Quero - 1939

Notava com ra– zão Robert de la Sise– ranne que poucos ar– gumentos poderiam tentar mais um artista, seja pe Ia sugestivi– dade, seja pelo colo– rido, do que o Natal. Se a arte é não só a imitação material da natureza, mas a co– loração dos elemen– tos que jazem em al– guma cousa de vivo, ide aIiz ando-a, sem prejuizo da verdade, mais atraente para os artistas serão, sem dúvida, os motivos que já de si mesmos contenham êsses dois elementos. A ar te r u ra– mente imitativa nos 6 J. F. C. B. BELEM · PARÁ não tem um berço para embalar o dese– i ado dos se u s s o– n h os? De outro lado, melodias celestes a despertar ·os écos das colinas vizinhás, can– tos de glória e de paz em música do ceo .. . E os pastores e os rebanhos não fo– ram sempre fonte de inspiração para os artistas? E o jogo tentador das perspectivas? dará quadros de va- L-----------------------....1 No fundo, a ci– dade adormecida, cm que não se achara um lugar para Deus, em– moldurada num qua– dro campestre ilumi– nado apenas pelo cla– rão que se irradia da gruta. O boi e o bur– rinho, pastores pres– lor técnico indiscutí– vel, mas a sa ti s fa– NATAL Correggio ção será outra para o artista que crêa ou con– templa, se à natureza estiver unida a idéa, ima– ginação, o sentimento (chame-se amor, chame-se dor ou desespero), ou enfim o sobrenatural das anunciações, a inspiração dos profetas, das visões do Ceo. A êste último grupo pertence o Natal. E ha uma tal fusão du divino com o hu– mano, do real com o ideal, de melancólico com f e Ii c i ct' a d e, como raramente se encontra em outras fontes de inspiração. Que de mais me– rencório que o nascimento de um pobre? Que de mais triste que a escuridão da noite, de uma noite fria , invernal, passada ao relento ou quasi, na tristeza de uma gruta selvagem? Que de mais pungente que a vista de uma mãe que não acha um pan inho para envolver o filho que chora e surosos, S. José, Maria, mas, sobretudo, no ber– cinho de palha humilde, o Menino cercado de luz sobrenatural, que recebe as homenagens dos pastores e afaga sorrindo as ovelhinhas brancas sem pensar no estribilho amargurado de Villette : "Chora, chora, menino Deus! Tens de viver trinta e três anos entre os homens!" Não nos admiramos então de vêr a ri– queza e a variedade de linhas e de côres re– presentando a noite santa . Nem se põem em conta as inúmeras Ma– donas com Jesus nos braços, (o rudimento do presépio) nem as scenas de adoração dos magos, ' •

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