Quero - 1939

• .. • quero -x- São bem conhecidas as com– parações morais que êste facto inspirou aos Padres da Igreja. Na sua interpretação, esta hos– pedaria repleta é a alma hu– mana. Ha lugar para inúmeras coi– sas, na nossa vida. Como êsses pousos das cidades orientais, abertos a todo mundo, nós es– tamos escancarados, tambem, a tudo que t em uma aparen– cia de graça ou prazer. E a multidão entra, invade-nos, absorve-nos. Multidão de pen– samentos, multidão de desejos, multidão de preocupações ter– restres, multidão de negocios, multidão das paixões; tudo is– so toma lugar. E quando Je– sus Cristo chega - é sempre tarde demais. E quant as vezes t emos re– ceio de r eceber tal hóspede . E' impor tuno, J esus Cristo . Quando êle entra nalgum lu– gar, quer muito espaço, só para êle, e com t ôda a honra. Como aloja-lo ao lado de certos hós– pedes que deixámos entrar! E então, dizemos-lhe: Vai-te em– bora! Ah! não o dizemos com os lábios; mas o coração fala por êles com mais eloquencia e é o nosso coração que lhe diz : Vai-te! O lugar está ocupado! D::ixa-me em paz! Vai-te em– bora! E êle vai. .. E nós ficamos entregues ás nossas misérias, como êsse caravansará de Belém, que po– deria t er re<'ebido o Infinito sob o seu tect o - e não o quis. -x- Ei-los, pois, sem abrigo, er– rantes nas ruas de Belém, pre– midos pela noite que comecava a cair e pela hora ... que se se aproximava. 13 ~ Imagina-se ficilmente a an– ciedade de José, a sua diligen– cia e, talvez, a sua perturba– ção. Era tão insperado aquele acolhimento e tão duro! Quanto á Maria, os tocantes preparativos que as mães fa– zem para o nascimento de seus filhinhos podem dar uma idéa de seu desgosto. Entretanto, não a roçava nem a sombra de uma inquietação. Ela trazia em si o Ordenador, Aquêle que sabe, Aquêle que pode.. Inquie– tar-se por êle, seria pueril. Quanto a ella, era-lhe indife– rente. Não possuía ela tudo, possuindo aquêle tezouro? Quanto a ela, era-lhe indife– nha sid_o reservado, poderia in– vejar as mães opulentas ou des– preocupadas? Sofrer com Je– sus Cristo em si , era-lhe uma dupla alegria: era entrar na missão do Salvador antes que êle mesmo entrasse; era car– regar a cruz - ao carregar Anuêle que nela se havia de estender. Ela ia, pois, pelas ruas tor– tuosas de Belém, sem t emor, sem inquietação. Esnera:va a vontade de Deus. E Deus der– nimava na sua alma, gôta a gôta, a sua serenidade, maior que a da noite aue subia n ess~ TT'nrn ento <fa nlankiP e envol– vi :::i. lentamente, a bela colina. E as inefaveis permutas con– tinuavam: Maria dando a J e– sus sangue, vida, as palpita– CÕPS do coração: Jesus dando i:i M::iria luz. forc~ .. amor, pa– ciencia e essa paz de quem pos– SUP a Deus. B assim conduzida nelo es– poso, conduzida ainda ma'is oela Providencia, na sua oobre mon t aria cuias passos ressoa– ,..,m no.::; b::i t ent :>s de pedra co– mo uma chamada semure des– prezada, ela ia, silenciosa. es– condendo o ceu sob as palpe- J .- F. C. fB. BELEM - PARA bras caídas, cobrindo com o veu o coração - que continha Deus. E José ancioso, procurava sempre, e nada achava. -x- Por fim, tendo perdido a es– perança do lado dos homens, lembraram-se dos abrigos que, êsses, não se fecham deante do pobre. Havia, no sopé da colina, nas cercanias das torres de Da– vid, um certo numero de gru– tas como se vêm a miudo na Palestina, principalmente n a Judéa. Serviam de redil ao gado; mas, nesta época do ano, como os rebanhos estavam pa– ra as pastagens, encontravam– se vazias. E' para lá que se dirigem. A Providencia conduz-lhes os passos. Ela não quere para o seu Filho outro abrigo a n ão ser os que ela mesmo prepara para os seus hó$pedes. Mater– nal e activa, a Providencia t em retiros para tudo que respira; ela excava antros no fundo das florestas; ela n ão esqueceu o cachorrinho, di za Sagrada Es– critura. Quando outrora ela presidia ás evoluções grandio– sas da mat éria e que o fogo, seu operário, plasmava o glo– bo informe, ela r eservava esta rocha, prevendo a hora divi– na. Não convinha que o Imenso se r estringisse a uma habitação do homem ; que Ele, o rico so– berano que ordena ao sol seus esbanj amentos de auroras, 'que faz scintilar pedrarias na fron– t e da noite e lança, com urr sorriso, um manto mais rico que o dos reis sobr e os om– bros dum muro em ruínas - não convinha que êsse fôsse nascer no meio de nossas vãs riquezas.

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