Quero - 1939
' • nem outras quaisquer em que figure o menino Jesus. Tratemos apenas do que é propriamente a scena da natividade. Faço apenas uma excepção para a mais an– tiga figura de Maria que se conheça, a das ca– tacumbas de Priscilla, em que aparece o pro– feta !saias v11ticinando o nascimento do Messias. Maria tem o menino nos braços e sôbre sua ca– beça há uma estrêla de oito pontas. Deante dela o profeta, com o braço estendido, parece dizer: "E sairá uma vara do tronco de jessé e uma flor brotará de sua raiz." Entretanto, nos primeiros séculos, a ado– ração dos magos era assunto preferido pelos artistas ao Natal de Jesus. E' do quarto ao sexto século que aparece figurada a Natividade, sobretudo nos mosaicos: a pintura p:1ra a eternidade. Interessante é notar que na arte primeva o menino Jesus era sempre enfaixado. O bur– rinho e o boi quasi nunca faltam. Maria em geral está sentada, como abatida. Raramente aparece S. josé e sua ausencia não deixa de ter uma significação simbólica e dogmáti::a. No sexto sécul0, a influencia bisantina vem tirar muita graça à pintura, com suas figuras estereotipadas, às vezes até ridículas. S. josé, ou por simbolismo ou ainda por influencia dos falsos evangelhos, aparece como um velho venerando ... Pobre S. josé! Até hoje os artistas raramente corrigem êsse êrro con– trário à tradição católica. Há uma particularidade nas pinturas bi– · antinas: a estrêla, que anunciara a aurora da Redenção e que apontava agora uma nova au– rora de Redenção para as belas artes. Com o advento de Carlos Magno e os francos, a península itálica começou a gozar de uma paz relativa , mas o feudalismo com ua_s lutas e guerrilhas fazia ainda com que a moci– dade se ocupasse mais com as armas do que com as artes. Só alguns séculos mais tarde, após as con– quistas sociais das comunas, com a consequente emulação entre as várias cidades; após as aven– turas guerreiras das cruzadas, aureoladas de fé e de poesia, ca11tadas junto às canções amo– rosas, pelos trovadores que começaram a pu– lular ; com a renovação espiritual devida a S. francisco de Assis e a S. Domingos de Gusmão, com suas duas grandes ordens monásticas e o nascer da língua italiana, é que veiu efervescer a vida cultural e o renovar das artes. 7 J. F. C. B. BELEM - PARÁ A arquitectura obtivera uma grande con– quista com o afirmar-se do estilo gótico. Este dispunha nas igrejas de mais lugar para as pin– turas, as artes começam a se emular traba– lhando tôdas juntas na construção das grandes catedrais. Cimabue e Duccio, os dois grandes chefes das escolas florentina e de Siena, começam a romper com a rigidez bisantina. O povo então se interessava pelos artistas: contam de Duccio que foi levado em triunfo no dia da inaugu– ração de uma sua Madona com o Menino, a quem êle dera uma expressão até então ainda não obtida. E os artistas se interessavam pelo proprio lavor... Spinello imaginou um demó– nio tão horrivelmente feio para um quadro de S. Miguel e ficou tão preocupado com a sua execução e pôs nela tôda a sua atenção, de modo que a imagem do maldito o perseguiu tanto que perdeu o sono e o apetite, endoideceu e... morreu. Será lenda, talvez, porque êle tinha já 92 ar.os ... O tempo de ouro para a Natividade na arte comeca no século XV. O beâto Angélico, Benozzo Gozzoli, Genttl de Fabriano com seus "nataes" dulcíssimos e luminosos, Filippino Lippe, Botticelli e Peru– gino ... Que enca nto se pudéssemos passar um por um os qu t dros dos grandes mestres, inexau◄ ri veis na inspiração, na graça e no colorido! Isso vem provar qu:!, se o renascimento era cm grande parte um movimento pagão, o cristianismo tinha penetrado demais na alma do povo para ficar de lado e deixar de ser o que sempre foi: o grande inspirador das belas artes. O menino jesus vae-se tornando de novo cada vez mais humano. Em Raphael tem a cul– rninancia da graça, mas nem sempre nos lem– bramos que aquele menino é Deus. Leonardo, Andrea dei Sarro, Barroccio, Guido Reni, Dolci, Gherardo, chamado "o das noites", têm como assunto predilecto o Natal ... Mas eu me torno enfadonho ... em citar tantos nomes. E só falei de · alguns artistas ita– lianos . .. E a escola flamenga e os alemães, os franceses, os hespanhois e ingleses-;, E' que não consigo exprimir-me sem repetições. E' o Me– nino Jesus em tôdas posições e maneiras. Mas a arte já declina.. . e parece que o me– nino jesus se entristece com isso. Nos pintores primitivos êle aparecia quasi
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