Pará Ilustrado - 1943
< 1)e /}züeJwi ~ JJallá 71~ J ~(J.1)· - Ora, os seus negócios ... - interrompeu ·ela, irritada - Sempre os seus negócios ! .. . Até chego a imaginar que você já me não queira mais. . . . - Tolices, filhinha, tolices... Nem pense mais assim: .. Estas cênas repetiam-se com frequência, e por muito repetidas tornaram-se azêdas dei– xando-os sempre de máu humor. Ela cho– rava, muitas vezes, com ciumes, imaginando coisas.. . E uma atmosféra inquietante e já insuportavel começou a envenená-la; um am– biente pesado d.e suspeitas e má vontade pai– rava dentro de casa quando por lá aparecia o Pedro, de ordinário apre~ado, a arrumar as malas para as suas. continuas ·viagens de-.ne– gócios. • • • Certa noite, t1i:n dos seus ' 'melhores ami– gos convidou-o para uma visitazinha ao Cas– sino. Que diabo ! A vida, afinal, não consis– tia só em trabalhar. . . trabalhar... - Tenho certeza - disse-lhe - que vais gostar: .. De resto, tu és um homem de sorte, ó Pedro ! Quem sabe lá, até, se· em dois o~ tres lances não arrancarás a esses .-empatur– rad~. banqueiros .uma bôa maquia ?• • • Quem tem sorte, tem-na mesmo... . . · A principio, Pedro Policarpo pôs naquele insidioso convite um pouco de relUtancia. N'"ao sentia, na verdade, grande simpatia por esse gênero de diversão. Mas depois, ássedia– do pela insistencia do -amigo, pensou, ·pensou muito e lá se decidiu, enfim, a ir ao cassino. E divertiu-se a valer. Dansou, bebeu, jõ'gou e ganhou. Estava tonto de prazer e mais ufano ainda de sua at~ção vitoriosa n!).(luele meio que ele nunca conhecera. E para co– roar as glorias dessa noite e o brilho do seu exit.o de estreianiie, não lhe faltou tambem uma conquistazinha amorosa; .. Ora, afinal, ele precisava viver, desafogar-se·. Lá por dentro, o coração ..dizia-lhe, porem, que mui– to queria ainda ·á boa- companheira de tantos anos. E aquela extravagan_çia, aquele efe– mero passa-tempo, em nada, absolutamente, prejudicaria o seu grande oamor pela mulher querida. Afinal de contas, tudo aquilo não passava de fugaz capricho de homem de ne– gocios.. : • • • Pedro Policarpo, daí por diante, começou a frequentar, assiduamente, os cassinos e clubes chiques. Transformara-se, mesmo, em pouco tempo num verdadeiro terror das bancas de ·jogo. Sua miraculosa ··sorte no pano verde tornara-se proverbial, e até .o mu– lherio elegante e viciado daquelas baiucas de luxo que e~e frequentava tinha sempre á boca o seu nome já famoso . Pouco a pouco, a paixão do jogo foi dominando, e todas as suas atividades men~ais viviam presas áque– las emoções violentàs- ex~ nuantes, das so– mas fabulosas que ele atfrava"-.á... sorte dos numeros. Pedro era ousado e dominava-o tambem, completamente, um furor satãnico, uma inconciencia morbida, convencido que estava de sua invulnerabilidade quando en– frentava a roleta ou as cartas:,-- . Interessa– va-o, mesmo, muito mais o cnocalhar sêco das fichas do que os sorrisos prometedores das lindas mulheres que .o cercavam. Aq~e– le vicio terrivel era mais forte que as tenta– ções da carne. O jogo, porem, é perfido e manhoso .. . E os banqueiros, por sua vez; ao verem-no ganhar enormes \fortunas, ( sorriam fleugma– ticamente confiantes no tempo, na propria sorte, tambem, sempre incerta e varia, e muito mais ainda na ousadia desenfreada do Pedro. • • • Uma 'noite sofreu .ele a primeira derrota : perdera cem contos em poucas horas. Mas sdltou gostosas gargalhadas .. . Afinal era di– nheiro de jogo. Sua fama, porem, não po– dia ser abatida, assim, com uma ninharia daquel!J., e logo na noite· seguinte lá voltou ele para perder outros cem contos e aumen– tar a ' desmoralização dos seus foros de joga– dor afortunado e invencivel. Dessà vez ir– ritou-se. E os banqueiros e "faróis" conti– nuavam sorrindo, á socapa, e · instigando-o com animadoras palmadinhas nos ombros... A essas duas noites de fracasso seguiram– se outras mais, e, a despeito disso, Pedro não se dava por vencido. Ao contrario: aumen– tavà doidamente as "paradas" . Alguns amigos mais sinceros e· sensatos aconselha– ram-no a desistir de lutar com os azares da sorte. Mas ele era teiinoso e irritadiço como todo jogador inveterado· a quem só morrem . as esperança quando se lhe foge o ultimo vin– tem. O vicio já se lhe havia enraizado nal– ma·. E em pouco tempo, perseguido por azar