Quero Outubro - 1938
J. F. C. B. BELEM - PARÁ mo, mas, como é unicamente guiada pelo desejo "de estar na moda", não é êsse , afinal, senão um cinismo aparente. Seu orgulho, sua presunção, indo algumas ve– zes até à fanfarronada e á audacia, são defeitos passageiros que desaparecem com a experiencia. Mas estes defeitos fazem-na tomar a perigosa atitude de ignorar, vo– luntariamente, o que pensaram e crearam as gerações passadas. Faz questão de mar– car uma scisão entre duas gerações - êrro particularmente grave num periodo de transição brutal como o nosso. A moça de hoje tem o defeito da sua época, sujeita às mudança bruscas: a ins– tabilidade e essa instabilidade vai, algumas vezes até à inconstância. Apressada, versa– til, ela improvisa, faz as coisas para "des– pachar", porque está sobrecarregada. As qua1idades A moça moderna pos_sue uma quali– dade predominante, que muitas vezes faz perdoar os seus êrros e os resgata: a co– ragem, a coragem deante das dificuldade!:> da existencia, uma coragem esclarecida, uma coragem feita de lucidez, de impulso e de um certo esquecimento de si; uma coragem que vai até à intrepidez, que se esconde sob aparencias Ievi a nas e que tem um sorriso mesmo deante dos piores obstáculos, que zomba do "que dirão?•· e que aceita suas responsabilidades mes– mo à custa do sacrificio . A moça moder– na paciente e corajosa, tem, verdadeira– mente, bravura. Não é desta bravura, desta coragem. desta força de caracter que decorre sua segunda qualidade, a mais preciosa: a fran– quêza? Sua franqueza é, algumas vezes, filha do orgulho; ela é franca e leal, confessan– do-se indiferente aos preconceitos. Mas 6 tem razão de não ligar importancia a êsses preconceitos mundanos, de não mais su– jeitar-se às mentiras sociaes, às desculpas inspiradas pela fraqueza feminina. ,Corajosa e franca , não admira que tenha multo espírito de iniciativa e grande faculdade em adaptar-se a situações bem dificeis. Não desdenha mais, qualquer que seja a sua cultura, as ocupações domes– ticas. E porque vê a seriedade da vida, porqu~ a sua compreensão social se de– senvolveu maravilhosamente, o espirita de generosidade a soergue e anima; tem o ideal de servir. As tendencias de sua actividade Ha poucas vocações !iterarias na moça moderna; ela sabe que os resultados prá– ticos de uma carreira de letras e de arte são incertos e que é prudente juntar a esta , pelo menos no princípio, uma segunda profissão. Mas há muitos equívocos no iní– cio. Algumas, por exemplo, obedecem a uma vocação lateral, que é fazer o aposto– lado, escrevendo. Mas o dom inato, irres– sistivel de se exprimir pela pêna não pre– cedeu a intenção sobrenatural. Seja como fôr, a joven romancista ou poetisa é, sim– plesmente, uma moça , isto é, o seu primeiro ideal é ter um lar, um esposo e filhos -– e êste sonho é sabedoria. Parece que s ô mente o jornalismo, principalmente as reportagens no extran– geiro, seriam capazes de atrair a moça mo– derna sati sfazendo seu gôsto pela acção. Não vamos pensar entretanto, que ela se desinteresse, inteiramente, pela litera– tura. O epíteto de "mulher de letras" não tem sentido. Mas o dom - perigoso e en cantado - é depositado sôbre os berços Para os que o receberam, é imperioso como um dever, não podemos nos desfa
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