Quero - 1944

QUER O 21 - " . .. Psiu! . . . Não se exalte tanto amigo Fleury. Vamos devagar. Satisfaca minha curiosidade. Tambem é comunista?" __.:_ "Ainda não ! ... Mas se-lo-ci em breve . . . quando faltar ma teria para os meus romances ou . . . se fôr neces:;ário, para conhecer mais de perto o meu belo "especimen" . .. Era a baixeza de sentimentos tocada ao extremo. A medida das con– venções sociais, o respeito mutuo, as mais elementares regras de decoro, calcadas aos pés - e nenhum dêles, e muito particularmente Ninei, pa– reciam im!)ressi0nar-se com isto. E continuaram a diabolica conversa : - . . ."Cada pessôa deve agir por conta propria, fazer tudo que sa– tisfaça plenan ente as suas inclinações . Virtude . . . pudor. . . nobreza de sentimentos. . . h istorias sem càbimento, inv nção de padres, que acredi– tam tolamcn to em céo, recompensa, premios . . . pela vida inutil e ocios:l. que levam, talvês ... - "E' p1eciso dar cabo de todos esses imbecis que pregam asnices e não ficarà nada, nem do tal céo nem de premios, nem de Deus. Na Russia, já conseguimos liquidar toda~ as igrejas e afinal abrimos os olhos do povo". E uma risada satanica e cruel corôou essa discurseira desarroada, in– coerente e blasfemica. - "Camarada Ninel - exclamou o joven arrebatadamente - que sorte encontrar-te ! Verdadeiro tipo - és o ideal comunista personificado·•. Ela retraiu-se um pouco, ao responder: - "Sob o ponto de vista literario, queres dizer, não é? Posso forne– cer-te muito material para os teus romances. mas receio que sejam muito burguezes" . . . - e de novo o ri o ironico ecoou pela sala, casando-se ao mesmo tempo com o ruido da sirene, que nesse momento, soltava um as– sobio agudo, ensurdecedor, avisando os passageiros que o paquete ia desa– tracar . - "Vamos". Ninel levantou-se. - "Dá-me licença para acompanha-la? - "Braque" - respondeu ela. - "Que quer dizer isto?" - perguntou o francês. -" Oh! burguês inveterado! Podes começar o capitulo p1imeiro do teu novo livro ... Mas aquele "corvo" tinha razão ... falta-te ainda apren– der bons bodos ! Braque ! . . . A sirena rugia pelo silencio da noite. Devagar as maquinas começa– ram a trabalhar e um cheiro nauseabundo de óleos e graxas espalhou-se pelo navio . .. O "Dezembro" fantasticamente iluminado deixava o porto de Havana . . . e lentamente se afastava, para dai a pouco perder-se de vista, na escuridão do oceano imenso, calmo, ameaçador. (Continúa) FABRICA LEÃO DE -- S. BENCIDMOL -- 1{ ALAS, MALE'T AS, CIN_'TOS e CHINELAS -- PREÇOS SEM COMPETENCIA-- Avenida Padre Eutiquio, 200 BELÉM - PARA 1 l

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