Quero - 1940

Coisas ijlle se ~eram ~orante a lf\ UANDO Maria do Carmo entrou em casa ~ de Hélia, a chou- a sentada à secretária, mordendo a extremidad e do lápis, com um ar de quem ru mi na fu nd os pensamentos , e com os olhos vagos de q uem está perdido "no mundo da lua" . Maria do Carmo deu um a gos tosa gar– galhada: não era há b ito a irreq ui eta d a Hé lia fi car naquelas posições med itativas ... - Allô, menina, estás pensand o na mo rte da bezêrra? Ou estás fazendo ca stelos no ar? Hélia não respondeu. E, Maria do Ca rmo, olhando melho r, viu que os o lhos da am iga estavam cheios de lágrimas. Logo s eu co ração se alvoroçou. - Que tens? - pergun tou aflita. Hélia suspirou e respondeu , t riste : -Estava recordando o que se deu ontem, comigo, o que ouvi .. . -O que ouviste de ti?! Não faças caso ! Que podem dizer de mal? - Não, não é isso. Foi assim: ontem , eu estava me preparando para sair, pela ma– nhã , às 8 horas, para ir dar aquela lição das terças-feiras . .. -Às Lopes? - Sim. E quando 1a ia descendo a es- cada, apareceu-me uma mocinha que me trazia um recado da Zilda. - A que recebeu distintivo em outubro último? - Essa. Há muito, ela não vem ao C ír– culo. Fiquei tôda contente, por ter notícias dela. Mas imagina que ... - Está doente? - Ouve, primeiro. A mocinha trazia um dinheiro áe revistas e eu conversei um pou– quinho sôbre a Zilda. Perguntei por que ela não tem aparecido. Então explicou que . . . - Não tem tempo, já se sabe. - É. Ensina pela manhã e à tarde. " Mas não haverá meio de se arranjar uma horazi– nha, por semana?'' - indaguei. A moça disse– -me que era impossivel ! E acrescentou: ela tem d e traba lha r muito para a família; tra– balha tanto qu e o médico já disse que é de- 8 J. f. C . B. BELEM - PARÁ CAMPANHA PA CA mais, que tud o que ela está sentindo é do excesso de fra ba lho e qu e ela tem de de ixar as au las da ta rde. -Aí es tá ! - Sabes o que eu pens ei, imedi ata mente ? - Ora se sei! O mesmo que eu es tou pt:n - sando : não se tira uma ho ra para traba lh ar para N. Senhor, para a Igreja, porque foz fa lta o que se deixa de gan'1ar, e quando a saüde se arruina tiram-se semanas e mês es inteiros ao rendimento familiar. - Foi ta l q ua l o que me veio à cabeça . Uma hora perde-s e tão faci lmente : a inda no sá bado passado a chuva torrencia l me prendeu 65 minutos numa loja . . . - E o mund o não deix o u de rod a r por causa disso .. . - Já s e vê. Nem eu de d a r conta do meu recado. - E ficast e triste por vêr o d es in teresse dessa sócia ? - Não foi só. À tarde saí para os convi– tes paroquiais. Bati numa porta. Chov ia a câ n– taros . Minha companheira e eu e s távamos u~s pintos molhados . Qu em nos ab riu a porta ,, foi uma pessoa que não me pareceu desco– nh eci da ... - A gente tem v isto ta nta s caras novas nês tes dia s . .. - É verda de. Puxei pe la memó ria e, d e re pen te, lembrei-me ! - Era a moça do recado da Zi lda . - Es tás adi vinh and o ! Fiquei, de no vo, alegre. "E' aqu i que mo ra a Zilda" ? - per – gunte i, já antegoza nd o uma boa p ros inha. - Eu te con heço, taga rela. - Ora, bem q ue a gente " conqui s ta" , quando se conve rsa com ge ito. - Reconqu is taste a Zilda? - Não caçôes ! Não estava em casa ! -Ah! - Sabes o q ue me disse a ta l moça? - Tanto não adiv inho. ( Conclui na página 15) l

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