Pará Ilustrado - 1943
r AV8íllDA PORTUGAL: 46 A 48 T8L8POíl88 959 e 2393 í Emporio de calçados para homens, senhoras e crianças. Tem semprê variado sorfimenfo das principais fabricas do País. Os seus preços são convidafivos e os s,;us calçados repre– senfam o expoenfe · da moda e egurança. Viifem-na que aproveifarão o fempo e economizaráó dinheiro ! ( Continuação da página 3 ) Pouco depois do meio.dia, resolveu sair para serenar-se. Disse á criada que voltaria ás cinco horas, e partiu para caminhar por fora da cidade, internando-se no bosque, onde nin– guem pudesse vê-la nem reparar na sua in- contida agitação. · · Um unico pensamento lhe martelava o cé– rebro com persistência diabólica : que deve– ria fazer'? que deveria fazer ? Por um ins– tante, julgou que a melhor solução seria con– tar a Julio toda a ve:r:dade. Mas depois com– preendeu que não tinha o direito de empa- . nar a ventura do esposo éom a sombra da– quele passado vergonhoso. Julio confiára nela. Como dizer-lhe, agora, então, que essa confiança era imerecida, e que ela estivéra ocultando zelosamente uma verdade terri– vel? Na sua exaltação, Laura considerava-se a unica · responsavel pelo que sucedia. Esque– cia que uma infancia desgraçada não é um pecado; esquecia que somente as circunstan– cias tinham podido submergir-lhe o espírito nas trévas do delito . E, temendo que aquelas trévas tornassem a envolver sua existência, continuava perguntando a si · mesma com crescente angustia : Que fazer? Que fazer? · Havia muit-as horas que caminhava por en– tre o bosque, quando se deteve numa ponte, por baixo da qual, a grande profundidade, corria um arroio de águas lodosas. O local estava quasi completamente oculto por es– pêsso matagal. De repente, a dextra de Laura crispou-se nervosamente na balaustrada de madeira que resguardava a ponte. Uip.a id~la subita atra– vessou,-lhe o cérebro. Uma idéia horrivel, que a fazia estremecer como uma folha sacudida pelo vento. Mas era a unica, a unica idéia que podia salvá-la! . Inclinou-se para olhar o arroio. Af, jús– tamente a seus pés, o arroio formava um ato– ladouro. A balaustrada era paixa: tinha pouco mais de meio metro. Ergueu-se novamente. Distendeu os dedos para dominar o tremor que os agitava e, pas– sando rapidamente uma das mãos sobre a fronte, empreendeu resolutamente o regresso para casa. ✓ * * • A's seis horas, quando .atendeu ao telefon,e, já era outra mulher . Recobrára o dominio so– bre si mesma, e estava disposta a •rião perdê– lo. A voz intrusa de Felipe murmurou: - Bôa tarde, Laura . Posso passar por aí para receber "aquilo" ? - Não, André. Prefiro que nos encontre– mos noutra parte . . . iS' Cempreendo.·.. Compreendo..-. E Laura marcou-lhe entrevista na ponte– zinhá do bosque, saindo depois para a rua e encaminhando-se á, garage para retirar o seu carro. Previamente introduziu na car– teira um envelope com cinquenta dólares, - todo o dinheiro que tinha em casa, - · e uma porção de papéis em branco, para fazerem volume . . · . Passeou com o carro tranquilamente pela cidade, esperando a hora combinada. De– pois, quando começou a cair a noite, consul– tou o relógiõ e tQniou a direção ·do bosque. Felipe a esperava na ponte . Parecia con– trariado e suas primeiras palavras foram de recriminação : - Foi uma loucura ter-me marcado en– trevista neste lugar, Laura. Tive que vir a pé desde o centro. Mas, enfim... ·Trouxe o • dinheiro ? . Laur.a não o ouvia. Percebia unicamente o surdo rancor das águas no abismo. - Responda . Você trouxe o dinheiro? - 'repetiu o homem. Ela não se atrevia a responder. A visão do que estava para praticar lhe dilatava os -t>lhos e lhe apertava a garganta. Mas, pen– _sando que aquele homem tinha nas mãos sua felicidáde e a da sua familia, tirou :r:apida.