Quero - 1940

O ideal na vida do ho– mem assemelha-se em função às asas de um pássaro. Se o ideal é elevado, o vôo é aé– reo. Se êle é mesqui– nho, o vôo é rasteiro. Talvez seja d isso– nante o falarmos de um ideal mesquinho. Pa– rece que e_stas duas pa– vras nunca deveriam andar juntas. E até mesmo o facto de sem– pre, quando ouvimos falar em ideal, maqui– na 1 mente olharmo s . para o alto, pensarmos em beleza, antevermos e antego~armos algo de nobre e edificante nêle, nos indispõe a pensar e a acreditar num ideal menos ele– vado e menos belo. Infelizmente, não é assim. Há o ideal mes– quinho, sem librações de altanaria, terreno, que se confunde com a poeira dos caminhos. O arrivista, como o santo, possui um ideal. Neste, êle tem as asas do magestoso condor; naquele, as asas pe– sadas do palmípede. Um vôa nas alturas puríssimas do azul ce– lestial; o outro, bafe– jado e sa tu rad o das imundícies do ar ter– reno. O ideal está para o homem como o per– fume para a flor. Se a esta falta-lhe aroma, pob rezinha dela ! Êle vive, e, vivendo, luta, pois que a vida é uma batalha, porém, lhe falta para a luta e para a vida, a essência sua– víssima do ideal. O ideal é necessário para a vida do homem. Terreno, embora. O contrário é o que pro- 12 duz os fracassados em tudo , a escória hu– mana, os .sem espe– rança na terra e os de– sesperançados do céu. Odiemos a falta de idealismo. Não sejam nossos amigos os não id ea list1s, senão para lh es incutirmos um ideal. Êles produzem os inactivos . Formam a legião daquel_es a quem a humanidade tôda pode diz~r : Vade retro, Satana / O ideal mais puro e mais elevado é aquele J. f. C: B . Belém-Pará-Brasil que mais se aproxima do espírito, ou, maior ainda, que_está além do espírito. O ideal a que nós chamamos de mesquinho, senâo um ideal; o é, porém, da· . vontade, dÕ desejo, da ambição. A função nêle, do espír ito, é a de ser parte integrante de qualquer acto do homem. Naçla mais e nada menos. . O ideal do belo, nas artes, é o ideal pura– ' mente do espírito . Há um, porém, que ultrapas·sa todos os outros: o ideal divino . Podem a razão, a in– teligência e a vontade coo,perar com ~te, mas são· acessórias . A fé é . a vida dêsse ideal. O. sobrenatural é o seu objectivo. Gigante ·voador de alturas, senhor de asas de envergadura tit â– nica, ma ior dilatador do es pi ri to humano, é êsse idea l três vezes s ublime, por sua vida, por suas obras, por seu fim.

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