Pará Ilustrado - 1943
Ao dr. José Teixeira de Sousa, amigo culto ·e extremado I Estás velhinho já; estás curvado De tantos anos e de tanta lida . . . Inda assim, na alta cópa, ao céu [erguida, Traze_s um fardo, de óbulos pejado. Tal como estás, de esmolas carre- [gado, Fazendo, o bem a todos, pela vida, És de Tolstoi a estampa renascida; Falta-te ás mãos, apenas, o cajado. Em tua volta, os homens, noite e dia, Passam rindo ou chorando, atarefa- [dos, Na labuta sem termos, á porfia. Só tu estacas, sob o, céu profundo, Dando agua e p,ão, para os necessi- [tados, E olhando do alto, amavel, para o [mundo. II A Yolanda, Maria do Carmo, Z-ená e Jessé Assis, Hilda Vieira e Laurita Azevedo. Bem defronte do mar, de ondas bra– [vias, Sobre um barranco avultas incli– [nado; Estás de todo só, no descampado, Fustigado de sol e de invernias. Um dia, tomando do cajado da esperança, olhos pregados no infinito, parti. E po.,rque era jovem e forte quiz vencer. E levada pelo Ideal, paladino do Sonho, · atravessei montes e vales em busca do velo– cino de oiro de Jasão - a Felicidade. Cheia dessa fé, capaz de remover monta– nhas, seguia pressurosa e ávida, pelas estra- ~ ·~~~--~ ~,,,..._,.._.,.._~ (Inedito para PARA' ILUSTRÀDO) REMIGIO FERNANDEZ Tambem eu, como eles, buscava atingir o cimo dessa montanha inacessivel. Tambem eu auiz vencer os distancias. E dominada pela força do meu Ideal, seguia sempre. E nessa jornada tão longa, tão cheia de abrolhos, senti que os espinhos dos desenganos, mais cruéis que dantes, me queimavam as mãos, cha– gando-me o peito, outróra forte, pondo em minha bôca o gosto amargo das desilusões precóces. das da vida, sem me deter -siquer. Mas, como voltar, sê a poeira do tempo ha- E confiante cria que essa miragem deli- via apagado na estrada as pégadas das mi- ciosa, pela qual havia deixado tudo, existia h d'l' ? C d . - 0 an em alguma parte, em um canto qualquer, pai- n as san a ias. . orno ar ao C?raç~ C r- pavel tangível surpreendente - s~o_J!QYas ei_iergias, se as dec~pçoes . e pe.- ' ' · ~ -turbaram o ritmo ? Como abnr no peito tri- - -- lhos de festás, se as lágrimas lhe haviam dei- E caminhava... E meus olhos deslümbra- xado sulcos indeléveis? dos, óra pela imponência magestosa dos pa- lácios, óra pelas linhas sóbrias e recolhidas das catedrais, óra pelos monumentos, óra pe– las multidões, cujas mãos, frementes e a.fa – nosas, preparavam os fardos do progresso, es– queciam todas essas maravilhas, onde a arte, a industria, a natureza pleiteavam, para se fi– xarem, ·cansados e surpresos, em toda essa gente (!Ue lhes passava ao pé, curvados, do– ridos onde eu lia o estigma das dôres, das lutas e dos tormentos iguais; visionários como eu talvez, preliadores que foram vencidos, mas em cuja retina bailava ainda essa inter– rogação dolorosa : "onde a pátria dos risos ? " 23 - 1 - 1943 Fatigada, tendo no farnel da vida o 11ão duro da. experiência, cheguei um dia a um recanto humilde, onde a existência era mansa, onde os bálsamos se haviam feito para minha pobre alma envelhecida. E aí entr~ os cre– pusculos sem glória dos que cheg,ivam ao fim, escrevi chorando o poêfuã. de minha ,·Ida - Mocidade. Belem - 13 - I - 943. MARGARIDA LUCIA CARDOSO PARA' ILUSTRADO Velhinho todavia, estás pejado De frutos que nos dás todos os dias, - Delicia das melhores · iguarias, Veneravel Coqueiro abençoado. Quão diferente - o misero tributo Que recebi na luta pela vida; · Pois foi este, afinal, todo meu fruto : Quimeras, ilusões, sonhos dispersos, Angustia de vencer e de subida E esta poeira inutil de meus versos, III A Antonieta Santos Feio Não mo,rrerás jamais, velho coqueiro, Que, defronte das ondas cristalinas, Enfeitas as paragens de Salinas, Do alto de escampo, verdejante ou- [teiro. Viverás sem limite, sobranceiro, Este mesmo esplendor com que te [empinas; Pois, de divina artista mãos divinas Te fixaram na tela, todo inteiro. E quando, um dia, já sequinho e [branco, Caires, de velhice consumido Ou si aluir de subito o barranco, Ficas ainda em pé, de vida cheio, Por infinitos seculos detido No quadro-mestre de Antonieta Feio. . --~- Salinas, 201121 942. Recebeu no din 30. do correnl e o seu diploma cte enferme ira ·pela Cru z Ver– melha Bra!ileira · a dislinlõ srnhorila Noemia Luza Borges, filha dos exlinlos sr. Raimundo Borges. e esposa, senhora Mariana Luza Borges A nova enfermeira le ve. como p11ra– ninfo. o professor Abelardo Leão Con- _ durú . digno prefeito municipal de Belem.
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