Pará Ilustrado - 1943

Mãe, Ló! Como eu me lembro dela ! Velhinha, alquebrada pelos sofrimentos, ná-0 me recordo de a ter visto so1Tir, uma só vez. Não sei mesmo explicar se ela vivia, ou se apenas estava na terra porque Deus se havia esquecido de levá-la. Quando nasci, ainda ela era feliz . Dois anos depois do meu nascímento - !embro– me bem - é dificil de acreditar-se, mas a mim me parece que foi ontem - começou a história triste que enlutou para sempr-e os · corações de todas de minha familia-. Minl>-ª avó - pois que Mãe Ló era mãe de minha mãe - teve .cinco filhos, entre os quais, dois bonitos rapazes que eram todo o seu encanto e toda à sua vida. Um deles, o mais velho, ocupava quase todo o seu co– ração . De fato, meu tio era um filho de não se querer casar; para não abandonar, nunca, a. minha- avozinha. o outro era tambem bom filho . Mas o pri– meiro era o preferido. Um dia... - sempre existe um dia desses BELEfll-PnR 23_:_ 1 -1044 - em nossa vida - o filho caçula adoeceu gra– vemente . Mãe Ló ficou como louca. E em dois dias perdeu esse pedaço da sua alma. Mas ela se conformou . Aumentou ainda mais a sua dedicação pelo filho mais velho . Sete meses mais tarde oh ! crueldade do destino ! - foi-se o seu ídolo, o filho estre– mecido - e com ele partiu-se o coração de Mãe Ló. - êom a morte de meu tio, ela morreu para o mundo. · Chorou desvairadamente durante oito dias a fio. Ao cabo desse tempo seus olhos seca– ram de tal maneira, que ela, mulher sensível ás mais pequeninas coisas, nunca mais der– ramou uma lágrima sequer. Nunca mais ar– redou o pé de casa, a não. ser para visitar o tumulo do filho idolatrado . Quantas vezes eu a encontrei, pelos cantos I POR MARGARET DAVIES ~~ COPYRIGHT da INTER-AMERICANA .,. ............... . PARA' ILUSTRADO da casa, a. murmurar, baixinho. o nome do t!lho querido ! Mãe Ló esqueceu,se de tudo no mundo . Não tinha animo nem para se alimentar. Caiu num torpor indescritivel, à.o qual só a morte, oito anos mais tarde, a veio arran– car . Falava por monossilabos, depois de se in– sistir mUito para que ela compreendesse o que se queria . Não rezou mais, ela que se comprazia com .as orações. Acho mesmo que chegou a des– crer na misericordia de Deus . Quando minha mãezinha morria, ,Joi ela quem lhe colocou a vela nas mãos ; foi ela · quem vestiu o cadaver; foi ela ainda quem _velou, conosco, o corpo · da- morta querida. Mas não derramou uma la,grima. E' que o seu coraçã o, qual o de uma nova Niobe, já estava petrificado pela dor . Mãe Ló foi quase uma santa. E quem sabe se o sofrimento não foi uma libertação para o seu espírito ? Hóje, sem um ·motivo plausível, lembrei– me, de repente, da minha santa avozinha . E então resolvi contar; de relance, a odis– séia da mulher que foi mãe de minha mãe - outra santa feita mulher - e em cujas li– nhas quero traduzir a lembrança que ela me deixou, lembrança que o tempo já.mais con- segUirá apagar . · HOLLYWOOD - (Por via aérea) . - Foi em "Adeus, Mr. Chips " que Greer Garson fez -a sua aparição no cinema, inteiramente esquecida pelos clangores da publicidade. Fa– zia um papel de esposa ..:.... tão doce, tão en– volventemente encantadora- e sua.ve gue; no meio da história, quando ela morria, a dôr da platéia era quasi igual á do inconsolavel Mr . Chips . Como na capital do cinema a regra é conservar os artistas no gênero de papel em que fizeram sucesso, Greer Garson con– tinuou sendo nos seus outros filmes a doce esposa, com a un'ica exceção de ''Orgulho e Preconc!!ito". Mas ela. tinha conciência de que outros papéis lhe dariam possibilidades maiores. Começou a rebelar-se depois de " Flôres do Pó ". Não gestou desse filme ex– cessivamente moralizante e educativo . "O ci– nema - disse ela a propósito - "n~o é nem mesa-de conferências nem pulpito" . Só com essa frase ela demonstrava mais compreen– são da arte cinematográfica do que mUitos dos "big shots " que têm perpetrado as maio– res barbaridades -artisticas sob o rótulo de cinema educativo. Mrs. Minniver" (Rosa da Esperança) é o seu· mais·recente sucesso,_e marca o momento culminante da carreira de Greer Garson . O critico do "New York Times " escreveu a respeito : · "E' provavelmente o melhor drama que esta guerra já produziu ... Trata-se de um filme violentamente como– vente, não só pela tremendá atualidade dos. casos humanos que suscita, como pela sua densidade artistica que tra~cende a todas as épocas . A estrela irlandêsa - pois Greer Garson nasceu em 1908 na terra de Bernard Shaw, o que talvez explique a sua caracteris– tica vivacidade e inteligência - faz aincja ,nesse filme um papel de esposa. Mas a sua rebeldia nos estudios deu resultado . Porque ·ela não é mais uma mulherzinha cheia de virtudes excelsas apenas ; é uma criatura cuja suavidade é um acidente, e não motivo deter– minante do enredo. Seu temperamento tem outras oportunidades. Ela aparece vi.brame. mais viva, talvez se pudesse dizer mais ãdda. E o resultado foi absoluto : uma " performa!l– ce" notavel, um surto enorme de popalan– dade por toda parte onde o filme é a2:lidD. Podemos garantir, diante disso, q.Je Gnl!r Garson " acertou a mão". Ela o ~- I

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