morte. Encolhida por excessiva ·magreza, está coberta apenas por uns trapos sujos. Ao lado da rêde, uma bi– lha com uma latinha, que serve de caneco. Um banquinho é todo o mobiliário. O inte– tior da barraca é uma sala caída, cheia de estacas . Ana e Cecília, curvam-se sobre a pobre criatura, que lhes diz passar sózinha os dias e as noites naquela posição, sem ne– nhum socego. Os visinhos pobres soco.rrem– na como podem, pois vive só, sem ter nin– auem que cuide dela . Não parece longe porém o momento em que se libertará daquele sofrimento . Sim, ela sabe que a morte já se avizinha. Ana e Cecília esquecem por um instante o tra– balho da LEC. Nosso Senhor lhes punha nas mãos outra missão. Elas seriam o instru– lnjento de Deus para levar àquela alma a Galvação e a vida. A pobre enferma ouve com interêsse as bôas p alavras que lhe di- 3em as duas moças. Para a enferma mais pareciam dois anjos do céu. No dia seguinte, logo cedo, Ana Maria e Cecília novamente se encontram na Basí- li lica. Mais alegres do que nunca se disoõem 1Jara o trabalho do dia . Elas seriam naque-; la manhã as embaixatrizes que levariam ~ choupana do Alto do Bóde, o Senhor do Céu e da Terra . . l Que felicidade! Como Nosso Senhor com– pensara o pequeno sacrüício que haviam fe ito na véspera! Acompanhadas do sacerdote entram na barraquinha da pobre doente. Esta parece r-onhar . Será possível que Jesús me venh;:i, visitar? Eu que passei longe d 'Êle tantos e tantos anos? Eu que cbeguei a este extremo em consequência de uma vida dissipada? Deus é mesmo o Deus dà bondade e da mi- 3ericórdia ! A confissão sincera já abrira as portas .-aquela alma. Agora, está pronta para re– ceber a Santa Comunhão. Ana e Cecília pro– curam alguma coisa que possa servir de me– na e wna toalhinha bianca para cobri-la Correm à vizinha e trazem um pano pobre, mas muito limpo . E a mesa? O padre resol– ve a situação . -.t~na Maria, segure a minha maletinba, que servirá de mesa, onde colocarei a Hós– tia Consagrada . Ana Maria estremece . Duas grandes lá-· ,rimas rolam pelo seu rosto, quando ela 1:,ente e vê, junto a seu coração, Jesús Cri,_ to, sobre a mesinha improvisada •:iue suas mãos indignas sustentam . Dzus, que podia ter ido à alma daquela mísera cria tura por qualquer modo, quis ir a ela por meio de Ana e Cecília . Fazendo com desvêlo o t rabalho do alistamento, ti– nham encontrado um coração amargu– rado, que Deus queria atrair por meio delas. Ge Ana e Cecília, em vez de terem ido, no •lia 7 de setembro, ao Alto do Bóde. tivessem· tido o prazer de ir ao Largo da Pólvora, tal– vez já não chegassem a tempo de oferecer à pobre mulher os meios de salvação . E Nosso Senhor, que não se deixa vencer cm generosidade, proporcionou à Ana Maria a. graça imensa, cuja impressão jamais se apagará de sua alma - o ter sustentado i1 mesa onde repousar a Vítima Adoravel . 13

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