Quero - 1942
u ro Não há dúvid a. A felicidade exis te nêsses la res, n1as como um dom que o nosso e fôrço faz va ler. Não a recebemo de uma vez por tôdas , tal um pr.esente imutavel e definitivo. Ela fa z parte de nós e floresce, vicej':I e es– plende de acôrdo com a capacidade interior da nossa alma. Quando se é mui to moço, tudo é harmo– nia ent1:e nós e o mundo. A alma tra nsborda de otimismo confiante e espalha sôb re tôdai as coisas a poesia mágica das suas esperanças. Com o correr dos anos, porém, esta fô rça de entusiasmo diminui. Um elemento de conflito introduz-se na vid a. "O homem , diz Romano Guardini , percebe a enorme resistência que a vida opõe ao seu esf5 rço. Avalia como é ex– cepcional o êxito de um a creatura que conse– gue ser o que quere ri a e deveria ser.'' Muitos desa nimam de antemão, fech am os olh os às responsabilidades e deix am-se levar ao sabo r dos di as e cios aco ntecimentos-crean·ças gra n– des, voluntariamente arordoada ; ou tros, ao contrário enfrentam a vida, dispostos a lutar para ven 1 cê- la. Nessa luta atiram -se de corpo e alma, e absortos, empolgados, endurecem-se na continuidade da preocupação. Conhecemos muitas daquel as almai em que a fe licidade não tem temp~ de deixar raize penetrantes ta l o tropel de prazeres e de futilid ade,s em que vi– vem . . Conhecemos outras, lambem, que, no pensamento constante, min~~ioso, exa us tivo d.o esfôrço e da realização pratica, P.arecem b~nir para longe de s i a presença bendita e suaviza– dora da alegria. Ora essa disposi ção de espírito é preci– samente funesta à vida da família . Não sentimos já, algumas vezes, a im– pressão desagradavel de frio, produz ida por certos ambi e ntes fam iliares? O chefe da famí– li a abso rve-se no trabalho profissional como se fora dele não houvesse desejos nem aspi– rações legítimas. A mãe de vela-se em casa; organiza, dirige, inspeciona os _seus domíni.os , preocupa-se com o bem est 4r f1s1co e material da fa míli a concienciosamente desempenha as suas funções de ed ucadora e conselheira . E111- bo ra nobre e e levada , a convivência ne -se lar tem qualquer coisa de duro e fornJal, que ex– clui a verdadeira intimidade. Muita egurança, 15 J. F. C. B . Belém-Pará- Brasil ' .. muita estabilidade, absoluta sinceridade, mas, tão raro um laivo de fantasia, um pouco de imprevisto, o transbordamento precioso da ventura ! 1 Faltam acaso a tais famílias os elementos essenciais da felicidade? Não; apenas, por uma errónea concepção da vida não sabe faz ~- los valer. Desempenham-se da vida famili ar como de uma tarefa , sem perceber a íntima rea li– dade . Dir-se- ia, a julgar pelo seu exemplo. que a famí lia se reduz a produ zir com a maior conciência e perseverança possíve l, o máximo de esfôrço no domínio pedagóg ico e moral. Para elas a família constitui um a espécie de emprêsa, de finalid ade mora l, um princípio subordinado, nunca " um mundo repousando em si mesmo", e tudo que no convívio fami– liar não serve diretame nte a finalidade educa– tiva e moral , tod o o acessório do carinho e da poesia, desprezam como fanttts ia incompa– tível com a seriedade da vida . Mas, então, revo lta-se, decepcionada a mocid ade; é isso o amor depois de alguns ano de casamento? É essa à realidade da vida fa– miliar? 'Longe de mim menosprezar a inegavel nobreza das existências voluntariamente labo– riosas. Sem o esfôrço positivo, paciente, per– seve ran te, ten az, a mis ão da fa mília não po– deri a nunca ser uma vitória . Reduzi -la, porém, ' ao simples critério da utilidade, mesmo supe– r ior, é desco nh ecer-lhe o carater profundo e prov iden::ial. A famflia humana, formada por Deus, tem, a par das suas finalidades pedagógicas e morais, um a significação profunda, uma vidn interi or que deve ser, como tudo que Deu s determ in a, tôda feita ·· de beleza , de libe r dad (! e de santa alegria ." Vida íntima, que é a alma da vocação familiar e que repre enta no mun do da re lações humana o que o comércio in te– rior com D€us, acima de tôda a finalid ade prática, representa na vida espiritual.
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