Quero Outubro - 1938

J. F. C. B. BELEM · PARÁ MULHERES HEROICAS CContinuação) "Consolai-vos, minha filha, Deus vos des– tina a uma grande obra e reerguereis uma casa em ruína." A "grande obra" existia. Sem se desviar de seu espírito nem de seu fim. tinha resistido à prova de uma década, e eis que contava seis membros solidamente unidos: as senhorinhas Thaumur, Demers, Rainville, Laforme, Véro– vineau e a fundadora . Faltava "reerguer a casa em ruína". Esta casa foi o Hospital-Geral de Ville– Marie. Fundado em 1692 por Francisco Charon de la Barre, sôbre um vasto terreno dado pelo Seminário de S. Sulpicio, o Hospital de Ville-Marie foi reconhecido por cartas patentes de Luís XIV, a 15 de Abril de 1694. A 8 de Outubro de 1723, Mon senhor de Saint-Vallier aprova uma comunidade que devia dirigi-lo, sob o nome de " Irmãos Hospitalário de S. josé da Cruz". Os órfãos e os pobres ou estropiados seriam recebidos ali. Em menos de 50 annos o Hospital ficou reduzido a uma completa ruína. Não se encontravam lá mai s que dois irmãos e quatro pobres, "vegetando miseravelmente". Um pormenor é suficiente para dar uma idéa do estado material do prédio: mil duzentas e vinte e seis vidraças faltavam nas janelas. Graças às diligencias do Padre Normant, a casa arruinada foi confiada à Senhora d'You– ville. A posse efectuou-se no sábado, 7 de Ou– tubro de 1747. A fundadora, doente, teve de ser transportada numa carrêta sobre um colchão. Seguiam-na as cinco companheiras e nove pobres. A provação, sempre a provação, mas sob a mais terrível forma, vinda daquêles que de– veriam proteger o direito e a fraqueza, marcou a obra, mais uma vez, com o sêlo sobrenatural. Em primeiro lugar, a côrte de França não queria auxiliar a formação de novas congre– gações de mulheres no Canadá. Por outro lado, o bispo de Québec, convencido que a Comu– nidade de Madre d'Youville se extinguiria, deixou-se persuadir que era melhor transportar para o Hospital de Québec todos os bens do de 16 Montreal. O governador concordou. . . Qual não foi, portanto, o espanto de Madre d'You– ville um dia, quando acabava de comprar no mercado alimento para os seus pobres, de ou– vir proclamar, ao som dos tambores, pela ordem do Bispo, do Governador e do Intendente que cessava a sua jurisdição sôbre o Hospital e que a instituição passava para Québec. Entretanto, S. Sulpicio velava. O Padre Cousturier advogou tão bem a causa junto á Côrte real que, a 3 de Junho de 1753, Luís XV assinava cartas patentes, confirmando a Senhora d'Youville e as suas co[Tlpanheiras na adminis– tração do Hospital de Ville-Marie. O dia da sanção divina chegou afinal, um acto de Monsenhor Pontbriant, bispo de Québec, com data de _15· de junho de 1755, aprovava canonicamente a nova sociedade. Dois mêses depois, a 25 de agosto, festa de S. Luís, as irmãs "Grises" apareceram pela primeira vez com o santo hábito que tinham re– cebido, naquele mesmo dia, pela manhã, das mãos do Padre Luís Normant. ('~ ) Prêsa de um piedoso respeito cristão o povo inclina-se quando passam as religiosas. A aprovação solene e definitiva chegar::i um século mais tarde, de Leão XIII, a 30 de Julho de 1880. A pequena sociedade sentia-se, então, mai forte, devia, pois, estar pronta para maiores so– frimentos; o que logo sucedeu. A Inglaterra, estendendo o seu domínio ao Canadá, não assumiu os encargos de benefi– cencia da velha França. As grandes familias feudais voltaram á Europa. Pouco a pouco, os recursos escassearam... A Senhora d' Youville. tão competente para dirigir negocios como para dirigir almas, empreendeu , então, todos os misteres acessiveis à sua condição para poder ganhar o sustento para os seus pobres. Traba– lho de agulha, culturas diversas, fabrico de cal. preparação de fumo, construção da primeira embarcação que levou os colonos da ilha de ( *) - O hábito das religiosas é a ampla túnica apertada por uma faixa estreita de pano preto. Uma touca branca contorna o rosto. Uma "capeline" preta, cuja prega fro11tal fàrrna um pequeno triângulo, protege a cabeça. No côro e para a rua u am um capuz de lii preta ocultando-as dos olhares do mundo. Trazem no dêdo urna aliança de prata, penhor da 1111ilio mística com o divi110 E poso, e sôbre o peito 11ma cru;; de prata, cam as extremidades cm feitio de flores de li·. para re– cordar a Fran 1a.

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