Quero Outubro - 1938

Por quê desejas vêr o fim do teu tra– balho ? Mostro-me eu tão apressado e, desi– gnando-te êste campo ou esta vinha para cul– tivar, exigí de ti outra coisa alem dum trabalho honesto, fiel e consciencioso ? - E' verdade, Senhor, esta precipitação e esta febre não estão de acôrdo com a tua sa– bedoria! Mas, a ·modicidade dos meus esforços e os precários resultados assustam-me, confesso-o. A visão do que fiz e do que ainda falta fazer des– norteia-me. Vejo, e com bem amargura, que sou· um servidor inutil. E' verdade, - e 'êste pensamento deveria tranquilizar-me - que todos os teus santos jul– gavam-se tais.. . Mas êles falava m assim no excesso da sua humildade... Porque, de facto , com a tua Graça, Senhor, êles serviram util- mente, a tua causa! · ' Enquanto eu, que não sou um san to e que vejo minhas pobres obras, tenho mêdo . . . - Meu filho, não condeno em ti esta sêde de querer mais e melhor. Amo as almas que desejam grandes coisas . . . Mas amo ainda mais a tua fidelidade aos simples deveres de todos os dias. Amo teu trabalho obscuro feito com tôda a . consciencia, com amor, sem o aguilhão do triunfo. Amo estas obras sem brilhb e sem glória, mas que valem porque eu as executo em ti e atravez de ti. . Continua a empregar, mesmo nas coisas mais pequeninas, todo o teu amor. • Reanima-te e segue! - E' então verdade, Senhor, que meu tra– balho tem algum mérito deante de ti? Ah! como êste pensamento me seria con– ~l~dor se . .: Mas vê, Senhor, duvido ainda! . .. h • se _te d~gnasses dar-me maior certeza! As aparenc1as sao tanto contra mim . de -Não achas bastante, homem ou mulher da ~b!tãs~ éª~~~- ou moça, catequista, militante do teu ª ica, qualquer que seja a forma munho apitolado,_ não achas bastante o teste– presençaq pe~et das pela tua palavra, pela tua • eu exemplo? Não achas bastante · d. - mas real, 0 reflexo sôbr ª irra iaçao sec~eta. G raça em ti a fô d ~ os outros da minha de sanearne~to d~ ça . eh dtfu~ão , de penetração, mm a candade? 8 J. F. · C. B. BELEM - PARÁ Avaliaste o poder da minha Graça e ignoras, então, que uma onça de caridade ver– dadeira peza mais na rninha balança que uma imensidade de ações soberbas e vazias? Não sabes que uma prece pura e desin– teressada atinge sempre seu fim sobrenatural , mas que reservo para mim o aplica-la, não sempre segundo os teus pedidos, mas conforme o qu.e é preferível? E tu que, modestamente, no lugar que a minha Providencia te assignalou, no círculo restrito do lar, na e s c o 1 a, no trabalho, não importa onde, te esforças por dar exemplo de uma vida integralmente cristã, pensas, então, que tuas obras são sem valor deante de meu s olhos? Não foi êsse o estado que escolhí, a vida que eu próprio levei em Nazareth? E que fazia eu então a não ser o meu trabalho de Salvador? Não o podes tu fazer agora, como eu, depois de mim e comigo? ·, . . .. . . . . . . ... . . . . . ... . . . . ..... . . . Quanto a ti, pobre estropia d o, pobre velho, pobre doente, reduzido à impotencia, tu que juntas ao pêso do teu infortunio a cons– cie11cia de importunar os outros, tu que achas as horas tão compridas, os dias tão monótonos, tu que talvez tenhas perdido a esperança de recobrar o vigor e a saüde, crês tu, realmente, que nada podes fazer do teu sofrimento, crês tu que não podes em um gesto magnifico dar esmola ao teu Deus, juntando a tua imolação · à Sua para a salvação de teus irmãos? ... -Não terei eu falado bastante, pobre operário de ob5curo trabalho, para te dares de todo :;oração ao labor? Em todo logar que a minha Providencia te colocar, Na cela do mosteiro, onde te imolas em silêncio, Na paróquia onde o teu zêlo pa.rece con– sumir-se em vão, No seminário onde sonhas acção imediata, Na obra, no meio do trabalho, onde es– barras na incompreensão e na hostilidade, (Continua na página 19)

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