Quero - 1942

Do Rio, Amaury Porto de Oliveira nos envia êste artigo. Ficção ou inspiração divina, a "qUERo'' pod perfilhar o pensamento do jovem católico, apresentando-o aos seus conterrâneos -Amaury ê paraense - como mani– festação dessa m1;_ntalidade promissora que, felizmente, vai plasmando a mocidade brasileira no desprêzo aos vãos prazeres e num mais alto entendimento da sua no– bre missão. Dieu pari e dans le calme plus haul que dans la tempête- MICKLEw1cz E RA em fevereiro do ano que passou. Es– távamos em pleno Carnaval. Como de costume, fazia meu retiro espi– ritual, dessa vez, porém, no colégio sale– siano de Santa Rosa, em Niteroi. O lugar é magnifico, os prédios mages– tosos perdem-se no meio dos imensos parques, onde se encontram plantas de tôdas as espé– cies, desde arelva mais humilde, até as árvores de troncos enormes e seculares. Em tôdas as direções seguem alamedas, o chão atapetado de folhagem, marginadas de canteiros que florescem ao sol. Mais adiante, sobressai o omeiro, em cujo cimo se ergue a estátua da Virgem. Tôdas as tardes, quando do tempo livre que nos era concedido, dirigia-me para um dos sítios mais afastados, onde à sombra de fron– dosa mangueira ficava a cismar, a ler ou a meditar. já na última tarde, tarde quente de verão, enquanto me quedava absorto, foram-me vindo à memória frases esparsas, pensamentos diver– sos, resíduos todos de conversas tid as, de livros lidos, e que ha muito jaziam no subconciente. Até . que, não sei a que propósito, surgiu aquela frase de Micklewicz: "Dieu parle dans le calme plus haut que dans la tempête." Pre::.tei-lhe atenção, meditei-a. E comparei os ruídos desconexos e insanos que chegavam lá de baixo, comparei o vendaval das paixões que se desencadeava sôbre a cidade à tempes– tade de que fala o poeta, e comparei ainda àquela calma a solidão em que me encontrava. De repente, pareceu-me ouvir uma voz– não uma voz estridente e desconcertante como as que gritavam ao longe, mas uma voz sonora, clara e confiante- que me sussurrava algo. J. F. C. B . 6 Belém- Pará- Brasil iar Fever • Por muito tempo não quis acreditar fôsse verdade, hoje, porém, estou bem certo. Naquela última tarde de meu retiro, tarde de terça-feira-gorda, à sombra de frondosa 1nan– gueira no parque do colégio salesiano de Santa Rosa em Niteroi , uma voz invisível, a voz de Deus, me falou. im, era Deus quem me falou. Êle disse: - Filho! Contempla essa paz em que te encontras, considera essa mangueira cuja sombra te abriga, ela é acolhedora, é a arvore da paz, é boa portanto, e tôda árvore boa dá bons fruto s. -Filho! Contempla agora, em pensa– mento, a desordem e a insânia que vão lá em baixo, considera aqueles homens e aquelas mu– lheres que, as almas sem máscaras - pois no carnaval não se usam máscaras, tiram-se antes aquelas da hipocrisia que se usaram todo o ano - lançam-se ao turbilhão desenfreado que os arrasta todos. Essa é a árvore da tempestade, a ela não chega a voz de Deus. É árvore m tiÍ, e a má árvore dá maus frutos. - Considera aquela árvore da paz e essa do escândalo, e lembra-te do que disse pela bôca de meu Filho: ''Ai daquele por quem vier o escândalo!" - E agora, Alho, levanta-te e vai, reune teus companheiros e dize-lhes de minha parte: ''Alegrai~vos e exultai porque largo prê~ . ; , ,, mio e o ,•osso nos ceus . -- E aman hã, quando o vento da perdi– ção houver cessado, e a cidade se crer purifi– cada com o "Senh r ! Senhor!" que murmurou manhãzinha pelas igrejas, tu subirás ao mais alto ponto, e gritarás a plenos pulmõe : "Acautelai~vos, ó vós, filhos da iniquidade, acautelai-vos que o castigo será grande".

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