Quero - 1944

8 QtJ'.ERô ------ Outróra, antes da descoberta do T . S . F. era :mais fác il ao mar to– mar suas vingan ças, contudo hoje ,ainda, apesar de todas as precauçõe:; humanas, êle se lança com furor contra os culpados_. quando ,;rimes riue bradam aos céus exigem que Deus - na sua justa íra deixe aos elemeri – tos a execução dos seus planos de castigo e vingança. - E aí dos home 11 s surpreendidos em alto mar, pela mão onipotênte de Deus •vin~ador, eio~ so da sua magestade infinita! --XX-- No "hall" do grande salão , reclinada numa espreguiçadeira, uma jo– ven com atenção e atitude ousadamente provocante, estudava a fi siono– mia dos passageiros que entravam e os seus olhos azues, prescrutadores e maliciosos, analisavam os homens que lhe dirigiam o olhar, sem deixar escapar nenhum detalhe. O baton excessivo dos labios, levemen te en tre– abertos por u_m sorriso ironico, dav~ à bôca um.a expressão a rden te, 0 · que contrastava smgularmente com a frieza, com que, imperceptivelmente res- pondia aos sorrisos Que lhe dirig"iam, ao descer. ' Pernas cruzadas, cabelos penteado3 e ol~ados. cuidadosamente, re– fletiam as luzes que jorravam a~undanies do tet_o;_ esse desleixo exquisito e groseilo a um tempo, era coroado pela langu1des com que de vez em quando tragava a cigarrete, que descuidadosamei]te trazia en tre os dedos. A linha delicada do queixo revelava que nao era americana _ uma européa. de orir;em slavn. talvês . Nenhl'm dos que descir 1,1 lhe despertava particula r intere~se e ccn. tinuava na sua atitude displicente quanao, s~bito, toda a m~licia do olh a r se tian3formou duramente em rancor, av<:_r.mo, od10, e a boca, onde bai– lava o sorriso ironico. tomc'll uma expressa.o de mais acentuado desprezo Que pensamentos tenebrosos a.trave saram a mente da. donzela; ~ual a scmbra tétrica, ~ue se lhe apre:,entou à vista? · E' fácil aai, inhar. Acoz:npanhemos o olhar duro, fixo na escadaria . No meio da turba multa de Jogadore:; que descem barulhentos e avinha– dos, salienta- e - ó contraste! a figura humilde, calma e digna de um irmão da conr1regação do Padre de L3.~alle. Escuro de aspecto, já de certa idade, os cabelos grisalhos que lhe emclduravam. a cabeça, revestiam-no de certo ar solene e grave. mas no seu 1csto austero e mortificado podia– se ler a bondade santa qt,e lr..e ilumina,,a a alma - feita de renuncia de amôr, de nerdão. ' Os Õlhos baixos cairam repentinamente sobre a figura exótica ']ue repousava indol€ntemente e n·:m _movm .ento de mú1gnaçao levantaram-se faiscantes de justa co~era _para f1x'.l.r"m-se nos ameaçadores _e crueis que se n ão desviavam de si. Nao se ccnteve e num tom_ de voz misto de dôr e re\'olta , mãos crispadas, lanço1!, f_9rtem~n~e: coraJo~a1:1-ente, audaciosa– mente, o protesto veemente. - Nao te e h_c1to - a t1 , o joven sem pudor , ofenderes a um tempo - a moral - a S?c1edade - a Deus, nessa atitude reveladora de ~entimentos baixos e mesnumhos" . Fêz-se silenc10. - As palavras cadez:ites re5oaram pelo salão e le– vadas pela bri a marítima, r,ercieram-1':e al_em. pe_la imensidade das 'aguas. lim trejPil) 1m bo"a. m,:,. t1_aro a _mais ua c1ga.rn: te azulada, um sor– riso iracundo e desdenho::;o - fm a un!ca te'.' o~t'.1 E sem desf itar O olhar insolente. procurava sondar a ps1colo~1a da rel!gwso. Tudo isso se pass_gu em ~reves . e'.{Undo_ _· e sem atinar com O motivo do silencio . j t.1l~ando nao ü? :;1~0 compreeum ,o (o bondoso padre, faláru na sua lingua matc1~a - o 1tah::..nol. renet11 a c~nsura em francês, ingks, c'.l.stelhano - mas. o surpresa desconnertante! '>O a mude:l de estatua e 0 fr·o 1<,nclnonte do ol or f_~lavam a re.spos+a satanica que os labios nao tml1am coragem de proferir. compréende-l -ia. a mente pura c!o puro Irmão de Lasalle? - -XX- - Uma !!argalhaàa 7omb_eteira cruebra bruscamente o silencio; todo se voltam No alto da es.ca :iana um joven bronzeado, vestido esporLivamen– te, apre:;tava-se para aescer. Tmha acompanhado a cena e vinha tomar Oontlnuo no p0,1 . 20

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