Quero - 1942
sensibilidade excecional. No entanto. o que forma o fundo da sua constante emotividade é ainda e sempre o insaciavel indivi dualismo. A sentimental cultiva a sua capacidade de sentir como o meio sempre renovado de gozar. E' a "dilettante" do sentimento . Deseja o casamento , não porém como o deseja o comum das moças, para ~atisfação de um intimo chamado, a um tempo instintivo e ideal. A sentimental considera sobretudo no ca– saménto certa felicidade que n seu ver êle pro– porciona, felicidade completa, ddinitiva, obtida sem , esfôrço e desfrutada sem merecimento. Solteira, sujeita à tutela dos pais, tem que se submeter, obedecer, rt:signar-se, suportar. Ca– sada, conta com o amor corno uma espécie d~ "talisrn an" que lhe espancará tôdas as sombras da alma ou corno um entorpecente poderoso contra as agruras e os sofrimentos da vida. A ilusão é palpfilvel. E' certo que o amor representa, na ordem' hun1ana, a grande felici– dade da existência . Não, contudo, pela aboli– ção artificial das dores e dos sacri f1cios, senão justamente pela vitória sôbre êles. A se11ti – mental confunde a transformação da realidade, privilégio esplêndido do amor, com a creação por êle de uma ventura fictíci:l. fora das ine– vitaveis sujeições, sem nobreza e sem verda– deiro ideal. As causas de desentendimento na vida conjugal, contudo, • não decorrem tôdas da in a– daptação psicológica entre os cônjuges. Algumas têm raízes mais profund.. s, nHlis dificilm~nte removíveis. Não há natureza humana, por no– bre e elevada que seja, que não apresente os seus senões. O homem traz para o casamento os seus defeitos, naturai s ou adquiridos ; a mu– lher, os dela. Unem-se i'ISSim duas creaturas para quem a intimidade ininterrupta . vai crear 7 J. F. C. B . ------- Belém-Pará- 8 rasil ocasiões de atrito pela deficiência respetiva das duBs natureztls. Incompreensões do ·espírito e estreitezas do coração, desafinações da sensibilidade, ins– tabilidade de génio, diversidade de gôstos . são outros tantos motivos comuns de sofrimento no convívio conjugal. Embora ame e seja amado , o homem sofrerá sempre a desilusão do ho– mem, porque o nosso coração foi feito para o infinito e nenhuma e-reat ura o poderá plena – mente cumular. Lembra - me aind0 certa confe– rência em que o Pe . Coulet descreveu, com rara finura de aná 1 ise. o doloroso retraimemo do coração humano, sempre que se lhe depa– ram os "limites'' da personalidade querida . Nessas horas de m3gua intima, o amor perde fatalmente o seu poder milagroso de beatitude, e, segundo a bela expre~são de Selma Lagerloff num dos seus contos muis comovedores, passa a não ser mais do que ' ·um: gravité lourde ". Ao coração que sabe amar não desani– mam êsses inevitaveis obstáculos à doçura do convívio: são-lhe, ao contrário, ocusião de exer– car a fôrça vitorio~a de uma inalteravel cons– tância. O amor, como tudo o que é grande na terra, exalta-se e. transfigura-se m, prov-:.ção e acima de tudo nessa prova por excelê ncia que se chJma decepção. O amor, para o cor,ição que o com– preende, vale mais do que as venturas que êk dá e, por isso, nunca a felicid~cle que ê le pro– porciona às grandes almas é tão profu11daI11ente compensadora como nas horns em que , alçan– do-se acima das ex igências pessoais de gozo e reciprocidade, êle faz brotar a flor di\·ina da ter– nura na própria terra ingrnt::i da desilu~ão . (Concluiremos êste capitulo 110 ,nróximv número de abril) Juventude Feminnna Católica 1 Estás te preparando, por uma quaresma bem penitente, para as alegrias pascais? Lembra "d " 1 -te os outros e, pe as tuas orações, e, por uma campanha verdadeiramente apostólica, LEVA MUITAS ALMAS AO BANQUETE EUCARISTICO J LIOTEC rú Scçio d• Qb,u Ja F 1a
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