Pará Ilustrado - 1943
• Ano VI EIIJ.B -----==--, ,= li a:: 11 :li T Num.• 138 Red. e Of.: Trav. Diretor-proprietario - JAIME DACIER LOBATO FONE , 2 7 1 9 Campos Sales, 113 BeLem DO PARÁ, 31 oe JULHO oe 1943 Víl Díl □ g og gscR TOR Mostrar a todos o ultimo filhinho, para ou vir elo– gios á lindesa do bebé, é um ato que não podemos censurar na mãe da criança. Ler a cada instante o sonelo recem-fabricado, é um instinto que se des– culpa no amigo das ~y\usas. Mostrar na primeira ocasião o vest ido recem-saido da costureira é uma · -graciosidade na tural na mocinha elegante. Aiás, estas exibições , expos ições o u ostentações trazem uma excusa: não tomam o nosso tempo. porque são rapidas. A vista de um inocente. a leitura de um soneto. uma olhadela sobre o figu– rino moderno são cousas ligeiras; o mesmo não direi dos plumili vos que, antes de entregar o pi– quiá aos prelos . a ndam atraz de voluntarias resi– gnados a ouvirem a leiluM do artigalhaço. Ha tempos, depare i o professor plantado na es– quina , com umas ti ras de papel na esquerda , a deitar o lhares sobre a multidão que ia e vi nha . Tive logo a impressão do perigo, pois o homem. a sorrir pa ra mim, fez s inal para que eu me apro– ximasse. Obedeci irrefle tidamente, envez de ganhar o la rgo , e o amigo disse sem preambulos: - Tenho pronto um artigo sobre o qual desejo s ua apreci ação. - Mas rião tenciona publica-lo _?_ Hei de lê-lo no jornal. -Sim, mas dirás se aquilo vale ser publicado. C onheço de sobra a cantilena. Abomino fran– camente os escri bas que, após um parto ma is ou menos liferario, pretendem a tirar o produto nos braços do prime.iro que se apresenta. Ha estraga– tintas que andam á cata de uma vitima. a quem impingem a massada da leitura. Re lembram a ga– linha que, posto o ovo , entoa caca re jas de jubilo. Com uma paciencia de Job externamente, e com uma raiva de Hercules por dentro, comecei a ouvir o autor que se babava de goso a ritmar e caden– ciar ·suas frases. batendo no papel com o fura– bolo, à guisa do mesf:re de orquestra que marca os periodos musicais com a batuta. De vez em quando , o homem inte.rrompia a leitura pa ra perguntar-me á queima-roupa : -Oue tal? -Não é mau, dizia eu resignadamente. PADR8 -Você não parece entusiasmado. -O entusiasmo só serve em grandes como- ções da alma. -Então, não acha bom? - Acho bom, ultra-bom, bon íss imo, o fi mo I Ainda q uer outros adj etivos laudatorios. Professor do meu coração! Oue significam estes encomios procurados, ped idos exigidos de faca no peito? Ao dono do ca valo que me pergunta se en– conlrei um corcel Ião lindo, hei de responder que dificilmente ha de existir montada igual. Ao pintor que espera pela minha opinião s obre seu quadro·; rep li co fo rçosamente que a tela é dignà de Rafael ou do Perugino. Ao escritor que mend iga minhas impressões , só posso afogar com elogios mentiro– sos. Falar contra a verdade é, em certos casos, obra de polidez, de educaç ão , tan to mais que os poetas, pinto res e escritores formam uma class e irascível. Indignado com a mi nha covardia que me prendia ao lado do algoz, fingia ouvir c:om atenção. mlÍS, na realidade, o meu pensamento planejava uma eva- · s ão. De vez em qua ndo , a leitura era reforçada e a longada com comentarios por parte do autor, e cada exegese terminava infalivelmente com um ponto de interrogação. -Não acha você?... Não é esse o· teu modo de ver? -Oue duvida, respond ia eu maquinalmente. -Pois ha gente de opinião confraria. - N esta altura dei um pulo e um grifo , O pulo afasto u-se bastante do carrasco e o grito foi solto em honra do meu bonde. A lembrança do bonde, como meio de libertação, acudi ra-me um pouco tarde, mas, como lá diz o outro, tarde madruguei mas bastante arrecadei. S a i correndo e de longe gritei ao canudo professoral : - Chegou o bonde do Curro . . . Tenho que ir ao Curro . . . Oueira desculpar. Embarquei no bonde salvador. poguei minha passagem, deixei o carro rod ar uns quarteirões e, final mente, saltei alegre e livre como o passmo que encontra aberta a porta da gaiola . Não acham que deveria haver, nas portarias po liciais, d is p,ositivos contra os esçribas que prendem um cidadão, sob pretexto de Ihe lerem uma sensaboria? ... DUBOIS
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