Quero - 1941

" Q M vtz. do exagêro de riquezas de certos Q) templos, seria bem mais cristão dar aos pobres o dinheiro aí empregado"-foi conversa que ouvi, uma vez, de alguem que calculava a pompa bizantina de nossa basílica. É, ainda, a mesma cen_sura de Judas, o tezoureiro do co légio apostól ico, diante do gesto generoso e reverente, de humilde adoração e desinteressado amor de Madalena, a penitente. E poderiamos responde r o que Jesus res– pondeu, ao receber, acolhedor, a efusão de pre– cioso nardo: "Praticou uma boa acção; po– bres, sempr.e os tendes convosco ; a mim po– rém, líem sempre me tendes ." Nunca se está tirando aos pobres o que se dá a Deus . Não pode remos, jamais, extin– guir a pobreza de sôbre a terra. Não o lamen- . têmos, desmedidamente. A pobreza não é im- · peci lho à salvação eterna - único fim deseja– vel. A pobreza visível é a voz mais poderosa a avisar os ricos de espírito da vaidade das riquezas e honrarias. E os pobres voluntários são, ainda , a voz mais comovente a pedir ao Senhor o perdão para os que se apegam ae,s be:1s efémeros e caducos. "Dama P.obreza", dos místicos esponsais com S. Francisco de Assis, enche a terra de milagres de alegria, de santidade e de paz. São bem-aventrados os pobres .. . Não os socorreremos?! Sim... Mas há mui to com que os aliviar, sem diminuir os esp lendores dos templos daquele Deus, que, por estar eucarísticamente oculto, não abdicou nunca do título de Rei e não hesitou em apa– recer, diante de seus apóstolos p'redilectos, aureolado com as diamantinas ·claridades do monte Tabor. . A magnificência das igrejas é a exterio- rização de nossa fé, que deve ser forte, alegre, ri_ca, pujante e vitoriosa. São povos de pouca fe os que não tratam os seus tabernáculos como a sacrários nunca bastante aformosea– dos, nem seus altares como a simbólica pedra, que representa o próprio Filho de Deus . Além dêste acto de adoração, a pompa de nossas igrejas é, ainda, profundamente psi– cológica . As artes elevam o espírito a subli– mes pináculos. As alegrias diante do Belo são profundas. Quando a policromia da pintura, 17 HELENA SOUSA I J . f. C. B Belém- Pará Brasil Santo, santo, Santo é oSen~or ! os vôos da escultura, a ousadia inspirada da arquitectura e a linguagem possante do órgão se aliam num hino de louvor, dentro de nos– sas naves, quando tudo que é alto e puro pa– rece rezar connosco nos surtos líricos da Arte– ah ! "nossa alma ao ceu se remonta" , saudosa da Beleza increada e eterna, palidamente re– flectida em nossos limitados ensaios humanos ! Como saímos fortalecidos e alegres de um acto litúrgico, onde o esplendor s e aliou à piedade, onde a nossa fé vislumbrou a di– vindade e onde a nossa pequenez e pobreza entreviram a riqueza e a imensidade do seio de Deus! Os próprios textos da Igreja, seus ritos, tôda a sua liturgia, erguendo-nos acima do mesquinho, do contingente, do passageiro, para nos falarem a suntuosa língua da Eter– nidade, parecem exigir um quadro magestoso, onde os nossos s entidos vão apreender sim– bólicas lições de grandeza, de perenidade e de consoladora saciedade. Pouco tempo teremos, entre nós , o Deus– -Eucaristia, porque poucos são os anos de nossa vida terrena . Enquanto aqui estamos, neste mundo, que é degrau para o céu, cer– quemos os nossos sacrários do mais esplen– dente ouro-, das pérolas de máis exquisito oriente, das mais cintilantes gemas. Serão sempre pequenas e apagadas as nossas pe– drarias e engastes para o Deus q ue, tendo o sol, o fogo e as estrêlas, veio, p~r incom– preensível amor, ence~rar- se na opacidade hu– míl ima do trigo de nossos campos. "Digno é o Cordei ro imolado de receber poà er, riqueza , s abedoria, fort al ez<l, honra, glória e louvo r !" ( Apoc.)

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