inevplicavel e persistente, Pedro havia já perdido mais de metade de sua fortuna . Descontrolara-se por. completo. Perdera to– talmente o tino para resolver, até, os pro- ·- blemas imperativos nos seus misteres comer– ciais. Caira num lastimavel estado de ab– soluta ausencia de bom senso. Aflito, imper– tinente, num desassocego tremendo, só uma idéia o dominava obsecando-o, sugando as esc~as energias que lhe restavam : ressar– cir o dinheiro esbanjado no pano verde. · Em consequencia dos seus desnorteias, ou– tros desastres financeiros, na Bolsa, vieram juntar-se aos já avultados prejuizos do jogo, exacerbando-lhe o desespero e apressando– lhe a catastrofe total. Estava já arruinado e cheio de <Uvidas . E se um golpe feliz da sorte o não afastas!\e do abismo em cujos bordos oscilava,' nele acabaria por afundar completamente . • • • Pedro Policarp'o já 'não podia mais ocul– tar aos olhos de quantos o conheciam a sua ruina e desgraça ~ Os "amigos" fugiam-lhe e as mulheres supersticiosas evitavam-no te– mendo-lhe a jetátura. Sentar-se perto dele e_m mesa de jogo era perder na certa. E o ( . ~ ~ ~ .,..,""""- apatimento que sua palidez e magreza reve– lavam, dava-lhe já, assim, o aspecto tristo– nho e desolador de homem gasto, alquebra– do e iflteiramente vencido -nas pugnas da vida. Envelhecera; velhice precoce que lhe enchia a cara de sinuosas trilhas de sofri.~ mentas e apreenspes. . . · . De tudo que possuira restava~lhe, apenas, o.dinheiro da hipotec~ da propria casa onde morava, e foi com ele que Pedro, uma noite, decidiu tentar a ultima abordagem ao bar– -co desgarrado de ·sua fortuna predida. Ate– morisava-o a espectativa desolante de retro– ceder·á sua vida passada. de besta do traba– lho .assalariado. Foi, porem, ·infeliz. Cum– prir-a-se o fatal designio. Em cada movimen– to giratorio,..dacj_uele instrumento do vicio e do crime, da morte e da loucura, Pedro via, • estarrecido, aproximar-se o fim desmorali- . zante· do seu já empanado pr,estigio e obs. curecida notabilidade. E quando, pell!, ma- · ·- drugada,· deixou o cassino, era um homem " _depenado" e perdido; era, simplesmente, 'um Pedró Policarpo qualquer. . . · · - ... ... As ru!l,S, -áquela -hora avançada da noite, estavam desertas de pedestres . Apenas al– guns luxuosos autômovels enfileiravam-se nas imediações daquele feérico palacio das ilusões. Pedro caminhou um pouco é, aleni, sentou-se num banco de jardim. Tinha a sensibilidade como que: entravada. · ' Pôs-se a olhar o mar cujas ondàs, altas e espuman– tes, vinham esparramar-;.se com. estrondo na areia branca da praia. E assim esteve longo tempo, derreado, abatido, automaticamente contemplando aquele espetaculo, toda a alma âpertada nos grilhões de inexprimivel an– gustia, sem ter coragem de tomar qualquer · iniciativa, as idéias a se esbarrarem umas nas outràs, num ,espantpso cáos ·de ·concien– cia falida... Seus nervos, enti::etaiito, •iam lentamente se desemperrando tocados pela ação · .vitalisante de impressiona,.dofas ima– gens criadas no tun_i.ulto de sua mente. . . Um sentimento enleante. foi, aos pbucos, desper– tando-o para. a realidade. das coisas. Pen– sou ·na companheira_e na filha. E · uns cla-– rões de felicidade· 11Ullliqaram-lhe' o antigo .campo, de suas atividades. Todo aquele ·re– cente cenário alucinante - de gloriosàs con- ,quistas pàssou tambem, veloz, -pela ~ visã.9.– interior. . . Lama e perfumes; miserias e ·, grandezas, tudo se misturava na atordoante tempestade que lhe arrasava a alma. :·. Fir– mou-se, no entanto, cheio de novas energias; · num proposito ferrep: voltaria a -ser outra vez modesto proletario. Retornaria á luta antiga, animado, agora, e mais ainda, pelo. amor simples, mas sincero e afetuoso, de sua mulherzinha amaqa . E chorou, arrependi– do, pelo abandono em que a deix!ll"a, cego que estava, no delirio de suas ambições. Cresceu-lhe no espirita um ódio feroz ao di- (Contln-6& na pipi& 52 (1Anica M40-af1fM--. de dadde M4 ,/a'LendeiJwd- no. JJallá) j - - - 1 [lli!J(!l @Q)~~(!l~ _ (!J□[l[ij[lõ@al 1 §úJ ~ ~(!)□[!](!) ~(!J~11(!)[1a ~~@-fone. f184 Recebe gado dos ·seus associados para falhar de sua conta e ri~co, cobrando modica comissão p(?r esse ,serviço; assegurando, desse modo, os melhores preços do mercado / PARA' ltüsTIW)O -9- I - r
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