Pará Ilustrado - 1943

~ (As personagens deste conto são de ifiteira ficção). Eis a carta: "Meu idolatrado Adonaldo : Beijo-te loucamente ... Não me é permitido viver sem tua presença, sem o· calor de teu corpo herculeo, sem sen– tir o extravasamento de minha alma através de teus beijos ! Fomos criados para nos amar. Tudo tenho sacrificado por ti, para gozar alguns momen.– tos venturosos em tua companhia. Nada me amedronta. O amor verdadeiro suprime e galga todos os obstaculos que se lhe opo– nham. Que me adianta meu marido, se ele não tem essa atração misteriosa e indescrití– vel que encontro ao achar-me contigo? Ele já está velho e enfastiado da vida. Deu o que havia de dar. Não pode, portanto, satis– fazer esse fogo de amor que me queima as en– tranhas, por sentir-se debilitado. Somente tu, meu filho, poderá saciar minha alma jo– vem de vinte anos com teus carinhos confor– tadores ... Hoje em dia ao tê-lo á minha frente, sinto nojo de mim mesma; não ó tolero. Casei– me com ele por desejar subir, visto ser nada, - simples filha de uma lavadeira paupérri– ma ! Estando de cima e vendo que o "ve– lho" me ama ao extremo, sinto necessidade de aproveitar esses momentos aprazados que não possuía e que hoje os tenho ao bél pra– zer . . . ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ lllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllilllll!!!! Em GUÃRAMIRANGA. I "" com um clima saudavel, 850 ~_===== "" metros de altitude, a pensão 1 Santo Antonio, de D. Lili No- = i gueira, ~:nslitue um ambiente ~ i ~;~'7;:i~:r::· 0 ;a 5 m~i::. q:::: 1 i :olufo~ssadio, e repouso ab.- !I iiiilHlllllllllllllllllllllllnllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllUIIIIIIIIIIIIIXIIIIIIII_J ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ • ♦ • ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ • ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ Se me f'qgires, se não deres ouvido aos meus rogos, saberei vingar-me ... Tenho dinheiro e com ele conseguirei movimentar um exer– cito ao teu encalço ! Sei como vencer todos e quaisquer impecilhos que me opuzeres e ter-te-ei aos meus bra~os sequiosos de teus afagos ... Estou ao par do motivo de te encontrares farto de mim . Amas outra mulher! Achas– te uma flor pura, sem mácula, virgem e, que– res substituir o meu amor adulterioso, por me teres como indigna, como uma... digamos: mulher frívola. Enganas-te. Dentro de meu peito pulsa um coração que sabe amar e odiar. Se não perceberes o que fazes, és ca– paz de acompanhar o enterro dessa "angéli– ca criatura" . .. Vê, portanto, o que resolves . Hoje, á noite, estarei te esperando no por– tão da garage. Ter as almofadas conforta– veis de um automovel moderno, é melhor que um leito de setim . .. Adeus. Até á noite. 12 - Tua N . .. . ..... . a". - Que resolvo, meu amigo ? Maldito seja, mil vezes maldito o dia em que vi essa Messalina ! E' uma insaciavel, uma não sei que diga ! Estou morrendo a olhos vistos ! Procuro e~quecê-la, mas seus endiabrados beijos não me sáem dos labios ! O calor de seu corpo dormita em meu cor– po, e aqueles olhos graudos, longos com apa– rência de eterno extase, me aco~panham ! Quero abandoná-la mas não posso. Quero voltar aos meus livros e cada momento cada instante, sinto-lhe falta. Desejo esta; per– to dela, entregue a seus carinhos infernais. Estou perdido meu amigo, estou perdido ! Era a maneira de como me falava Adonal– do, cujas feições acabrunhadas vi'vüicavam toda a tragédia intima de sua alma. -Dize-me, Alceu, que devo fazer?! - Escreve ao marido dela, enviando-lhe esta carta. E, casa com Anilucia, antes que ela estrague tua vida. Terás não uma es– posa, mas um anjo para guiar teus passos. Se prosseguires como vais, espera-te um fim triste. Essa mulher será a causadora de tua ruina. Abandona meu amigo, esse demonio ! Por motivo de meu interesse embarquei para o Rio, dois dias depois do relatado mais acima, sem saber da resolução de Adonaldo. Seis meses mais tarde, recebo esta carta : "Caríssimo Alceu : Felicidades. Até que erifim .consegui teu endereço, para traçar-te estas hnhas, almejando teu bem estar e relatar-te o seguinte : Obedeci ao que me aconselhaste em torno daquele nosso assunto. Após haver ido ao encontro, e passar uma noite de beijos e .... . . . ?! ........ ! ........ ?? ········'''"'' . . . . com ela, remeti ao marido aquele do- cumento, conjuntamente com os seguintes di– zeres : "Sr. Rosdalvo Lima e Silva : Saudações. A mulher que o senhor tem por esposa é indigna de tal nome, pois, aqui vai o teste– munho comprovando meus dizeres. Um amigo". Nem te conto, meu Alceu ! No outro dia, recebo estas linhas : "Sr . Adonaldo Saverdejo: Meus saudares. Recebi seu bilhete - o testemunho. O anonimato de nada lhe serviu. Considere-se um homem feliz. Hoje, depois que mostrei o referido bilhete á N . .... a, ela em prantos relatou-me tudo . Reconheço não ser ho– mem, suficientemente homem, para ela. Já estou velho, enquanto nossa N . .... a se vê explodindo de mocidade, beleza, e sejamos francos, mais mulher ! Visto isto, para não sermos molestados pela opinião da sociedade, espero-lhe sem falta ás duas horas da tarde para conver– sarmos calmamente sobre o assunto. Sem mais, seu ardente amigo e admirador Rosdalvo Lima e Silva". A' hora marcada, meu amigo, cheguei á residência do marido de N..... a. Na alco– va, naquela mesma alcova que acoitava nos– so amor, estava ela atravessada á cama, com– pletaménte despida, com o ventre á mostra. E ao sru lado, o marido todo ensanguêntado, cortando lentamente a esposa cóm uma na– valha! O quadro era aterrador. Ele me vendo, rindo bestialmente, dizia-me : - Calma ! Ela pode se acordar ! Vamos dividi-la aos poucos, antes de nossa mulher dar acordo de si. Toma este seio, é o teu ! Leva este olho pestanudo, tambem te perten– ce ! Aqui está a metade dos labios esteriliza– dores de conciéncia, toma. Esta parte do ventre com seu acabamento estetico, é tua ! Esta coxa direita é . .. , e a navalha mergu– lhava nas carnes da vitima, fazendo a von– tade do louco ! Prosseguiu ele : PARA' ILUSTILADO . • - Não havemos de brigar por isto ! Mas se me quiseres tomar meu quinhão, a minha parte, saberei defender-me e defender mi– nha honrada mulher. . . Que tal nossa divi– são, é, ou não de sócios ? E, uma gargalha– da idiota reboou pela casa afora. Não pude suporta.r por mais tempo aquela cena. Corri ao telefone e chamei a policia. . Os jornais exploraram o caso, o mais que puderam. ........... - ............... Joalheria A MARANHENSE A CASA DOS BONS RELOGIOS de R. N. de Souza Joi11s fin11s: rdogios. bijouterias. objetos de 11dorno. ele. Oficina de ourives e gr11v11dor. Executa e reform11 qu11lquer joi11 em pla– ti1111. ouro e pedr11s fin11s . Dou– ra-se e pr11lei11-se com perfeição . Ru11 João Alfredo. 25 - Telefone. 2751 - Belem - P11rã - Brnsil ................... - ....... OWO:> 's1m.r Sll{ad OqU!W'llO opullnb Op'l3'lUOd'll nos na a 'O!WQO!UllW ou v~sa OA{llPSO'H o responsavel de todo o drama. · Somente tu, sabes a verdade. Não durmo. Em meus sonhos aparece-me o quadro dantesco - a divisão do cadaver. Se ando, vejo o mesmo espetaculo. Quero fu– gir de mim e não posso. Se olho para um ca– sal que passa ao meu lado, sürge-me aos olhos o quarto ... a divisão... o louco... a vitima .. . e por fim, eu! Meu à.migo, jUlgo que endoideço. Não há quem me console. Todos me repelem, acusando-me como destruidor de lares. Nin– guem me compreende. Até a Anilucia me evita! Foram-se minhas esperanças. A ti é que revelo toda esta historia. o unico, tal– vez, que não duvidará de minha palavra. Relatando o que me vai nalma, assino-me esperançoso de tua compaixão. De teu infeliz amigo Adonaldo". Finda a leitura da carta, disse comigo : este está com os _dias contados. · Tres meses após haver recebido a missiva de Adonaldo, narrando-me os acontecimen– tos, leio em "O Jornal" o seguinte: "Epilo– go do drama da rua Joaquim Nabuco, na tar... de de 3 de julho". Descrevendo todos os acontecimentos, fe– chava a reportagem mais ou menos assim : "Segundo o medico legista, não há esperan– ças em se salvar o tresloucado rapaz, pois, seu abalo moral é mais grave .que o fisico. -Conseguimos estll§... E!l,lavr~s de Adonaldo ~ - "Já estou -rarto da vida . Fui um falido em tudo, -especialmente desde o dia que a co– nheci (referindo-se á assassinada) . Ela me soube reter nas malhas de seu amor vulca– nico. O crime do marido não se apaga do meu eu. O cada.ver ... , a divisão ... , a mal– dita divisão. Não sou diretamente o culpado, como é sabedor um meu amigo que se encontra no Rio. Desejo somente que por intermedio de sua reportagem (falando ao nosso compa– nheiro) chegue meu ultimo abraço a Ale . . . " , não disse mais nada. Em borradinho, mais abaixo, informava o mesmo jornal : "Ao encerrarmos nossa edição matutina, avisaram-nos da Santa Casa, haver o senhor Adonaldo Saverdejo falecido". . (Do livro a sair : MARTIRIO). ARISTOFANES CASTRO 23--1-1943

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