Pará Ilustrado - 1943

. Maracanã teve, outrora, o destino das no– rescentes cidades . Os seus dias de fausto e opulencia já passaram. Hoje, restam qua– drados de matos soterrando o progresso des– _se passado. Cidade de tres se·culos . Des– mentiu o avanço ciclonico da lei de evolução. Os destinos das cidades çertamente depen– dem do espirito construtivo ·dos homens de ação. Há tambem uma manifestação anor– mal nesses agrupamentos · humanos, caracte– rísticos dos fenomenos sociais . Mas, Mara– longe está desse determinismo social plicidade cabocla há muita verdade eterna . Talvez tenha razão o genial J . · Maritain, quando diz que o progresso cria maravilhas de caminhos para morte . _COISAS QUE -NOS FALAM DO PASSADO A "velhice" de Maracanã é como a dessas mulhe-res que trazem restos de formosufa oriundos da mocidade . A primeira impres– são desmente tudo isso. Aos poucos, pene- men te de cer tas capitais ew·opéias . o modo de trajar tambem alcançou os seus dias de gl-0ria . Duas organizadas oandas de musica brilharam nesse tempo . Entretanto, tudo ísso teve os seus dias num passado. Mas o tempo poderá como o homem, destruir tudo materiaimente, mas a recordação desses dias, .sempre terá o sentido e a grandeza na his- toría de um obscw-o passado . UM PLAGIO DE ULISSES PENAFORT A propria arte teve seus grandes momentos. Nos jornais as po[emicas literarias se fize– ram sntir . A " Voz de Cintra", " Municipio de Maracanã ", " Tuba " e outros jornais fo – ram fundados em Maracan1i . O nome de Eziquéil Lisboa corria pelo Imperio todo . Seus livros didatices eram usacfos em toda a Provincia. Homem culto, amante d_?s letras. Luar sobre o rio Maracanã Desfrutando a;s delicias de uma farde de verão lÍ margem do rio Mar.acanã Por esse tempo, residia tambem n essa cidadP. o conhecido filologo da língua tupi-guarani, padre Ulisses Penafort . que não deixa de ter o seu nome ligado a Maracanã . Foi um sin– cero nacionalista. Conseguiu a mudança do antigo nome português, S . Miguel de Cintra, para o atual. Um caso obscuro e interessan– te para os amantes das letras, vive ligado á pessoa do douto saeerdote . Comungava tam– bem, no meio dos literatos desses felizes tem– pos, o professor normalista Antonio Paraense de Leão, que era dotado de ·vasto cabedal de cultura e conhecedor da lingua " Geral " . Sendo o padre Penafort proprietario da tipo– grafia onde se imprimia a "Voz de Cintra " , orgão dirigido por si, comprometeu:se a im– primi.!• tres livros do Professor Paraense de Leão . - Inexplicavel é ·essa dei:rõcada de progresso, quando verificamos as possibilidades de suas renáas, atualmente bem animadoras . Quem pela primeira vez hoje procura esse municí– pio, fica desolado . Não crê na história do seu passado . A destruiçã.o foi completa . O tempo a,niquilou tudo na sua marcha re– troativa. o proprio rio aos poucos vai devo– rando à cidade. Só a beleza de sua bucolica paisagem, a hospitalidade de sua gente e o· inegualavel clim!