Quero - 1944

IGUAIS E DIFERENTES Numa sala ampla, conforta– velmente mobiliada, trabalha– vam alguns funcionários. Desde o inicio do expediente, estavam presos às bancas de trabalho. Era um suceder con– tinuo de afazeres. O Chefe fa– lava-lhes, a todo instante. Mostrava-se impaciente. Di-· versas pessôas aguardavam o serviço que estava sendo feito. Tudo,Aenfim, concorria para o atropelo do momento. Pela disposição das carteirar-, sobressaiam duas funcionária~. Observando-as, adivinhava-se a franca cordialidade que reina– va entre ambas. Notava-se, en • tretanto, acentuado contrastú nas suas atitudes, pela desi– gualdade da expressão e dos gestos de cada uma. A primeira revelava perfeita calma e atendia, . tranquila– mente, a todas as exigências da função. A outra demons– trava aborrecimento e, até, cer– ta aversão pelo serviço. Finalmente, encerraram-se aquelas horas de trabalho. As duas colegas, como de costu– me, saíram juntas e, em cami- nho para casa, conversavam amigavelmente. Neide queixava-se: -Francamente, que dia! Já estou farta deste trabalho, desta gente, desta repartição! Helena, procurando animà– la, dizia: -Ora, Neide, pintas as coi– sas peor do que o são, na reali– dade. Não viste? Tive, ainda, mais dificuldades que tú e, no entanto, não me sinto en– fastiada. -Sim.... responde Neide. A– contece, porém, que não sou filósofa como tú. A ti, não al– teram os dias atarefados, co– mo o de hoje. És sempre a mes– ma, quer chova, quer faça sól. Ah! Não posso ser assim. Nfio admito certas coisas l -E que pensas de mim? acrescenta Helena. Acaso jul– gas que sou feita de matéria que se não inflama? Pelo con– trário. Apercebo-me de tudo, porém, nada me altera. -Como consegues isso? diz Neide admirada. Não compre– endo. És igual a mim. Passas pelas mesmas contingências Contloúo na pag. 13 7

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