Pará Ilustrado - 1943

• Ano VI fi'.ª8 1 • 11 --==---:(~~~✓,-u■ I.J'-= T RI D c,10~ -: __ 111 ;?\ r,..(h~ {.j;;;;;;;.==--------------– Red. e Of. : Trav. '(>~J Diretor-proprietario - JAIME DACIER WBATO Hum.º 139 Campos Sales, 113 8eLem DO PARÁ, 14 08 AGOSTO oe 1943 FONE, 2 7 1 9 Ha cerca de uma semana. O telegra– ma . de meia duzia d ::: palavras. titulado laconicamente .•falecimentos na Marinha, , trouxe enlre out ros o nome de um sar– gento - M~nuel Soares Barredo, morlo no Hospital Central da Armada . na ca– pital do país. Para o grande publi co . esse despacho e os nomes que a linh ava , vidas que se apagaram , como outras la nlos . naq uel e minuto indiferente da vida. nada signifi– cavam. nada !raziam a despertar uma emoção. de piedade ou de lrisleza, de amargura ou consternação . . . Mas nesta ferra. e certamente noutras do Brasil. o nome de Soares Barredo não era apenas o do modesto sargento fuzileiro naval. discreto no aprumo mili– tar com que p:issa va pelas ruas . porque era o nome de um ma vioso e equ ilibra– do poeta . Um poeta sim, de a ltos vôos, um cul– tor da Beleza que amou entranhadamen– te ludo o que de luminosc e co lorido. de esp iritua lis mo e de Bondade. de Ideal e de Sonho ainda pode, mesmo enlre os home ns , tornar amavel a vida e d igna de fraterna estima a humanidade. J0-8,u o. ~ f remindo _no despcilo ingralo que o domina, S em ao menos prever a inconsequencia insana, O aleivoso · infeliz. a bôa fé engano Com o filo de levar o proximo ã ruína. Alma escrava do vicio, aigua, pequenina, De Judas a vender a Consciencia humana, Maldiz por maldizer, por dar vasão á gana Oue lhe corrompe e esfróe o mossa cerebrina ! O corvo, que fareja a podridão nef05fa, E' mais nobre ! Não mostra a baueu, que arrasfa Esse vampiro do honra e da dignidade... Ma;, a luz é mais bela ao se pensar na frevo 1 E em fa ce d11 calumnia a honradêz se eleva Ofuscando a vileza ao brilho da Verdade ! Soares Ba rredn era, poi s. na sua mo– desta aparenci a. no dis<crelo das al ilu-. des do milil ar areilo á di sc iplina, um es– pirilo que pairava acima das coisas vãs da exislencia . clari v1denle especla– do r ·de um mundo que s ó aos eleil ~s do O li mpo é dado ver, sen !ir, compreen– de r ... Conhecemo-lo aqui. em Belem. ha cou'la de um lustro. mais ou menos. Um acaso . uma noitada larga de boe• mia roma ntica com outros fanalicos •c rentes, de uma seita que já não Jem muilos adeptos - a velha , consolado– ra e sua ve religião da -Poe:;ia - defron– tara-nos. a nós e Soares Barredo. c inco ou seis. se la nlo . em torno da mesma ta vola redonda. num fim de madrugada ... Um de nós. qu e ma is um romance ina– cabado fi ze ra vitima {sabe Deus se pela cenlesima vez! J do sentimento que a cantiga popular já chamou •O ridiculo da vida• - o Amor - um de nós. entre a risota ironica de uns e a since– ra comiseração dos outros. queixava-se do amor das mulheres. num prcleslo so lene de romper com o Amor e as mulheres que zombam do amor ... Da mesa prox ima. uma voz sonora de barilono ergueu-se naquele fri ~ de madrugada E, entre seria e rison ha. declamou esles versos de La f onlaine: •· Touf f'univers obéif á f Amor, Aimez, aímez, fouf /e resfe n'esf rien..." Dessa madrugada Soare5 Barredo passou a fazer parle daquele grupo. 1Je pos! o que espaçadamente. mas parlici– pa n::o das noi tad as o nd e. en!re lou ra s laças de espumante .An la r! ica, . as idéas borbulhavam. marul hanles como casca tas de ouro. em borbo lões de So– nho feito consolad o ra · Poesia . fll! ro do P ensamento a lormenl ado de emoções e de ternura s pa ra a vida ... Anonimo para o grande pu blico . esse poela agora morlo permanece redivi vo . eolrelanlo. para equeles que lhe conhe– cere_m a alia e fina sens ibilidade. o la– lenlo. a sêde de cult ura. Estes versos dele . que se vão ler nesta pagina são uma lemb ra nç a de sua passagem por esla terra : S oares Bar– redo fê-los aqui. E. inleressan le. poucos dias anles da morle do poeta eu recebera . das mãos do meu presado C a rlos V il ar. que os pos~uia. os dois sonetos para que lhes désse publicidade. . Aqui estão eles. como a homenagem maior e ma is bela que lhe poàeria er– guer, - a mais linda ·co_rôa sobre o lumu lo humi lde onde dor'Tle · tranqu il o quem da vida cantou serenamente Iodas as aflições e as ansiedades ... f illto de um povo õ5sáz super~ficioso, fnrlo de folhl\S, folho de emoções, Câlo ingressei no circulo vicioso formado em forno dos religiões. Crio no In ferno, e, seu caminho - o Gõso Eu evifo vo sem compensações; Em vão bebia, o procurar repouso, frios doutrinas de consoloçõcs. Mos o sábio Nofura, os meus enganos foi desfazendo con1· o correr dos anos, E os velhas crençõ5 foram feifo~ pó ! Hoje, creio no amor - que é -o bem superno ! E n'esfe verdadeiro e unico inferno Oue é a angustia infinifo de ser só !

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