Pará Ilustrado - 1943
o nosso magestoso Teátro da Paz, no dia 25 do próximo passado, viveu horas inefaveis de arte sadia. E' que Guiomar Novais, a eleita do tecla– do, em transito para a pátria do grande Roo– sevelt, deu-nos, ma~ uma vez, para gaudio dos no.,sos out>idos, o ensejo de ouvi-la. A festejada "virtuose", mundialmente co– nhecida, cumpriu rigorosamente o soberbo pro– grama organisado para essa noite. E', ainda, sob o domínio da arte desta no– tavel 7,atricia que tão alto portou o nome ar– i:istico do Brasil, que bordamos esses comen- tários. , . A adjétivação é imprecisa para colorir a grandesa das suas interpretações. Senhora de uma técnica impecavel, domina com as cinti– lacões :da alma as téclas de marfim. Assim é que sentimos toda a opulencía, to– das as nuances que dimanam das obras de CHOPIN, SCHUMANN, BEETHOVEN e alhures. Para abertura deste concerto HAENDEL foi convocado. Empolgados, ouvimos, deste autor CHACO– NE. Aos seus primeiros acórdes o espírito des– prendendo-se das imposições da torpe materia, foi viver nos paramos onde fulgem as fulgura– ções do Belo .. Essa peça de raro fulgor tem a magia do encantamento . Vemo-nos, de repen– te, cercados por aladas deidades, que, num bai– lado ritimico, aqui e além, num ex-voto de ca– ricia, genuflexam,-se e, em cirandas garrulas, espargem num anfora translucida, pétalas aro– mais que, ao cairem, tomam irisadas côres. PAPILLONS DE SCHUMANN é outra par– titura de grande projeção artística. Na policro– m.ia das azas de sêda, no rufiar cadenciado de remigios, aparecem colonias de borboletas que, intrepidas, vencendo as mutações de Eolo, de mansinho, se acercam das opulentas e variega– das flores, para sugar-lhe a ambrosia capitosa que nelas demora. E ás virações amenas, embaladas, nas /ui– vas, opalinas e rubras corolas confundem os matizes. Logo depois uma brisa maligna soprando impiedosa, fazem-nas cindir o éter em busca de um novo "plateau". E' nesta fantasia soberba que os nossos sentidos, maravilhados, se debruçam. MARCHA TURCA DE BEETHOVEN tem, tambem, os seus primores. Na 2.ª parte, Guiomar Novais nós propor– ciona o praser, a suprema felicidade de enc<m– trarmo-nos com CHOPIN, esse divino CHOPIN que, como outrora, continúa infinitamente a sopitar as eólicas fibras da nossa sensibilida– de. Assim, do imortal compositor polonês ou– vimos: "IDILIO A' BEIRA DE UM LAGO", PRIMAVERA, ORAÇÃO JUNTO A UM TüMU– LO, REM!1'f.ISCENCIAS, CORR.JDA A' BEIRA DE UM ABISMO, RAIOS DE SOL, FANTASIA, MORTAL DESESPERO". Destaca-se, desse primoroso artista, a 3.ª Balada em lá bemol, que foi inspirada nos a– mores de uma ninfa com um poeta á beira de um lago da Polonia. E, nas gamas magistrais, vê-se a limpidês das aguas que correm, a ve– nustez da ninfa que, em colóquis com os equo– reos repuxos, espadana uma magnificencia de graça e sensualidade. E, aquem, extasiado na contemplação da radiosa epopéia-ambiente, ar– rebatado pelas formas esculturais da ninfa, o poeta, em sol/as auri/ulgentes de eloquencia plasma o seu verbo. Na 3.ª e ultima parte aparecem varias au– tores. Enfre eles, nos cafivou a oufiva • Feux Fal– lets (fogos fátuos) de PHIL/PP. Um fumo verde-azulado cresce, em espi– rais, na nossa retina, para voltar, rapido, á ter– ra gorda donde provem e aparecer mais além e com mais intensidade, ein volatas, em fu– sos ..•· ✓ Passou no dia 29 do mez p. findo, o aniversario nalalicio das graciosás se-· nhorilas Nalzira e Rosa Pontes de Al– meida, filhas do sr. felipe de Almeida e de sua esposa d. Zolima Pontes de Almeida. POEME TRAGIQUE DE ACRIABIN finali– za o programa. Todo êle se apresta impoluto, pleno de mo– vimentação, energico, com impetuosidade do cataclisma. Sente-se o arroubo' dalma que pe– riclita entre a tormenta. Reponta o auge, o momento supremo, onde num mixto de por– tento, divisamos as nuances do belo-trágico, que por um milagre de interpretação, Guiomar Novais, com o calor de sua arte augusta tinge. Guiomar, volta ao piano, a;nda sob o aplauso da platéia. Ao terminar,. mais calo– roso é o palmear. Duas vezes mais volta, rece– bendo, sempre, ao terminar a peça, as mais inequívocas provas de que agrádou sobremodo. E uma revoada de palmas frenéticas ecõa no ar. Enfim, ressalta a variação sobre o nosso Hino Nacional. E, então, pelo nosso corpo percorre um "frisson", e um entusiasmo tumultua no nos– so coração, raindo pela vibração. Tal é a força de expressão e a magestade que Guiomar Novais impõe a essa partitura, que somente ela valeria o concerto. E sua alma de brasileira, estravasante de patriotismo, impregina as notas comum cunho de exaltação que é mister perfilarmos o espíri– to para á•revista da Arte. - S. H. C. GRANDE DEPOSITO DE. MATERIAIS ~ [:l(!]ffl(!] ®úJ[i]~IT[3[1@®©~ ®□QJ□~ @ [í](!]lJJill □~ Oficinas Próprias -~~ i8 de Jetem&o. ri. 568 Aparelhar Madeifas ~n.125 20 - 2 - 194~ PARA' ILUSTRADO
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