Pará Ilustrado - 1943
J - E como você iniciou a sua carreira ar– tistica? - Quando e como, não me lembro bem. Meu passado anda por muito longe, amigo ! • Bem pra lá da minha lembrança. . . Mas, · sei que ai por 1895 ou 96 cheguei a Natal, for– mando um "duo" com o artista francês Eu– genia Profoilé . Sob o patrocínio do governo daquele Estado, exibimo-nos ao publico, con– seguindo gerais aplausos. Da minha estréia, com Eugenia, em Natal, guardo este porme– nor simplesmente empolgante : _A nossa apresentação ao publico foi jeita pelo dr. Augusto Severo que, após, teve este gesto al– tamente significativo pela espontaneida.cte confortadora e honrosa para nós : puchou a corda do pano-de-boca, para a nossa pri– meira representação ! . . . Augusto Severo, aquele eminente patricio, herói e mártir do idealismo 't>uro, e que tem hoje o nome au– reolado de glorias, como um dos pioneiros da nossa aviação ! Yôyô Coelho é interrompido pelo netinho travêsso que deseja saber como se chuta uma . bola por alto para o quiper não ver . . . E o velho artista, ao neto curioso : - De bicariga, meu filhinh,o ! De bican– ga... E enquanto o garoto vái ver se consegue resolver o placar com um goleiro imaginaria, Yôyô Coelho vai dizendo : · · - Sou filho do Rio Grande do Norte. Vim para Belem em 1897, e, no teatro, fiz a minha estréia na revista "O Cirio", de Artunio Vieira, em 1898. Meu papel foi o de um sol– dado de policia. Aliás,- por disposição cêni- ' ca, o soldado "comparecia" embriagado. . . - De verdade mesmo ? -Não. Isto é, "de verdade" para o pu- • blico e " de brincadeira" para o artista.-.. Mas,. bem. O chefe de policia de então, após ·assistir ao espetaculo, foi ao meu camarim exclusivamente para... para proibir-me de fazer com tanta 'naturalidade aquele papel, por considerar o mesmo deprimente aos ele– mentos da briosa F . P. do Estado. Prome– ti. Na noite seguinte, tive uma contrarie– dade qualquer. . . E, após a primeira sessão, lá estava, em meu camarim, s-. excia. a di– zer-me : . _:_ "O sr. é um peralta, um insolente, um indisciplinado ! O sr. prometeu acatar a minha ordem, e hoje, (s. excia. tossiu, es– carrou, fungou!), e hoje ... você me compa– rece mais "emõriag11-do do que nunca" ! " Rimo-nos, ambos. Eu, do incidente gra– cioso. . . Yôyô Coelho, do incidente, e, talvez dos naturais escrupulos de s . excia. - E, pela ordem, quais foram as suas ou- tras oportunidades ? · -Na "A Mulata da Baia", a revista que teve 22 representações na ultimá noite da Festa de Nazaré do ano de... ' Yôyô Coelho procura o ano e não encon– tra. . . Mas o desfile continu\l, : -Fiz os papeis de "Reduto" e "Repor– ter" na ainda hoje sempre lembrada revista "O Tacacá", de Euclides Farias com musi– ca de Cincinato Sousa. E, seguindo adian– te, na minha especialidade de centro-cômi– co, fui defendendo o cartaz e os "milhos" nas peças teatrais "Repini~a o vobis", do saudoso Mendo Luna; " O Bóde", de Julio Jacques e Romeu Mariz, encenada na A. D. Recreativa; "O Maxixe ", "Seu Fagundes", de Eduardo NUtJ,es ; "Me deixa, xodó !" . . . ~------!!!!!'!!!!!"!!• {Carpinteiro Naval e Civil) Conslroe e concerta barcos. la11- chas, boles, carrosserie de camionetes. carninhão, onibus, char– rete. ele. Acei!a serviços de construção civil. assim como. de encanador, vidract>iro, funilei ro, todo e qualqúer trabalho de sua especialidade. Trav. Apinagés, 178 BELEM-PARA 0 iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaiiiiiio •••••••••• li •••• •••••• Yôyô Coelho interrompe o desfile para impor: -Olhe, antes de mais nada. Diga aí que eu considero "O Tacacá" a melhor revista escrita e encenada para o nosso teatro re– gional. E é em homenagem aos saudosos e queridos coJegas que a interpretàram que eu lhes vou cintar os nomes : Elmira Coelho (o Tacacá); Leonor Coelho (a Praça da Repu– blica) ; Maria Amelio (A Moda) ; ·Fioripes Santiago; Clarjndo Santos (o Município de Belem) ; Cassulo de Melo, o Cassulinho, Catá Penante, todos eles valiosos artistas do nos– so teatro de ontem... · - E qual a ultima revista em que traba– lhou? -"Não