Quero Outubro - 1938
7 J. F. C. B. BELEM - PARÁ SER VOS I N UT'EJ S. • • I' Aos que sentem desânimo deante da inutilidade aparente dos seus esforços. 1 EN H O R, ·sabes que, para tua glória, ~ Q sonhei cousas grandiosas ... 1t? Quando t~ apresentaste bruscame1_1te · ., no meu cammho; Quando me alcançaste, pobre viajante triste e fatigado, na estrada já invadida pelas sombras da tarde; Quando me surpreendêste na minha vida laboriosa, atraz da charrua, no meu balcão, na oficina; Quando me distinguiste na multidão; Quando me oferecêste um lugar entre os teus, como mensageiro do teu Evangelho, um desbravador, um pioneiro do teu reino ; Tu sabes, ~,enhor, não hesitei. _Não medi os perigos, nem limitei o dom de mim mesmo. . Era, entr~tanto, um salto para o desco– ~hec1do, o cammho duvidoso que os prudentes Julgam severamente. Não será loucura abando– n_ar a prêsa pel~ sombra, loucura seguir, sor– ridente e entusiasta, atraz de um impossivel sonho? . . Êste raciocínio, outrora, um certo moço nco tambem o fez. Os seus contemporâneos, os seus parentes, os seus amigos aprovaram, natu– ralmente, esta sabedoria. A História não se dignou guardar-lhe o nome. _ Ele ~eixou passar a hora, a única ocasião. F. Tu seguiste o seu afastamento, a sua recusa ao grande Amor, com os olhos cheios de tris– teza . .. E eis que designast e um campo para eu arrotear. Não é, certamente, como eu o imaoinava - a realidade é muitas vezes diferente dos ;ossos sonhos! - mas eu comecei a trabalhar com todo o ardor, com a vontade de vencer a tarefa. Os dias seguiram-se aos dias ... E como o vinhateiro curvado sôbre a terra detem-se para descançar um pouco, endi– reitando com dificuldade as costas doloridas ' eu calculei com o olhar o trabalho feito e o trabalho a fazer ... Ora, a vinha, adeante, estendia-se longe, tão longe, que não se distinguia mesmo a extre– midade das long':ls linhas paralelas, enquanto que, atraz, o ponto de partida estava ainda tão perto! ... E uma sombra passou pelos meus olhos, enquanto que, com a mão, furtivamente , eu expulsava da fronte humedecida, a o~cessão da tarefa verdadeiramente desproporcionada, do muito que essas geiras arroteadas repre– sentavam de esforços repetidos, de gestos mo– nótonos e extenuantes. E como para agravar esta impressão, torná-la mais lancinante ainda, eis que na terra acabada de ser remexida, sementes invisiveis, raizes esquecidas, escapadas à vigilância, vol– tavam à vida . .. Daqui, dali, apontavam entre os torrões finas hastes verdes .. . Assim, apenas iniciada a tarefa, tudo era preciso recomeçar. Ah! Como esta terra era, então, pezada e dura e espinhosa! ... Haveria eu de desanimar ante esta ' visão inqi.lietante? Não, porque Tu, senhor, Dono da vinha, sugerias ao teu operário: -Não te preocupes com o trabalho de _amanhã . Por quê esta inquietação, esta febre ? Para cada dia uma tarefa basta. Não te per– turbes, então ! ... O que eu quero de ti, não é a embriaguês da tarefa terminada, a vã atisfação do proprie– tário que possue bens à luz do dia e que con– templa, deleitado, o domínio que êle soube unificar. Para quê te matares com desejo inutei ? Queres terminar antes de ter começado?
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