Quero - 1941
• rf J . f. C. B . '1 U e ~ 0 S _ Belém-Pa~Br;;il ~._,,,.~--~~~~~ <J\'.íATAL, Ano Bom! . . . J '\ Época dos narizinhos colados às vitrinas, des– pegados a cuslo, deixando em sua passagem, pequenos círculos embaciados que se evaporam pouco a pouco, como sonhos desfeitos . . . Legiões dêles desfilam , Rum f1 u x o e r e fl u x o d e s o r d e– nado, ostentando tôdas as tonalidades de pele, desde o alvinho, sob cabelos lou– ros e o Ih os claros, até o pretinho, que vem logo abaixo de um par_de pupilas prega– das em refulgentes halos brancos, traço de separação entre olhos à flor do rosto parecendo querer ir ao en~ centro dos pbjectos que c~n- templam. - A escala de tons varia a~ infinito e a forma também d:sigualdades que se justa: poem à outra, aquela que separa por um vidro de vi– trina as crianças que acalen– tam desejos, das que apalpam a realização dos seus .. . Sem– blantes diferentes agrupam-se em frente aos mostruârios unidos num mesmo senti: menta de admiração e anhelo. A.ssim sonhou, e sonha Jesus vê-las reunidas em volta d~ berço, as crianças de tôdas as latitudes . Também tle, 0 Deus Menino acaricia dese– jos que não são satisfeitos . . . Para essa gente miuda que anda às sôltas, labutando ou perambulando nas artérias da cidade, cuja mentalidade é amoldada pelos incidentes quotidianos da rua, -Natal s i– gnifica uma quadra do ano em que se goza com os olhos e se sentem cócegas nas mãos . . . objectos de cobiças latentes revestem em seme– lhante ocasião especial fu l– gor, tomam um ar de cons- piração! · Lar, aconchêgo de família, são bens que poucos, prova– velmente, possúem . Alguns mais sensiveis ou menos 'ca– lejados sofrerão dessa ~a~ên– cia e, quem sabe, instm_t1va– mente procurarão remedia-la, substituindo os laços que lhes faltam pelos da comunida~e cristã . 1 rão, talvez , à igreJa do bairro assistirão à missa ' do galo, na madrugada nov_a, visitarão o presépio que, nao perte.ncendo a um só dono, pertence-lhes um pouco. A sensação de desamparo ce– derâ · então lugar a uma con– soladora impressão de pro– priedade . Nesse 1ecinto de paz recolhida, êles sentirão, enfim, uma Presença. E as velas jogarão reflexos doura– dos, bruscas 1ambedelas de luz nos rostinhos pensativos . Lá fora, a calçada os es– pera . Dura ou materna, como a natureza, ela ampara a pe– quenad-a, pingentes ca'idos de tudo que tem rodas, garotos desempenados da grande me- o --- e. G. trópole, que não raro aliam a um conhecimento precoce e rude da vida um fundo in– tacto de ingenuidade, um bom natural rico em reservas,
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