Pará Ilustrado - 1943

Ano VI Num.• 134 Diretor-proprietario - JAIME DACIER LOBATO Red. e Of.: Trav. Campos Sales, 113 Redat or- chefe -Lindolfo Mesquita S ecrl.- S herlock Ho lmes C. Cosia FONE . 2 71 9 BeLem oo PARÁ, 2 oe JunHo oe 1943 O Pará, como afinal toda terra, tem as suas grandes datas e os seus grandes dias festivos , que são co– memorados com maior ou menor entusiasmo, com maior ou menor vibração, conforme o interesse que possam despertar no seio das mas– sas ou a força das tradições evoca– tivas. O paraense cultúa em alto gráu os mais notáveis fastos de sua história, de seus heróis e até mesmo de seus mitos e de suas lendas, mas nem sempre o faz espontaneamen– te, por impulso próprio e instintivo, senão estimulado por iniciativas or– ganizadas e as mais das vezes oficio– sas, que assumem a dianteiras das grandes manifestações litúrgicas ou cívicas. Somos muito apegados à lei do menor esforço, muito aferrados ao comodismo e por isso não temos a bossa das expansões coletivas. Até pouco mais de um decênio da época em que vivemos, um só e úni– co acontecimento era capaz de sa– cudir as fibras da nossa gente, ti– rando-a da modorra amolentada em que se aprazia de embalar, e êsse mi– lagre, na verdade, só se repetia uma vez em cada âno, à aproximação do imponente e rumoroso préstito em louvor de N. S. de Nazaré. Era então de ver como o nosso povo, desper– tando para a vida intensa e buliçosa das ruas, deixando o tradicional co– modismo, se agitava e fremia, como ainda,hoj_e s~ agita e freme, em ex– pansões de fé e"entusiasmo religio– so, em éstos do mais puro regiona- lismo, para cult~ar a Santa de sua devoção, a padroeira dos paraenses. Ninguem, profano, jamais conse– guira, até então, interessar a:s mas– sas. Nenhum homem público teve o condão miraculoso de desanquilo– zar esses milhares e milhares de in– diferentes, que só se deslocavam pa– ra a rua a peso do incessante trom– betear dos preconícios, e isso mesmo o faziam de um modo todo conven- - cional, sem alma, sem vibração fa– bricitante. E assim se escoaram os tempos e os anos e, com est es, os ho– mens e os tabús e falsos ídolos . . . O advento da Revolução de 30 te– ria que alterar profundamente há– bitos e costumes, a par das radicais transformações políticas e sociais que consigo trouxe. O povo como que acordou e teve plena conciên– cia de seus direitos e pôde então discernir, separando o joio do trigo. Conheceu o valor dos homens que se apresentavam em tela e disouta– vam-se prestigio como nos antigos tempos. Dessa maré-montante, desse 1luxo e refluxo de revolucionários e idealistas, mui poucos foram aque– les que puderam resistir à análise serena dos fatos , ao frio e inexorá– vel veredicto da opinião pública. Uns rolaram desde logo pelo abis– mo da indiferença comum, ao passo que outros ainda puderam procras– tinar por algum tempo o declínio, para cair mais tarde e de mais alto com maior fragor. Raríssimos foram os que, escudados na força incoer– cível de um idealismo puro, inamol– gáveis à corrupção e ao suborno, conseguiram sobrenadar, pairando acima de quaisquer t emerários jul– gamentos. Estes galgaram o Capitó– lio, aqueles desceram a rocha Tar– péia . .. Magalhães Barata foi um desses raríssimos que escaparam incólu– mes ao fogo purificador, no cadinho a que submeteram os responsáveis do novo regime. E escapou porque foi sincero nas suas convicções, fir– me nos seus princípios, inabalável na sua fé, no seu civismo e, sobre– tudo, na sua palavra tantas vezes empenhada diante dos seus conter– raneos. Foi e tem sido hoje como ontem, um revolucionário autêntico, que pôs em prática aquilo que pré– gava. No Estado Novo, como no Es– tado Nacional, tem sido um soldado obediente e leal de Getúlio Vargas, que já por duas vezes o tem distin– guido com a governança de sua ter– ra natal. Por tudo isso, é que Magalhães PARA' ILUSTRADO Barata se impôs à estima e venera– ção do nosso povo, realizando o pro– dígio de se fazer um ídolo da sua ter– ra e da sua gente, rompendo com a rotina do comodismo a que antes nos referimos. E é assim que o ve– mos rodeado dessa auréola de res– peito e profunda simpatia que o acompanha por toda parte, onde quer que êle se apresente, princi– palmente nas camadas do povo, cujo coração conseguiu penetrar e aus– cultar. Realizou Magalhães Barata o que parecia impossivel : sacudir a alma do povo paraense, fazê-la vi– brar em éstos do mais sadio entu– siasmo, vindo para a rua esponta– neamente, como no dia da sua maior festa, num verdadeiro círio para aplaudir e consagrar o eleito da sua preferência. Eis aí está porque, de alguns ânos a est a parte, o paraense deixou de ser tido por indiferente, mergulha- do na apatia e no alheamento, para se tornar num grande estimulador de energia e patriotismo. Magalhães Barata t eve a virtude de conquistar as massas, de eletrizá-las, chamando- as para junto de si, falando-lhes bem de perto, enfim, mostrando– lhes os seus direitos e apontando– lhes os seus deveres perante o go– verno e o novo regimem. E' um gran- de amigo da sua terra e da sua gen– te. Não cabe aqui enumerar o que tem feito êle nesse sentido. E' muito vasto e volumoso o acervo de seus serviços. Basta para sagrá-lo um benemérito a assistência que tem dado à instrução e à Saúde Pública e a moralidade que há imprimido nos setores da administração, zelan– do escrupulosamente pelos réditos • públicos. Hoje, data de seu aniversário na– talício, o Coronel Magalhães Barata vai ter oportunidade de aquilatar o quanto é estimado deste seu povo, nas homenágens que de toda parte há-de receber, sinceras e desinteres– sadas como sempre. ARNALDO LOBO. 2-6-104~

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