Quero - 1939
4 J. F. C. B. BELEM - PARÁ Loucura de idealistas ~111~111~111~111~11:~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111~111 - "Tendo Jesus nascido em Belém de Judá no tempo do rei ·Herodes, eis que vieram do Oriente uns Magos a jerusalém, e perguntaram: "onde está o rei dos Judeus que acaba de nas– cer? pois vimos a sua estréia no Oriente e viemos adorá-lo." (Mat. II) Um grande segrêdo e n v o Ive os Reis– -Magos. Parece uma lenda interessante esta narrativa do Evangelho. Quando criança, a nossa imaginação brincava com os dados misteriosos da história: a gruta, a estrêla formosa, os Reis: Baltazar, Melchior e Gaspar, os camelos e as riquezas... e talvez nunca deixemos de ser crianças neste tempo de Natai, porque, ao ler– mos o Evangelho no dia de Reis, cae um si– lêncio profundo entre o povo devoto que assiste e todos vão aprofundando o sentido das pala– vras do livro sagrado. E' uma surpreza e sa– tisfação quando os Reis chegam afinal à Gruta e se prosternam em terra e adoram o Menino– Deus. A história não diz quem eram os Magos. Vieram de longe? Onde moravam? Eram muito ricos e poderosos? Sabemos somente que, numa certa noite, viram uma estrêla e se puseram a l:aminho em demanda da terra de Judá. Que aconteceu na alma dos Magos? Aos olhos dos contemporâneos era uma verdadeira loucura: seguir uma estrêla sem ter um motivo certo, sem conhecer o rumo do co– meta. Inspirações boas podem vir do ceo, mas precisamos de coragem para executá-las, quando revestem um caracter de excentricidade. Quem ouve vozes misteriosas passa por louco neste mundo e é a terrível sorte de uma santa, como joana d'Arc, acabar a sua missão na fogueira, porque soube obedecer á inspiração. Assim muita gente meneou a cabeça, (a tal gente sábia e prudente que não faz mal a ninguem mas mata o idealismo da mocidade) quando viu a extranha caravana empreender uma viagem tão à tôa. Mas os Reis 6entiam um motivo sério, categórico. A voz imperiosa e irre– sistivel da graça (que a maior parte não com– preende) os iluminou e esta voz era mais forte que o protesto da carne e do comodismo. E os três saíram da sua terra. A opinião pública os estigmatizou como idealistas e fanáticos que vi– viam nas nuvens ou no mundo das estrêlas. ó desânimo lhes invadiu a alma durante a longa e penosa jornada? Nunca lhes veio o pensamento: "Mas que estamos fazendo? é to– lice andar atraz de uma estrêla, sofrer calor e fadigas de uma viagem pelo deserto, enquanto podíamos ter todo o confôrto em casa, já que dinheiro e poder não nos faltam." Sabemos que a tentação não lhes desarmou a energia: que– riam vêr o ideal do sonho realizado. E pros– seguiram. Os Magos tiveram pouca sorte. Ao entrar na terra de Palestina desapareceu a estrêla. Em jerusalém encontraram a maior indiferença e só a muito custo conseguiram saber dos mais doutos entre os sacerdotes que o novo rei devia nascer em Belém. Ei-los outra vez a caminho. Deus não os abandonou. Um grande confôrto os veiu re– animar: a estrêla apareceu de novo. Sim, es– tavam no bom caminho, não havia dúvida . "Ao verem a estrela, foi sobremaneira grande a alegria que sentiram." Foi lambem a graça para enfrentar uma maior desilusão. A estrêla parou sôbre uma choupana . E a razão a protestar : "E' possível encontrar, depois de tanto sacri– fício , uma gruta, uma manjedoura, uma crian– cinha pobre em logar de um palácio, de um berço de ouro e de um rei? Que fazer? Eis a resposta: "entraram na casa, prostraram-se em terra e adoraram o menino; e depois abriram os seus tezouros e lhe fizeram ofertas : ouro, incenso e mirra ." A fé abafou o protesto do sentimento carnal. O e,vangelista não fala sôbre a felicidade que os Magos encontraram aos pés de Jesus.
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