Quero - 1942

.que ~o 12 J. F. C. B . Belém - Pará - Br11si 1 111 1111 1111t 1 11 1 11 I I l •l 11 11 111111 1,1 1 1 1 1C 1111 !I 111 1 111111111tl J11111 11 111111 1 t I J 1111111111..111111111111111 I I 11 11 111 Ul'I J 11 11111 l i 1 1 11 11 1' 1 11111111 1 111 com repugnância, pode11, em raras circuns– tâncias, não fazer mal a um leitor ex pe rimen– tado, não há conciência qu e não seja, em breve, embotada pel o contacto freqüente com uma quantidade de autores que, embora nos pou– pando às vezes as cruezas e as descrições pouco limpas , assin alam no entanto suas obras com êsse cunho de elegante imornlidade. Assim, Maurois. 'Nos seus herois, a questão do bem ou do mal nem siquer aparece. Êles usam do amor com uma liberdade que não é to lh ida por coisa alguma. Não reconhecem cadeias, nem preocupações familia res ou sociais; Ca– sados, têm o divórcio .. sua disposição e apro– veitam-se dêle ·largamen te, sem jamais se ala r– marem . Nêle, como numa quantidade de ro– mancistas, a ordem no amor, a fidelidade no casamento, o dominio da paixão não tem mais nenhum cara ter intrínseco de mora lidad e. Êste "detalhe" parece mesmo totalmente ausente do pensamento de muitos autores. A propósito da pintura das paixões hu– manas, têma próp rio do romance, Jean Vals– chaerts diz-nos que três métodos solici tam o romancista - a pintura complacente, a pintura ed ificante, a pintura objetiva. A primeira já está julgada. Um artista se rebaixa se apre– senta o mal como o bem, e compromete até a sua arte. A segunda tem-nos dado essa li– te ra tura de edificação em que tudo é pelo me– lhor, no mais falso e inve rossímil dos mundos. O romancista não pode falsificar a vida . Ora, certa literatura de edificação, trunca e desna– tura a existência . Nenhum dos dois sentidos que_o ter~o edificação comporta , ''cons trui r" a vida e pregar" a respeito dela, é da alçada dos romancistas . ''Trata -se evidentemente dessa objetivi– dade relativa, tal como a vemos nas grandes obras d_e Balzac ou Shakespeare. Traz consigo, e em s1 , a sua alta moralidade . Se o artista é são, como devemos esperar, bom juiz, ob– servador sagaz, filósofo e ( por que não?) teó– logo, possuidor enfim dessa vasta cultura que estamos no direito de cxigü dele, desprender– -se-á da sua pintura a lição que se desprende dos próprios acontecimentos da vida, para es– píritos maduros e cristãos . Ninguem se enga– nará: o mais generoso amor adúltero será um adultério ; o crime e o roubo enfeitados do mais belo verbo permanecerão roubo e crime. Quanto aos leitores tão desprovidos de senso moral que se enganassem nisso, prova r iam apen as que os livros não são para êles. Assim como rec'lamamos bons escrito res, por que não haveríamos de reclamar também bons leito– res? " ( Pontos de v:sta , por J. Vlas chaerst, coleção O Carrilhão) O bom leitor é aq uel e que não se coloca entre essa triste gente que julga de tudo "como se tivesse acon tec ido" ; mas sabe bem que a obra de arte não pode ter o alcance mora l que assumiria na realtdade. " Isso porque um li vro, um romance, põe em valor atos idealizados, fora da cor ren te da existência, próprias para alimentar a nossa imaginação, e não para pro– voca r uma consequen cia da mesma ordem na nossa vida ." Não sei, acrescenta Poucel no seu li vro Duma crítica católica que citamós aqui, se os moralist~~- terão jamais 1:~conhe– cido com espírito suf1c1en temente tranquilo essa indetermina ção que faz da arte, e em par ticu lar da literatura, o simbolo das realidades diver– sas as mais dis tintas, deixando ao juizo moral tão' extensa li berdade. Não se podem julgar as obras de arte como s~ _julgam as conciências." ( Poucel, Ensaios catol1cos) Li vros perigosos também os que, sem perverterem o nosso pensamento a grandes go lpe de audáci~ e de de~ re~pe ito, ou ainda, a golpes sutís de erro doutnna1s, nos anemiam sorrateiramente a alma, afrouxando as ener– gias da n?ssa vontade . quantas _ teses cuja falsidade e patente, mas as quais a histó– ria e se o Ih ida e explorada às vezes com gr~nde talento, dá_as aparên:ias da ortodo– xia! Quantos escntores mantem os seus lei– tores numa atmosfera, num " clima" tão de– bilitante pa ra o senso moral, que a alma se acha aí quasi sem defeza contra os êrros ma is pern iciosos! Mui tos outros liv ros nos ensinam de ma– neira um tanto dife ren te R "necess idade" da falta, pondo em destaque a desproporção entre o encanto das coisas pro'ibidas e as fracas pos– sibilidades da no~sa reação . Repito, concebe-se que uma mocidade alimentada por e~sa li tera– tura derrotistt em breve se abandone .. . e ne– cessàriamente se perca!

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0