– mente o envelope da ·carteira e lho entregou. Felipe abriu o envelope, examinou á. luz indecisa do crespusculo. Mas conformou-se em .ver o bilhete de•cinquenta dólares ·colo– cado ali de forma bem visivel. - Perfeitamente - disse. Mas fique sa– bendo que esses quinhentos dólares são um -simples adiantamento de uma quántia maior dê que preciso. L·aura permaneceu imperturbavel. A pre– tensão do aventureiro não a tomava de sur– presa, mas vinha apenas confirmar os seus temores : aquele bomem- a perseguiria pelo resto dos seus dias. E ela teria que obedecer, calar-se, resignar-se á, ordem da sombra do passado ? Não ! Já purgára as , i:ulpas da sua meninice com uma adolescência de - trabalhos, de sacrificios, de dignidade ! · Por que, então, ó passado havia de continuar acabrunhando-a, como uma maldição ? · E a pobre mulher quiz tentar o ultimo re– curso antes de decidir-se a matar o passado para sempre, na pessoa daquele canalha. Fa– lou, falou com acento prenhe de · doçura e de mágua; falou dos esforços para depurar sua alma, do seu lar, do seu esposo, do seu filho. Compreendia, entretanto, que -aquele homem nã-0 se apiedaria dela. Os rogos, os soluços, as lágrimas, nada ·podiam contra aquele coração endurecido pelo vicio . . ·Quan!i,o Laura calou-sé, ·Felipe · sorriu : - Tudo isso é muito bom, mas eu preciso ·de dinheiro . Seu marido é rico, Laura, e não dará pela falta: de uns . quantos dólares ... Vamos, vamos.. . Não fique assim... Sorriu novamente, e teritou bater no om– bro de Laura. E esta, ao querer retroceder para evitar esse conta-eto, sentiu-se presa por um br ,;o. O que sucedeu, então, a própria Laura não seria capaz de explicar. Quando aquela mão lhe segurou o braço, debateu-se colérica e em– purrou violentamente o homem, que camba– leou, deu alguns passos para trás e; ao que– rer apoiar-se na frágil e baixa balaustrada, perdeu o equilibrio e precipitou-se de cabeça n0 abismo. Laura permaneceu um instante horrizacl.a, com os olhos dilatados e a bôca aberta. Ela pensára, sim, na possibilidade de vingar-se por essa forma daquele homem; mas, ao sub– ·trair-se á opressão da sua mão, não cal– culára, nem suspeitára a consequência da sua brusca reação. '-- Tremendo, debruçou-se na balaustrada e procurou prescrutar as sombras do abi:;mo . Unicamente o surdo rumor da água chegava.– lhe aos ouvidos. Felipe Andre afundára-se no atoladouro: a lama voltava á, lama. * * * · Quando regressou para a estrada em pro cura do seu automovel, sentia-se serena, ali• · viada. Não famentava o que acontecãra . Fe– lipe Andre era um homem indigno, um espi– rito nocivo, um homem canalha e prejudicial á sociedade. Com ele desvanecia-se a amea– çadora sombra do seu passado. Sua morte salvava a ventura do lar de Laura e o futuro do seu filhinho. De que devia, então, estar arrependida ? . . . Não julgava ter cometido uma ação censuravel e muito menos am de-_ lito. Agira em defesa própria, do l<l.t· e do filhinho, do esposo. E fizéra mais alguma coisa : apagára o horrível passado, as som– bras trágicas em que transcorrêra a sua in– fançia desamparada. Sentia-se tra-nquila, se– gura e feliz. Daí para o futuro já, não teria nada a temer ; nenhum . fantasma se levan– taria para acusá-la da sua a~tiga incon~ ciência, dos erros cometfdos sem saber. Pouco depois ·de hegar á casa, viu ·<'ntrar o esposo. Saiu-lhe ao encontro jubilo:-,a. Ao beijá-lo, Laura sentiu -que lhe tremiam os lábios . Deu um segundo beijo ao espoao, beijo Ínai& forte, mais quente, e a ternura daquele homem ao retribui-lo, aplacou-lhe a angus– tia ·do coração. De repente, Julio disse : - Estive um pouco intranquilo, est'!s dias. Daqui em diante, quando tiver que viajar levar-te-ei comigo . Suponho, entretanto, que não sucedeu nada de extraordinário durante a minha ausência, não é verdade ? Antes p.e responder, Laura p.ermapêceu com o olhar fixo na janela. I>epois, .re.;pondeu tranquilamente-:· - --~ . 1JaHeO- d6 '1}a,ui ✓- ~ _..,:;. Não:-Nâ'.o sucedeu nada, meu querido .. Expede saques e ordens telegraficas para todas as cidades-·ª?" Brasil - faz operações de credito com a max1ma pontúalidade, mediante modicas comissões Rua João Alfredo, 54-56 Telefone, 113 , -34- PARA' ILUSTRADO ···············••i ■■■ OUARIUT8RAD (J. ~uk,dM, _ JJ~ ·9-1 - 1943
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