Pará Ilustrado - 1943

O trem das seis, de Nova York, entrou es– trepitosamente na estação de Fairport. J ohnson, com escritorio de corretor e leiloei– ro, nas proximidades da estação, apressava– se em fechar a porta diante da qual se encontrava o seu automovel, de um mode– lo antiquado, que, com grunhidos de asma– tico, levá-lo-ia, dentro em pouco, á sua casa. O trem partiu, deixando sobre a platafor– ma um passageiro solitario que conduzia uma maleta. DW"ante al_guns momentos, o ho– mem não se moveu, como se não soubesse que resolução tomar. Depois aproximou-se de Johnson, que estava muito_ocupado na düi– cll tarefa. de pôr em marcha o motor do seu vetusto veiculo . - Desculpe-me, cavalheiro - disse ele. Creio que o senhor é corretor nesta locll.l.ida– de, não é verdade ? Eu me chamo :,"orge J arvis, estou chegando de Nova York e pro– curo uma casa para o verão. Johnson, cujo rosto estava adornado com uma espessa barba encanecida, esquadrinhou o • seu interlocutor com ess_i! olhas receoso com que se costuma observar um estranho. o jantar o estava esperando em casa, e isto lhe importava mais do que qualquer nego– cio. Com um esforço herculeo conseguiu pôr em movimento o motor e, quasi asperamente, xespondeu : - Por aqui, que eu saiba, não ha nenhuma casa desocupada. Todos os chalets -foram alugados. Este ano houve muita procura . - Depois tomou o automoveL-e- piu:tru . - A amabilidade não é o que lhe sobra - disse Jarvis para consigo. ' Bem; é pro- vavel que haja outros informantes mais de- licados. Irei ao hotel. · Encontrou em caminho o Hotel Bela Vista, tomou um quarto .e depois de uma excelente refeição, titavou conversação com o proprie– tario. - E' verdade - observou o hoteleiro. Jobnson é assim, um pouco a.spero, mas, ti– rando esse defeito, é uma excelente pessoa. E o que lhe disse a respeito de casas, é a ver– dade . Estão todas aluga-das para esta tem– porada. Não lhe indicou a c~ de Halden ? -A casa de Halden? - repetiu Jarvis. Não. . - Já o imaginava - disse o dono do hQ:: .tel. Encontra-se num estado desastroso . Ha mais de tres anos que ninguem mora nela e está quasi totalmente em ruína. Não ha de ser fa-eil encontrar quem queira habi- tá-la. - - Pois eu não teria inconveniente algum em tomá-1a para o verão - observou Jarvis. - Nesse caso, poderá alugá-la pelo preço que quiser - respondeu ô hoteleiro. A sra. Halden não tem com que- piigar os impostos, e cõnsiderarla como um presente do céu qualquer coisa que pudesse eirar daquela casa. - Então, será melhor que eu procure essa senhora. · -E ' inutll, porque Johnson é o encarrega– do de administrar a propriedade. -Mas, se o senhor quiser, pode fa:lar com o filho, que -está neste momento na sa~ de bil?ar. _ Gostaria de visitar a casa - disse Jar– -vis - pois me in!;eressa e pode ser que eu a alugue. o hoteleiro acompanhou-o então a Ufna sala cheia de fumo, onde, entre varios ou– tros um rapaz de aspecto doentio, polidissl– mo, ' observava extasiado, uma partida de bi– lhar. - Este é o sr. Jarvis, de Nova York disse-lhe o proprietario do hotel _:_ e que tem interesse em visitar a casa.. o rapaz fitou Jarvis timidamente. - Para que quer o senhor visitá-la ? - perguntou. - Porque - disse Jarvis - pensava alu– gá-la para este verão. - E' verdade que pensa, nisso ? - excla– mou o jovem Halden, lncredulo diante do que 20-2-1943 acabava de ouvir. Bem, venha comigo. Não fica longe daqui. Lançou um ultimo olhar á. mesa do bilhar, como se lamentasse ter que deixar um am– biente tão do seu gesto e saiu do hotel, se– guido por Jarvis. Não tardaram em chegar a uma constru– ção quadrada, de tijolos vermelhos, situada a pouca distancia da estrada. Uma dupla fileira de cedros mar,gi.nava o caminho, des– de o portão até á porta da casa, é as arvores tinham, com ,a luz do anoitecer, um aspecto lugubre. . Plantas em excesso e arbustos ocultos con– tribuiam para o aspecto de gesolação geral. -Esta é a casa - disse Halden. - Se eu fosse o dono disto - disse Jarvis, examinando em tomo - a primeira coisa que faria seria eliminar todos esses cedros. Es– tas arvores projetam demasiada escuriqão. Por outro lado, umas flores tomariam a ambiente muito mais alegre. O rapaz parecia perfeitamente indiferente aos conselhos do seu companheiro e o pre– cedeu por um caminhp que os levou até os :fundos da casa. Aí Jarvis alegrou-se com a [:) (TI [3!1} ~ (!