Quero - 1941

6 ~............,,, ........ ...,.....,,. ........ ~ história do judeu errante. Nin- __,, guem s abia contar como ela! Até gente grande ficava embas– bacada! T ambém, não tinha sido atôa que ela estivera dois anos inteiros na a•Jla de leitura 1 "Quando N. Senhor pediu pa ra descan ça r , no caminho da via sácra , o judeu negou... E N . Senho r, então, rogou uma praga . .. " assim relatava Nhá Maroca, com inabalavel segu– ran ça. "E desde então, o judeu anda. . . anda . . . pelos séculos sem séculos .. . E os esqueletos se levantaram e disseram ao judeu: a nda ... anda . . . pelos séculos sem séculos. E a mu– lher dêle, qua ndo êle chegou a casa , deu-lhe as sandálias e o bord ão e disse : anda , anda, pe los sécul os sem séculos . .. E a fo me e a peste e o sarampo cami nh am com êle, pelos sé– culos sem sécul os . . ." Dolen te, mis te ri osa, a voz de Nhá Maroca hipno ti zava a pe– que nad a, es tirando diante de sua imagin ação aquele rôr de tempo ... 1 odos es tava m escutand o . .. Todos ? Quando Nh á Ma roca ia fec ha r a porta da igre ja viu um vul tozinho ajoe lh ado , imo– vel, diante da imagem de N . Senhora ... - O h ! Joa ninha! Vem da í ! Os moleques gritaram : Sai , rezadeira! Uma pequenita levanto u-se . Veio, ca lmamente. Ela prefe– ria rezar a ouvir aquela h is tória: não lhe achava graça nenhuma. - Beata! Vaiavam os mole– ques. Joaninha passou, indiferente. - "Bênça, Nhá Ma roca!'' -"Deus te faça uma santa, joaninha!'' Êste ano, a festa ia ser de arromba. Desde ontem, o pre– gador estava no lugar. Che– ga ra no sábado. Tinha rezado Missa e feito muitos baptiza– dos. Mas, Joaninha, só hoje, domingo, é que viera à igreja. Domingo muito azul no ceu, muito garrido no arraial com alegria à farta na música de Mestre Simplício-que nin– guem rege como êle ! - c1legria para dar e vender nas bandei– rol as das barracas e no sino– zinho muito esganiçado que só tem aquela sílaba: bim, bim, bim, bim ! . . . · Lá está joaninha no banco das crianças, porque el<l só tem 12 anos ; e parece que tem apenas 8 , tão franzina e, sobre– tud o, tão ingénua e pura! E Nhá Maroca , de fita larga ve rme lh a, no peito, porque é ze ladora graduada no "Apos– to lado", f a Ia n d o corno uma gralha, com a desen voltura de quem se se nte em su a casa, também está na capel a, na sua capela, ora essa ! J . f. C. B. Belém-Pa rã-Brasil Quando o pregador come– çou a falar, a um público nu– meroso de forasteiros, os olha– res fixos n-.> padre revelavam a respeitosa atenção. E o pa– dre dizia: " . .. Está alguem no meio de vós, que vós não co– nheceis .. . Nhá Maroca, aproveitando uma pausa do sermão. segre– dou para a vizinha: 1 'Não é de caugar espanto! Veio tanta gente de fora!" Mas, as palavras do prega– dor começaram a despista-la. Devia ser outro assunto. .. Êle, agora, dizia, com simplicidade: " Na nossa capela, há hoje, alguma coisa diferente . . . " E sua vn tinha uma vibração de íntima alegria. Nhá Maroca. a-pesar de sua modéstia, imc1ginou-se o alvo daquela frase francamente aoro– bativa. E segredou, . de novo, para a vizinha: "Há-de ser o manto novo que eu fiz para N. Senhora e em que êle já reparou ..." O pregador, porém, parecia empenhado em zombar da ar– gúcia de i~há Maroca: eis que apontava, não para a imagem em seu nicho florido e enl aça– rotado , mas para o peque 11 o copo vermelho , ao lado do al– tar, em que luzia uma chama– zinha irrequieta . E s ôbre es s a chamazinha, quantas coisas belas não disse êle ! E sôbre o tJbernáculo, de ( Conclui na página 16 )

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