quero chôro !", de Elmano Quei– roz, E diga-se de passagem que essa revis– ta teve um movlmento financeiro excepcio– nal. Após esse meu ultimo contrato, foi que, em 1926, organizei a "Troupe Sertane– ja" e a apresentei ao publico, no "Varieda– des", com a peça "Um padre em apuros". E,. então, feito ator, autor e empresario, ex– cm-cionei a "minha companhia" ao Mara– nhão, fazendo escalas por diversas cidades da E . F. de Bragança e daquele Estado. - Quais os elementos que formavam essa Troupe? - Eu, Flavio Coelho, o Caiapõ, Julita Lo– pes, Jací, Francisco Teles, Norberto Silva, José Figueiredo, cenografo; Carneirinho, maquinista, e Constancia Lopes, modista. 'I Banquetes, festas, recepções, foi o que a "Troupe Sertaneja;" • recebeu por toda par– te onde se exibiu, muito especialmente nas cidades do interior do Maranhão. Foi uma excursão simplesmente maravilhosa ! Bons tempos, aqueles ! - Um itinerario bem longo ... - Mais ou menos. . . Capanema, Bragança, Vizeu, Carutapéra, Turi-Assú, Viana .. . Ah! quando cheguei a Viana fiquei "abestalha– do" de ver na fachada de quasi todas as casas, placas e taboletas com esta inscrição respeitavel : . "Polidoro Silva, engenheiro" - "Geroncio Bastos, engenheiro" - "Tere– bentino Porto, engenheiro"..... - Uma cidade de engenheiros... ~ Isso mesmo . Uma originalissima cida– de de engenheiros . . . de cana de açucar ! .. . Donos de engenho, senhores de engenho : engenheiros . .. - E a caravana prosseguiu. . . -A nossa, sim. A dos engenheiros ficou para trás . . . Em S. Luiz entreguei a direção da troupe ao meu filho Flavio, que prosse– guiu com ela até Terezina, onde foi dissol– vida, mais pelo cansaço dos artistas do que pelo resultado financeiro, que até final foi otimo . - Que nos diz sobre a atividade dos nos– sos atores de hoje ? -Quasi nada sei sobre eles. Ainda quan– do podia ir ao nosso tradicional "quartel– general ", ali no "Bar Estrela de Nazaré" sempre estava ao par das intenções artis– ticas dos meus colegas ... Infelizmente, hoje vivo apenas da saudade dos bons tempos de outrora. Como, por exemplo, recordando a convivencia de um Serafim Cardoso, atual– mente coletor estadual em s . Caetano, mas, ontem, festejado artista amador dos nossos palcos, e que ainda guarda, com paternais cuidados, excelente repertório de peças tea– trais . . . -Entretanto ... - Sim. Seria uma grande injustiça não referir-me, aqui, a outros colegas,. pois eu bem reconheço em. Carlos Campos, Paulo Borba de Castro e João Andrade, elementos que sempre honraram as tradições do nosso teatro de amadores. Tenho por eles sincera admiração, muito especialmente por Pauto Castro, no qual sempre observei um "cere– bro-pensante", reservado nas opiniões e franco nas átitudes... Diga a eles todos que eu, o velho Yôyô, os está esperando por aqui, neste meu isolamento, para uma palestr~ amigavel a qual eu chamarei desde jii. de "cavaqueaçãô da saudade" ... E como compreendemos que a nossa pales– tra estava para dobrar a esquina da pac!en– cia de Yôyô· Coelho, resolvemos deixar ero paz aquele velho artista que o publico esque. ~eu . .. E, já na cancela da sua aprazível vi– venda, ao despedirmo-nos dele, agradecidos pela sua gentileza cativante, ainda arrisca– mos esta perguntazinha oportuna : - Será que o nosso Teatro Regional tende a desaparecer mesmo ? E Yôyô Coelho, distribuindo esperanças : - Não ·creio. Que os meus colegas espe– rem os acordes da nova melodia qt.e ha\'e– mos de ouvir após o término de tode esta desafinação universal ! . . . . E, assim, deixamos Yôyô Coelho, gozandc a paz, o silencio e a quietude da rua. da Ola– ria, lá nos confins do bairro de Canudos . .. r 'Uniea, Md,~ de dMi1e (Í().d, ~ ,u,. 1JaJUi) [3(!][} ·@(:)~ • (!l[Il aJílí:lfilflla 4](3 1 ~a] - · ~(!}□f!l(!l [;l(D~íJ(!l[k ~~(3-fone. 2184 Recebe gado dos seus associados para talhar de sua conta e risco, cobrando modica comissão por esse serviço. assegurando, desse modo, os melhores preços do mercado - 32 - PARA' ILUSTRADó 2.:3-- 1-1943
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