Pará Ilustrado - 1943

O mar era vasto, fosforescente, misterioso. Monstri_wsas sombras abriam as fauces ne– gras diante do vapor, á rasa superficie li– quida, mudas, emaranhadas, fôscas, cheias de vagas dobras, de quasi invisiveis estreme– cimentos, como se gozassem de vida rea:l so– bre a grande palpitação das águas. Em cima - no fundo de um céu impassi– vel - havia um moribundo cintilar de astros e, em baixo - no elemento salobre - como enormes pirilampos, como colossais serpentes lividas, como a esteira de prata de um me– teóro, saltavam pontos luminosos, enrosca-· vam-se circulas de fogo pálido, e brilpava o rastro do vapor, que a máquina e as· hélices moviam,. rompendo a rêde liquida, batendo na água, fazendo estalar furiosos °flócos de espuma, e produzindo um traquinar surdo e monótono. E uma fresca brisa soprava, trazendo con– sigo uma revoada de perfumes exóticos, hu– midecendp as frontes ardorosas e .pensativas, alvoroçando as cabeleiras descobertas, insu– flando os pulmões e o peito, abertos ao ho– rizonte. Continuava, em cima, o cintilar dos astros e continuaxa em baixo o ruido das ondas. Cantavam? - Riam? Choravam? A's vezes, feria os ouvidos uma espécie de canto triste, tristissimo. Depois . . . Risos femininos brotavam do abismo do mar, e a seguir soluços quE! a brisa, levava, a brisa humida e fresca. E, ó poétas, ó sonhadores, ó magos da lenda ! Os viajantes puderam perceber es- . tranhas vozes, como se cada onda ·falasse. · - Eu sou a Ondina, filha do verde mar. Meus olhos melancólicos· são gláucos como ele. Habito um palácio submarino feito de contas irizad~. Sei onde se escondem as·pé.– rolas dos meus dentes e o coral dos meus lá– bios. Sou imaculada como a neve, e tcn\10 frio o coração comquanto já amasse um náu– frago de buço de ouro, a quem encontrei morto sobre a branca areia de uma prâ.ia , sem que o pudessem reviver os meus beijos gelados. Nenhum mortal poude. ver nunca as delicias curvas do meu admiravel corpo . - Eu sou o Tritão, o velho Tritão da his– tória olimpica. Conheci Netuno, o pái Netuno, - e vi nascer Venus de entre a candida espuma. Surgiu cheia de beleza, de majestade e de amor.- Eu, estava por detrás de uma roch:i espiando fü:J.Uela prpdigiosa nudês, b;i.phada pelos fulgores da aurora. Depois, após a morte de Jupiter, atrevi-me a salvar as colunas dt: Hércules, e eis-me aqui, á mercê deste velho louco do eceáno, que cambaleia como se hou– vesse· beBido as minhas amforas de Chypre. Agrada-me o sopro da tempestade, e vou dando saltos monstruosos sobre as ondas ir– ritadas; lançando ao vento, meu velho amigo, as ásperas notas do meu canto. - Eu sou a Sereia, a bela e aleivosa, Sereia. Deu-me a mulher a harmonia de se:1 esplên– dido dorso e o peixe a sua cauda de escamas · brilhantes e fulgores de ambar da lua, sob a tibia superfície do mar em calma, ou nos es– colhos onde faço despedaçarem-se os débe!~ · batéis e as enormes ni.ves. Meus olhos são de puríssimo azul marinho, e só os náufragos viram o sonho de meu seio e as minhas har– moniosas cadeiras, cheias de uma voluptuosi– dade infinita, desconhecida para o homem . Nisto, o vento batendo as azas com mais furia, apagou essas estranhas vozes, enquanto o vapor continuava cortando as águas ri.o seu traquinar surdo e monótono. W.-AnDCRSen __S V ~~'1?4~- IJ<u.JOIJrS ·r:~~ am dás ti ~.;.-=...:~--......:.;"., mmnões 9 -8- PARA' ILUSTRADO ( R~gistado no DIP) R8PResenTAriT9S em TODOS os 9STADOS ·oo PAIS Ex p e d i e.n t'e NO ESTADO Numero avulso . alrazado As.sinafuras .– Capital (ano). Inferior OUTROS IST.AOOS Numero avulso ãlrazado .AssinalUf.â! (ano) Cr $2.00 Cr $~-j() L 1 Cr $ 45.oo Cr $ 55.oo Cr $2.-'<> Cr$3._oo .~r$70 oo Anuncios medi.ante contratos . ••••••••••••••••••••• Oislribuid o pelo Minislerio da Guer– ra . recebemos arlislico · exemplar da ,Cartilha do Reservista; que eslã ~endo irradiada por todo o têrritorio nacional. A .Çar!ilha do Reservista, é um re– posilorio civico de intcrressaoles informa– ções que lodos nós..,,-áevemos Jer sempre r~Jenfes-:-- - - -- '"' Trabalho grafico excelente. lraz ainda varias ilustrações. abrindo com um re– traio do presidente Gelulio Vargas. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 'OUARIUT8RAD ~ ~do//, JJ~ 23- J...__ 1943

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