Quero - 1939

• AINDA NÃO EM NÓS TODAS da Juventude Feminina já notara~ . o sorriso irónico com que muita gente se refere à nossa acção católica, quero dizer, ao apostolado das moças . Até daqueles de quem esperamos apoio, para quem olhamos como possiveis guias, nos vêm, muitas vezes, frieza e obstáculos. Há palavras tã9 indife– rentes, piores que uma oposição categórica– porque não provocam reacção nem pedem ex– plicação alguma; afastam . .'. Nós já o notámos. E qual será a nossa atitude deante dessa incompreensão? ,Primeiro, não nos escandalizarmos; depois, lransforma-la cm simpatia. . Afinal é compreensivel que ainda não acre– ditem em nós. Surgiu, de repente, uma legião de apóstolos : quem são? quem eram? Somos nós, moças operárias, moças estu– dantes, moças da sociedade, que aparecemos no cenário católico, com um programa, com um ideal, uma missão. . Nunca tinham reparado em nós, nunca hnham auscultado os nossos desejos de mais e melhor, nunca se tinham lembrado que os nossos olhos podiam ver mais alguma coisa que figurinos, ou mais além que o "écran'' do cinema. Nós fomos o surdo-mudo, que Jesus tirou da multidão, a quem abriu os ouvidos e a bôca: ouvimos e temos de falar. Mas, outros não ouviram e julgam-nos, talvez, loucas .. . Não compreendem que se inflamem, tão subitamente, corações que julgavam frios ou voltados para outros ideais. Se olhassem, no entanto, as perspectivas que nos mostraram, os horizontes escampos abertos à nossa li– berdade, as riquezas que puseram à nossa mão - e as misérias que tocaram a nossa piedade! . . .-em igual fogo queimariam. 5 J. F. C. B. BELÉM - PARÁ ACREDITAM Não nos esca~dalizemos, pois. Êles não sabem ... Precisamos fazer essa conquista, a do ambiente, a da opinião pú_blica . E ~ão _há_outro meio senão o de correspondermos a m1ssao que nos entregaram. Se falharmos, poderão dizer : tínhamos razão. Se falharmos ... Mas nós só falharemos, se eu falhar, se tu falhares , se ela falhar. Cada uma tem de corresponder pela sua parte - e tudo irá. Mas se uma afrouxar, e outra, e outra - tudo cairá, então. Cada uma tem de responder por si, mas cada uma, individual– mente, pode comprometer o todo. A nossa missão é de caridade : caridade esclarecida, caridade operosa; nem outra alma pode ter o apostolado. Caridade- isto é viver de Deus. Nenhuma languidez, mesquinharia ou ódio - fôrça, al:– gria, pureza, doçura. Se nós_, moças da_Acçao Católica, conseguirmos irradiar essas virtudes, venceremos a incompreensão. Porque todo o mundo compreende a caridade. E' a linguagem universal. O que nos falta muitas vezes, a nós~ q~e desejamos ser apóstolas, é essa abundancta do coração que parece grande de mais para o peito e transborda sôbre os outros, em ondas de bálsamo. Não vibramos, vezes muitas, no mesmo tom que os outros; seus interesses pare~em– -nos banais sua dores exageradas. Por isso, nossas pala~ras ficam estéreis , caducos noss_os actos, que morrem à "'.íngua de. verdadeira vida. Mas se fôrmos aqmlo que prega_mos, em breve teremos aquecido tôda a frieza que nos tolhe. Enquanto não o conseguirmos, embora desde já nos apliquemo_s a tu?o fazer com êsse espírito de amor, nao repltquemos acre– mente aos que nos fecham a porta . Continuemos a bater, de mansinho, com a insistência dos que esperam, com a eloqüencia dos que agem. E quando a pNta , vencida, se abrir e nos perguntarem: quem é? ao sentirmos, ali , o trabalho da Graça, feli zes e humildes, res– pondamos : NINGUEM.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0