Pará Ilustrado - 1943

Quando o Senhor Deus Menino diz que_o dia 25 é o dia do seu Natal - dia grande de verdade ! - as Ma-rujas entram em forma, Tia Silvana ergue a batuta, as viólas choram a musica, os tambores marcam o ritmo, e as marujas -sáem dansando, sáem rodando, batucando, pelas ruas da cidade... · - E Bragança enlusiasmada abarca toda a marujada, vai dansando com as marujas, · vai mantendo a tradição. .. Deus Menino é que não gosta ao certo dessa batucada pois que é de S. Benedito toda aquela devoção ! Os chapeus das marujas é que enfeitam a paisagem ! Espelhos,_ missangas vidrilhos ruidosos penachos pomposos e as fitas esvoaç,mdo o arco-iris no ar. M Tia Silvana, a _capitôa, vai á frente das Marujas marcando a cadencia, contendo o rojão . . . E as marujas rodopiam ao som da música nativa as sãias tufadas arrastando no chão _.. Os tai'iibores marcam o ritmo da dansa e a melodia entra no corpo das Marujas. • l , 1 .l E por toda a cidade 1-1 ~.- -·--, - · • ,.:~ l._ •. : lá se vão cavalgando nas asas do vento os tan-taris dos tambores, o ronco da onça e a voz fina e chorosa, destoante e imprecisa daquela amargurada rabeca sitiense.. . O' marujo Sera.pião ! onde estás, marujo velh~ • dos meus tempos de armador de barquinhos de sargeta ? Onde estás, Serapião ! que não vens com tua- sombra envolver os corpos suados, os fartos seios bambos e os quadris boliçosos, trepidantes, dessas tuas MaruJas bem bonitas ? Só a velha Serafina, a finada capitôa, está dansando na lembrança das Marujas que ficaram . .. E as Marujas vão dansando, vão rodando, batucando, para a burguezia vêr ... ~ ~ ~ .:: ~ 1 (} ~ 1 ♦ - Viva S. Benedito oue é Santo de côr ! Que era mestre quitut eiro, camarada do pobre, porque sempre dava pão pra ele comer . .. E o Juiz e a Juíza, ungidos ·de- fé, homenageam o Negro Santo Quituteiro servindo ás marujas quitutes gostosos maniçÓba cabidelas sarrabulhos sarapatel· - que poema incomparavel, o sarapatel ! moÍhando E a guariba - - e o aluá - manicuera gengibirra _. tiquira a gorgan!a sedenta da gente .. . Para ver· a Marujada corri um dia inteiro por ci~ dos ·trilhos e fui espre~çar-me ás margens do Caeté ... E depois- de patinhar a lama dos seus mangais, vadiei pela cidade de Ghico Pinheiro - que gua,rda, avaramente, esse resto -gostoso do africanismo colonial... Marujada ! Marujada ! Os tan-tans dos tambores, a onça roncando, (a cuíca do morro~ a onça ql!_e ronca!) as marujas dansando, dansando, rodando, espelhos missangas - vidrilhos ruidosos penachos pomposos é Bragança-Colônia-, é Bragança-Negroide, que o poeta sentiu, apalpou, conheceu, mostrando, enciumada, o batuque africano que o Brasil esqu~eu ! ~""'– ~ 20 - 2 - 1943 PARA' ILUSTRADO

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