Quero - 1941

E' por isso que não nos es– conderemos atraz da desculpa banal: " Eu faria isso, se tivesse mais vontade." Invertamos os termos : "Eu terej uma vontade mais forte quando amar o meu dever, quando me c0nvencer de sua imp·ortância para mim e para os que me são caros.'' Depreende-se daqui a fôrça do . cristão. ü cristão, porque ama Jesus Cristo que lhe pede que obs~rve a or~em de seu Pai, tera vontade de lhe obede- , cer, seja embora à custa de um sacrifício . Jesus ante nossos olhos, jesus no no so coração , torn a-se, naturalmente, o polo para o qual nos dirigiremos. Ouço a objecção : Nã o se trata , apenas, de fazer unrn es– côlh a, de preferir, o que , com efeito, é questão de julgame nto . A obra própria d a vontade é ex ec ut a r e nesse ponto não nos paraliza o horro dificultatis? Quem não desejaria ser vir– tuoso? Sim , amamo-10 e pºas- samos ao h1do dÊle ! Jesus , nós O amamos e O traímos. Não é isto uma falta · de von– tade? Já o poeta latino "via. e apro– vava o melhor e se entregava ao p ior." S_ão Paulo pronunci a iguai,; queixas numa passagem céle– bre da Epís 1 ola aos Romanos ( ca~. 7) torn·ada conhec_ida pela parafrase de Racine: "Meu Daus I Que lula cruel, Em mim se acham dois homans" "Dois homens que conheço bem" - gemia Luís XIV. Quero, e não realizo; Quero, mas - oh I extrema miséria 1 Hão lato o bem· que amo O sim o mal que odeio 5 O título que o poeta deu a seu cântico, "Queixas de um cristão sôbre as contradições que experimenta dentro de si" , indica, pelo menos . que o dis– cípulo de Jes us Cristo não é a vít ima fatal da luta: experi– mentar não é cair. O cristão, na linguagem de S . Paulo, é o homem espiri– tual "em quem habita o Espí– rito de Deus '', de que êle fala no capítulo seguinte da mesma epistola , ou " o homem novo" da epístola aos Efésios. Pelo contrário, o homem que, pela rl:lzão, saboreia a lei de Deus ~ que na sua carne se sente escravo do pecado, é o que ainda não se regenerou . Jesu s Cristo nos libertou da tirania do pecado. Isso não qu·er dizer que não sintamos a atracção do mal e que não possamos cair, infe– li zmente. Entretanto, no ins– tante , em que o pecador cede à tentação, não detesta mais o mal. Detestava-o qu an do antes de agir, pezava a malícia do acto pro'ibido. Cometeu-o, porque voltou a amar o mal. Um cris– tão não pode, aó mesmo tempo, amar o bem e fazer o mal. Que êle continue a imaginar a feal – dade do pecado, que considere, principalmente, a beleza do bem posto a sua e côlha, sem dú– vida, fará o Bem, que ama, e repelirá o mal q ue detesta . Êste dualismo, que nenhum de nós ignora, prova simples– mente que a nossa vontade é inconstante, que varia segundo a influências que agem sôbre ela , para eguir a que, no mo– mento da acção, for prepon– derante. Estejamos atentos a estas intermitências: constituem uma fraqueza, não urna fata – lidade . Qual de nossas facul- J. F. C . B. Be~ém- Pará- Brasil dades se exerce ~em parar? A nossa atenção nunca está distraída? a nossa· memória não tem lacunas? A ·nossa vontade, da mesma forma , não é contínua ; falha , tamb~m . É preciso, por isso, vigiar seus reinícios. É preciso, de novo , ajustar- lhe as molas e orienta- la. Não podemos diri– gi-la de uma vez para sempre ; é necessário corrigi-la desde que a sua direcção nos escapa. Este trabalho de rea justamento é sempre um trabalho do es– pírito, que o amor torna facil. . A experiência nos ensina, melhor que todos os raciocí– nios. Seremos tanto mais for– tes quanto mais depressa afas– tai-mos de nosso espírito o pen– samento do mal. Não e pere– mos que o pensamento tome a forma de um desejo, para reagirmos : o desejo asseme– lha-se à vontade.- Quando se deseja o mal, a vontade se prende ao mal, e arriscamo– -nos a deplorar em breve a fraqueza . É preciso não dar tempo ao pensamento do mal de se tornar um desejo. Se consideramos o mal , se o ima– ginamos tão somente, amolece– mos a nossa vontade . Nosso Se nhor co locava já no olhar o adultério. Para não cairmos no pecado, não devemos nem olha- lo. Sob esta condição, a vontade conserva-se intacta , não enfraquece. E se, além de afastarmo o nos o pensamento do mal entrevisto, o dirigimos para No so Senhor, se tornar– mos a c tu ai os !ientimento sinceros de no so cornção para com Ele, a nossa vontade ficará invencivel. Quando Jesus no pergunta: "queres?" nenhum de nós tem coragem de Lhe dizer NÃO.

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