Quero - 1941
1 t no decorrer dêstes dias festivos do Natal, muitos presépios; vi muitos Meninos Jesus, formosos, sorridentes, dé braço s ex tend idos e mãozinhas abertas, num generoso dom de s i mesmo. E' lindo o divino Infante, abrindo os bra– cinhos ao mundo, para sôbre o _mundo os fechar, depo is, num abraço de amor ... Mas, houve, entre êsses Menin.os, um que me falou, fundamente, ao coração: não entregava as mãos, não olhava pastores nem anjos, com os meigos olhos cerúleos; apoiava a cabecinha loura sôbre os braços, como num travesseiro, tinha os olhos cerrados-dormia. Não, no re– gaço da Virgem, nem nas palh inhas da man– gedoura; seu fragil corpo recemnascido, coberto apena~ por um retalho côr de rosa, reclina– va-se, tangue, sõbre uma cruz. Dormia e sorria ... E ante aque le dormir tranquilo, cujos sonhos inocentes se debuxavam no sorriso.– eu int~rrompí a Av~-Maria para pensar na lição do Menino Jesus . Divino Menino, extraordinária Criança, que, ao nascer, trouxeste à noite do pecado o vivo sol da esperança, como podes tu dor– mir, Jesus , assim calmo, assim feliz, se an– tevês o drama do Calvário?! Como podes sorrir na luminosa noite de Natal, quando a tua omniciência conhece, já, as trevas de Sexta- -feira Santa 7 ! E a resposta vem logo: '"E' que me aban– donei à Vontade de meu Pai." · 19 J. f. C. B. Belém-Pará- Brasil Sim, Jesus , é êsse abandôno, essa con– fiança sem limites que faz o ·milagre de não sentires no berço do Natal a Cruz do Gólgotha, de não recuares ante a tragédia de amanhã, que projecta a sua sombra sôbre a bucólica _de hoje... Vives o momento pres ente e en– tregas o futuro nas mãos do Pai. E a lição prática se desprende do pre– sépio para a nossa vida : qúando as apreen– sões de angústia e martírio se desenrolarem ao pensamento, numa via sacra, que teremos de percorrer, quando um supremo sacrifício cruzar no alto do nosso calvário os seus ne– gros e pezados madeiros, ao fremirmos, co– bardes, ante um ameaçador" "como será?" - lembrêmo-nos do sôno do Menino Jesus no presépio! Confiemos em Deus, durmamos em Deus, e o nosso abandôno filial nos alcançará a protecção de um Pai. Recostêmo- nos à nossa Cruz; dela, mesrrio. nos virá a fôrça que ela vai beber no sangue de Cristo. Divino Infante, que:: de lições ho . teu pre– sépio I Ao ver-te, desaparecem, ao olhos da nossa fé, os mil brincos e enfeites, com que a infantilidade da imaginação adorna a tua lapa; ficas só tu a prender o nosso olhar e a nossa alma, tu, só, Verbo feito carne, Amor feito hóstia, dormindo, pequenino, na concha da mangedoura e sonhando, embevecido, com o _drama da Paixão, que a tua confiança ab– soluta não receia, e que a tua ternura sem par envolve nos mesmos enlêvos e na mesma se– renidade da noite branca e harmoniosa do Natal 1
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