\, que a natureza doou á Maraeanã, não sofreram transformação . ABUSõES E O CONC~ITO DE J. MARITÀIN Não obstante as condições a que·Maracanã chegou, a alma do caboclo praeiro não sofreu o deslise desse lastimaV'el estado de coisas . Sempre bom. Cheio ·de um otimismo sadio. Feito das batalhas contra o mar, adquiriu o caboclo do -salgado, essa constancia e persis– ter:cia. Mas possue, tambem, a 'sua propria fi10sofia . Crendo nos homens duvidam dos fatos, crendo nos fat-OS duvidam dos homens. E transmite aos filhos, juntamente com a desambição, o heroísmo anônimo e essa pas– sividade cabocla . ~ Seu moço, é cabeça de -burro que o velho :ualaquias enterrou no fundo do quintal". Para çutros é o n-0me. "Quando isso se chamava. Cintra, era. outra coisa., Ma. ra.ca.nã é bicho destruidor, qua.n~o entra no roça.do desgraça tudo ". E a.os mais chegados ao fanatismo religioso, só compre– endem essa " debacle ". com a surra que so– freu ali certo vigario, e o casamento de um padre . E' assim que o bom filho da costa do salgadó entende e justifica o atraso . de Maracanã . Eles são cimples. mas nessa srm- trando por certos fatos que nos falam do pas– sado e de. seu povo, vamos compreendendo e .iuerendo melhor Maracanã. Velha ela está hoje . Não se enfeita com "rouges" e "ba- Eram esses livros, uma geografia, grama– tons" das otimas administrações . ·Mas essa tica e um dicionario, tudo na lingua tupi . velhice é artüicial. - Maracanã é linda den- Mas nesse interim, o aludido reverendo foi tro de seu vestido su)o . Vai perdendo a for- vitima de uma agressão, motivada por ques– ma de cidade . Falta-lhe -esse retoqrre dado tões· políticas . Obrigado a deixar a fregue– pe1os bons dirigentes. A culpa não é sua e zia de s . M . de Cintra, levou consigo os di– nem de seus filhos. Do tempo e dos -, ho- tos originais dos tres livros por imprimir . mens: . . Os seus dias de l!lOÇa contam-nos Mais tarde, com o falecimento do professor. muita coisa. Cinco trapiches fugiam de ter- Leão, veiu a publicação de um ou maµ; desses r.a para o- mar . Restam a9is. Os esqueletos livros, se não me eBgano a gra.matica . Mas dos tres servem de abrigo ás canoas de pes- para outros, isso deixa _de ter o " sal " da ver– ca. Restos de um cais de pedra,. -construido da.de, Inegavef, sabemos, foi o valor intelec– pelos jesuítas nos lembra a época da escra- tual de Ulisses Penafort. Outros jornais vidã:o ._ Da guerra da Cabanagem nem O no- surgiram, "O Município de Maracanã", "A me . Cintra é hoje Maracanã. Recordando Tuba " , etc ., onde a pena e O talento.do poe– a historia da- escravatura, existe perto da ci- ta João Celso Cunhá se fizeram aparecer , dade uma povoação com o nome de Fugido, Brilharam nessa;· época, Teodoro Pallµeira, na sua totalidade habitada por pretos . Evo- - Deldllque Pinto, Francisco Palmeira e muitos cando a arquitetura antiga, ~aracapã pos= outros. Noites de art!!--mus1cal -e teat ral a sue _o Grupo ~colar • '.['tido isso sao_ fat~ sociedade daquelã épõêa tambem presenciou. e coJ.Sas que .nos falam a alma •- Aqw e ali Ter.-tulias;-dramas teatrais, pastorinhas, tudo montes de pecu:a, ~arc?s _çie um__ _g_esc<:>phe?f; - a gosto do espirita culto do dr . Mariano An– do _passado . Soo po -11ao- descreveª sua hIB- - tunes Tudo isso foi escorracado com o ca- taria. Nasceu, com certeza, como todos os priehÔ do tempo · rios filhos do mar. Ingratos . Querem de- · vorar as cidades que lhes deram vida . PARíS EM CINTRA A História de certas cidades : Cinco jor– nais floresceram em Maracanã de outrõra . Tiveram a fatalidade das coisas instaveis . Ironia da sorte . - Castigo de Deus ou dos homens. Umas sessenta casas- âe com~rcio marcaram o auge· da época. Dentr~ elas, ·' Paris em Cintra " . que importava direta- PARA' LUSTRADO ...... ··~••li a ■ e ■ 11.11a ■ 1a 1)!ddã6 de 1).e,,,tu? ENTEROBIL · 23- 1- 19+3 1 1

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