Quero - 1939

22 -~....,,....,~------- para puxarem a barca. ~trelaram-nos duas· a duas a uns cintos e puxamos tanto que conse- guimos desencalhar a barca. . Espectáculo extraordinário, que .muitos ~e Montréal poderiam ter contemplado: cinco Irmas "Grises" atreladas! Não é uma scena pouco comum? . Desde êsse dia, começámos a vêr o perigo sem empalidecer e umas irmãs chegaram mesmo a gostar de pular êsses "rápidos". A 13 de Agosto, chegámos ~o l~go de At~a– baska . Aí fômos objecto de cunostdade, os 10- dígenas julgavam-nos difer~ntes dos outros mortais. Pensavam que podiamos confessar. pelo menos as mulheres, que podia~os ~eleb~a~ e ajoelhavam-se pedindo a 11ossa be~çao. Dias depois cor>tinuamos a viagem pelo no dos Es– cravos, abandonando o lago Athabaska e pene– trando num mundo novo. Não víamos mais ro– chedos, nem marge:ns escarpadas, somente _uma superfície imensa de agua, transborda ndo silen– ciosamente entre as grandes árvores da ~oresta. Os dias pareciam curtos no meio de tanta ma– gnificencia. Os selvagens, impacientes por nos verem , tinham vindo ao nosso encootro com grande alegria. No dia seguinte reünimo-nos.em casa__do patriarca Beaulieu, um mestiço que ttnha atraido as simpatias daquêle povo, pela sua bondade. Foi com viva emoção que vimos essa pobre gente assistir à Missa na sua pequena ~apela, com um devoto recolhimento. A seu pedido, ~s Irmãs cantaram e ê!es retribuiram fazendo ouvir um canto em sua própria Jingua, bem afinado e cheio de magnífica harmonia . A A-pesar do desejo de perma_necer ~esse aprazível lugar, tivemos de prosseguir. Andam_os ainda duas noites e dois dias até encontrarmos .º Pe. Gascon que parecia não poder crer na r_eal_ 1- dade de nossa presença, tão vivamente ~es~1ada . Para a última etapa, pussemo-nos iubilosa: mente a caminho. Ventanias e chuvas ainda nos perseguiram até que vimos a bandeira flutuando ôbre o arcebispado. A medida que n~s apro · ximávarnos íamos distinguindo a multidão de selvagens e outras pessoas que nos recebiam com tiros de fusil como saudação. Responde_mos com o" Magnificat" e foi com êste canto da Raml~a do Ceu qut ficámos, t!nfim, na nossa nova pa– tria-que seria a nossa casa, o nosso túmulo. Que acrescentar, agora? Desde a nossa chegada nunca lamentámos ter vindo. Sempre nos oon iderámos felizes, a-pesar J. F. C. B. BELEM - PARÁ ...,-.,.J~~~ de não nos terem faltado sacrifícios. Mas não era isto que tinhamos vindo buscar? Assim caminhavam para o polo em 1867. E assim foi por cincoenta anos ... E' agora a Madre Charlebois que fala : "Nunca pensei que tivesse de morar mêses in– teiros nessas barcas; sinceramente digo que é uma vida muito dificil para religiosas .. . Mas , como fazer? Este é o único meio para trans– portarmo-nos ao Extremo-Norte. Já mais perto de nós, em 1912, escreve outra madre : "depois de um percurso cheio de tormentos, onde sofremos frio e fome , reduzidas a, não tomar um só a Iime n to substancial e quente, no meio de uma tripulação embriagada - que de dificuldades para chegarmos ao fim, atravez dos gelos que invadiam o lago. Quantos horrores ! Meu Deus, só mesmo para salvar almas é que temos coragem de nos oferecer como vítimas generosas para um exílio voluntarío !" As Irmãs Missi onárias do Mackenzie me– diram ao primeiro contacto a extensão de seu campo de apostolado, o hero ísmo e abnegação que precisavam ter. Estas tribus s:lvage_ns_ ~s– tavam ainda tão perto da degradaçao pnm1t1va que - elas logo_ o compree~deram-so~ente o sacrificio de toda a sua vida poder 1 a rege– nera-las. Estes factos no-lo provam : Era uso, entre êstes selvagens, ma tarem as creanças órfãs, principalmente as meninas. Uma mãe, olhand9 com desdem para a filha que acabava de nas– cer disse : - Teu pai me abandonou , não vou te1 'o trabalho de te criar. Imediatamente, levou-a pi1ra fora da cabana, cobriu-a com um couro, asfixiou-a e atirou-a ao monturo. . Por ocasião tle uma epidemia, um pobre nativo perdeu a mulher e dois filhos; ficava. entretanto, um recem-nascido. Andou com êle dois ou tres dias ; depois, suspendeu-o no galho de uma ,árvore e abandonou-o. Estas barbaridades, .como nos contam as Irmãs fundadoras, repetiam-se, q u as i diaria– mente, há uns 60 anos. Mais tarde, mãos cari– dosas arrancavam est11s crianças· mártires aos seus carrascos com a esperança de "as dar às Irmãs". ( Continua J

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