}~ mm~~m~ · vistá de um pequeno jardim que com um pouco de cuidado poderia se tornar agradavel e atraente. Havia uma grande parreira e algumas ar– vores :frutüeras começavam ·a brotar. O rio Sound vinha banhar um lado da propriedade e uma ponte de madeira estendia-se sobre as aguas profundas. - Isto é outra coisa ! - exclamou Jarvis, respirando profundamente. -Sim - respondeu Halden. E um barco de dimensões.respeitaveis pode atracar nesta ponte. - Poderiamos entrar na casa ? - pergun– tou Jarvis. Gostaria de visitá-la. Por toda parte viam-se postigos hermeti– camente fechados. Jarvis foi a uma das ja– . nelas e, intentou abri-la, mas devia estar presa -interiormente, pois resisti\\ a todos os seus esforços. - E' inutll - disse- Halden, que observara o seu gesto. Está tudo fechado e as chaves estão com Johnson . Amanhã o senhor po– derá. procurá-lo e visitar a casa. - Eu gostaria de falar a sua mãe, antes de alugar a casa - disse Jarvis.. - Não ha inconveniente - respondeu Hal– den; mas o que ela lhe dirá, é que procure Johnson, pois que é ele o encarregado da propriedade . - Já o sei - respondeu Jarvis - mas eu estive com Johnson há algumas horas e ele me disse que não havia casa para alugar. Nem se referiu a esta. - Provavelmente pensou que o senhor não havia de querê-la - disse Halden. · Voltando ao hotel, passaram pelá casa em PARA' ILUSTRADO ~ que morava a sra. Halden, uma mulher ma– gra e angulosa, a quem o trabalho e as preo– cupações haviam envelhecido prematura- mente. · - Este cavalheiro- vem de Nova York e pretende alugar nossa casa - explicou o filho . , Ela tambem pareceu ficar muito admirada com o· fato. - Será melhor que fale com o sr. Johnson disse, depois de uma pequena hesitação. E: .ele o encarregado. - -Já falei com Johnson - repetiu Jarvis. Mas ele não me disse que sua casa estava para alugar. Não parece que o negocio lhe ~teresse. Qual seria o preço -para a esta– çao? -; Os ultimos que . a alugaram deveriam pagar trezentos dolares - disse a sra. Hal– den. Mas não sei o que aconteceu; muda– ,ram-se logo sem me pagar nada. - Pois fará melhor negocio comigo - res– pondeu Jarvis, sorrindo. O preço não me parece excessivo e creio que vou alugar a casa . Nesse caso, pagar-lhe-ei já a metade. - Será melhor que arranje- tudo com Jonhson - repetiu a sra. Halden . ••• Na ma.nhã seguinte, Jarvis- obteve uma en– trevista com Jobnson, -aguem não agradou muito tornar a ver o desconhecido. · - Não - disse o encarregado. Não lhe fa– lei -da casa da,- sra. Haldefi, porque estava convencido de que não a. quereria . Os ulti– mas inqµilinos ficaram nela só uma noite. Isto foi ha uns tres anos e ninguem habitou a casa desde então. -Mas, que aconteceu? _; perguntou Jar– vis . - Parece - . respondeu Johnson - que essa casa tem uma historia, uma historia tragfca. - Quasi todas as casas velhas teem uma historia tragica - observou Jarvis. · Qual a historia desta ?. . - Conta-se que wn homem que ali mora– va, m!l,tQu a mulher e depois se r.uicidou - exp1icou Johnson·. Mas- como se achavam -em dificuldades financeiras, acreditou-se sempre num duplo suicídio. Os cadaveres foram achados no jardim. Como lhe disse, a gente que alugou a casa, não quis ficar nela ma.is do que uma noite. Não sei o que terá havidQ, mas, de qualquer maneira, por nada deste mundo quiseram ficar, mais .um dia . E ago:ra a casa tem fama de ser frequentada por duendes e aparições. Desde então ja– mais pude conseguir alugá-la . -Bem - disse Jarvis, sorrindo. Não sou supersticioso e estou perfeitamente bem dos nervos. Se a casa é habitavel, alugá-la-e!. Quisera, por isso, visitá-la. Com muita resistencia, o encaregado acom– panhou Jarvis á casa em questão. Os comodos estavam humidos e cheios de mofo pela longa falta de ar puro. O pó, acumulado ha varios anos, cobria os moveis. O tecto devia deixar passar a chuva, a jul– gar peías manchas nas paredes. Mas, ape– sar de tudo, podia-se considerar a casa como h abitavel e com alguns cuidados seria possi– v.el •pô-la em boas condições. - Está bem - disse Jarvis. A casa me serve . Achava-se naquele momento na sala de jantar e Jarvis tentou abrir uma porta, - E' a porta que conduz ao porão - disse Johnson nervosamente. Está fechada a chave, não é ? Espere um minuto. Pode ser que wna destas a abra. Mas nenhuma chave serviu. -Não. importa - disse Jarvis. Imagino que será como todos os porões ? Quando posso múdar-me ? Gostaria ·de fare-lo ime– diatamente. ...... Isso não é possível - apressou-se & di– zer Johnson . Não ha camas, como vê . E , alem dis.l?o, falta uma grande quantidade de (Contlnúa na pqbl& 58 - .3 -

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