Quero - 1945

QUERO 9 Adaptação e tradução livre do romance "SANTA MARIA", de GUIDO MILANESI. ( Continuação) CAPITULO II ~inel r~em sempre fôra essa Ninel de hoje , desenvolta, maldosa e sarcastiva. Nao. Houve um tempo, que já va i longe, e do qual conserva apenas vagas reminiscencias, em aue até o seu nome fôra outro : Nadia. E surge, às vezes, do subconciênte envolto num mist o de saudade e de horror pelas cousas que se sucederam - a maneira terna e suave com que o pronunciava sua mãezinha. Nessas ocasiões o passado longinquo se de– ?enrola ante seus olhos e se bem que em imagens imprecisas e apagadas, mvade-lhe contudo um temor extranho. _ ~al conhecêra o pai. Oficial da Guarda Imperial; sempre em mis- soes diplomaticas no estrangeiro. quasi não tinha ocasião para estar em casa. Algumas vezes quando vinha gosar ferias em Moscou, passava os dias entre os <_:amaradas e às noites em orgias nos clubes elegantes da cidade. O seu lar nao era como o das outras meninas, cheio de alegria e vivacidade e entre seus pais notava Nadia, não havia a intimidade e o carinho que via no papai e mamãe da vizinha, sua companheirinha de brinquedos. Para suprir o desamor do marido e pa ra que as pequenas n ão podes– sem .compreender a falta de interesse do pai, a pobre senhora procurava exph_car c?m palavras simples, à altura do entendimento das crianças, que o pai pr~c1sava estar ·sempre fóra, pois, pessôa cte confiança do Imperador, na_o poma descurar os seus deveres; e, redobrava para com ambas, de ctudados e carinhos. --xx-- Dificil compreender a transformação que subitamente surg_iu no yais. Por toda a p~rte uma palavra nova, ameaçadora, terrivel, surgida nao ~e l?abe de que mfernal cérebro, alastrou-se assnstadoramPnte, levando apos si a ruina, a destruição. a morte _ REVOLUÇAO. Dias tremendos de lagri– mas, de _pavor, de dE!5espero . Tudo cedia ~ sua influência SiJ:!-istr?- • • • Foi num daqueles dias, que certa manhã ,o pai d~ Nadi~ fo ra cha– mado para comparecer perante O Tribunal e nunca ma is voltara. Na se– mana seguinte, é sua irmãzinha Helena a rrebatada estupidamente dos bra– ços da mãe, que desesperada e em pranto não poude defende-la. Depois procurara explicar-lhe Que a filhinha fôra expulsa. . . Revolução ! Revolução ! o Infern o, aquele antro de fogo que existia debaixo da terra, tinha irrompido, surpreendendo a todos, ~ as su~s cha– mas ameaçadoras iriam envolver os homens, mulheres e criança?, JUl~ava Nadia na inor.encia dos seus quatro anos. De fato, tudo lhe parecia a figu– ra nitida do In ferno, como lhe ensinavam nas aulas de Catecisn~o. Uma gritar ia ensurdecedora acompanhada de ininterrupto tirotear enchia cons– tantemente as ruas, enquanto caminhões enormes, superlotados de a lmas rrote iando san!!;ue. levavam-nas par a lugares desconhecidos - para as pro– fundezas ria terra tn.lv · s ... Certa vez, eia propria fôra testemunha como aqueles mo_nstros. ar– rbmbaram a casa defronte à sua, onde morava uma s_enhora muito cando– sa. e sem nenhum respeito, por entre insultos horríveis, arrastaram ~ dona da ca a , levando todos os moveis e riquezas. Tal foi o medo que c9:rn d~::;~ maiada nos brac;os c:l e sua niãe, que entre soluços levou-a para o mtenor Continutia na pag . 10 ......... 11

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