Quero - 1940

' "'?\ E pé, no ~ meio da pequena sala, pompo– samente rot u– V1 as lada de secretariado, Maria do Carmo - a secretária da paróquia - meneia a cabeça, com um ar pr eo cupado. Tem nas mãos uma papelada volumosa, livros e rev istas ... l 1 J. F. C. B. BELÉM- PARÁ decidiu-se! Pacientemente, dividiu cada coisa por categoria; numa prateleira, havia tantos vãos entre os li vros que estavam "brigando" com o enorme vidro de tinta! Noutra, eram os albuns que devi am estar deitados: assim, que diferença! E para quê guardar _rasc~nhos de arti gos já publicados e tantos Jorn ai s de que só interessa um peque recorte?! Maria do Carmo parece uma traça ... "D es a tt rc u m a d a s". .. Maria do Carmo, que é secretária, bi– bliotecária e arquivista, tem de g uarda r no armário estreito, a travessado no canto da sala, aq ueles papeis, aq ueles li vros e aquelas re– vistas. A porta do armário está aberta e, ao olhar para as prateleiras, Maria do Carmo mu r 111 u ra, meio desanimada, meio mal-lrn– morada: - Não sei fazer milagres! Não cabe uma folha de "aé reo" nesta estante. . . e hei-de meter tudo isto lá dentro?! Parece um bonde da Pedreira ao meio dia! De facto, o pequeno armário, qu e não conhecia -como Mar ia do Carmo, parece...- ª pro'ibição de acum ul ar e111prêgos, era a mi– niatura de um ministério: fô lh as de inscrição, de tezouraria , livros de técnica da Acção Ca– tólica, revistas, gráficos, carteiras ele sócias, boleti11s, exemplares do côro fa lado, a lbuns de fotografias, cadernos ele cânticos, rolos de papel de mú sica, v id ro de tinta, papel de correspondênc ia- uff ! quanta coi a se acoto– ·vclava naquelas prateleiras! Mas, olhando mais atentamente, Maria 0 do Carmo começou a sentir uma pontinha de responsabi lid ade ... e a pontinha foi crescendo .. . -Também - murmurou mais mansa - o meu pobre armário está muito desarrumado... Deu um suspiro para ganhar coragem e E tudo vai ficando largo, claro, espaçoso•.• Ao fim de uma hora bem suada, Maria do Carmo termina o trabalho com uma irre– primível exclamação : - Mas é possível?! Até parece milagre! A sua papelada volumosa, os seus li– vros, as suas revistas, para os quais ela não achara lugar no "bonde" repleto, estão c_omo– damente ins talados , ao lado de outros ltvros, outras revistas, outros papeis .. . Maria do Carmo, que pelo visto gosta de pensar "sincronizado", está outra vez me– neando a cabeça, meditativa... E passados uns instantes de cogitação, ela pensa alto: - Assim é muita gente: quando se fala t!m meterem no programa de vida uma hora para a Acção Católica, uma hora por semana, dizem logo: "não tenho tempo, não cabe nem mais um alfinete no meu dia." E quanta ocupação inutil enche às vezes êsse dia! Quanta coisa que parece impossivel - um milagre - se faz e se consegue quando a o·ente oruaniza a vida, a submete a uma dis- º o ciplina ! Como sobra tempo, até, quando . a gente corta o que é sem importância e sem urgência! A questão - concluiu Maria do Carmo olhando o armário "miraculosamente" aumentado - é "arrumar" os dias . Armá rios desarrumados ficam pequeninos, inuteis - v:– das "desarrumadas", também ... \. ......

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0