Quero - 1944
quências sociológicas da aceitação desse pos– tulado filosófico~ teológico. 1) A existência de uma ordem absoluta de valores, que não se con– funde com a ordem relativa de valores dela dis– tinta . Vivemos no domínio da relatividade. Mas essa rela tividade não é total. O relativo supõe o absoluto. Mas não se eonfunde com êle. Os valores relativos não podem jamais iier erigi– dos em val ores absolutos, desde que parta– mos da existência de Deus. Só Deus é abso– luto. Só Ele é a medida de tôdas as coisas. Tudo ex iste, dentro da sua relatividade pró– pria, mas sempre em função da su a origem e do seu fim, que escapam à ordem das coisas relativas. O absoluto, o imutável, o eterno, são a fon te do rela tivo, do mutável, do efêmero. A sociedade humana como tôdas as coisas criadas, vive no tempo, isto é, no domínio do relativo, do mutável, do efêmero. Nem por isso deixará de reconhecer essa soci edade, e com ela as ciências humanas que as estudarem, que a raz,10 última dessa relatividade social é um absoluto supra-social, que é a fonte, a razão de ser e o destino final de tôdas as coisas re– lãtivas, inclusive os valores sociológicos. A existência de Deus, portanto, supõe a existê11- cia de urna ordem absoluta, distinta dos valores relativos em que vivemos e impede, quando realmente compreendida em sua natureza pro– funda e em suas consequências práticas - im– pede que os homens convertam os valores re– lativos em absolutos. O reconhecimento, por uma filosofia social, da existência real, e não apenas ideal de Deus é o únic0 meio de im– pedir ,1 proliferação d~ politeismo sociológico, isto é, das falsas metafísicas sociais em que valores relativos, como a Raça, a Classe, a Nação, o Estado e outros ídolos semellla111es, venham tomar o logar de ·Deus, na vida social. 2) A segunda conseqüência prática do postulado sociológico da existência de Deus é o reconhecimenlo de uma hierarquia subs– tancial ele valores. Sendo um valor absoluto, o único valor absoluto integral. Deus não pode participar, em si, de nada que seja relativo. 6 J. F. C. B. Belém-Pará-Brasil Ora, a observação 110s re ve la que as coisas são tanto mais efêmeras e relativas quanto mais participam da vida material. E, ao con– tr;írio, são tanto mais es táveis, permanentes, imutave is , quanto mais participam da vida es– piritual. A matéria é princípio de divisão, de multiplicação, de corrupção. E esp írit o é prin– cípio de união, de aproximação, de subsis– tência . O coroo de Plat ão há milênios que já se integrou de nov o na matéria. Seu espírito continua a viver intacto nas suas obras, nas suas ídeas, nas suas infinitas sujestões inte– lectuais áo longo dos séculos. Logo as rela– ções sociais não se baseiam, quando partim.os de um ax ioma teocêntrico, no simples acaso, no capricho indivi dua l, 110 abuso da fôrça que torna os fracos vitimas dos poderosos ou nos nivelamentos artific iais, que desconhecem os valores humanos autênticos escravisam o ho– mem às instituições - e sim numa hierarquia substancial de valores govtrnada pelo prin– cípio da supremacia dos valores espirituais sôbre ·os valores naturais. E daí partimos para a terceira conseqüên::ia. 3) Se existe uma hi era rquia infririseca de valo res, isto é, independ en te dos nossos caprichos indi vidua is e sujeita apenas à lei eterna e à lei natural, exis te lambem uma ele~ voçêo constante e possível do homem, ao longo desses valores. E essa é a terceira co nsequên– cia do pos tulado teofânico. A socieda de não é uma superfície plana, digamos ass illl , em que o homem nasça e v iva e morra , entregue ape– nas ao jogo efêmero dos seus instintos_ A so– ciedade é uma elevação, uma planície ou uma descida. Nela pode o homem subir fixar-se ' ou descer. Em suma, a sociedade é 1in1 modo de ser não apenas material mas - mora l. A vida SO(:íal joga com va lores que implicam, constantemente, na possibilidade de um da– quêles três destinos para os homens - subir, ficar 011 descer. Subir, isto é, aperfeiçoar-se constantemente, ao menos em sua intenção ( Continua na pagina 12)
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