Pará Ilustrado - 1943
. Conhecia Adriano.- Gonçalv.es. Sabia-o g STAVAM_ casa~os havia tre_s mezes, · · velho amigo de Jorge. Admiravel cali- tre5 _deliciosos, 1r:comparave_1s mezes. grafia I Traços firmes. energicos, visto- . Evelma abençoava o destino. que sos; letra que os grafologos haveriam lhe havia da_do o mais carinhoso e mais de repular reveladora de um tempera- fiel dos mandas. Como era dd,cado e ·rne-nlo franco, de um caraler nobre. · Mas. gentil! Como a compre:ndia e satisfaz'.ª que diria a caria? Alguma confidencia nos _mais a~surd~s dese1os e n?s . mais sentimental ou simplesmente negocios? pueris caprichos. E como relnbu,a ela Teria interesse? Seri 11 bem escrita? cpm extremos de ternura essa quase adoração de Jorge! Ouando se despediam. pela manhã. á saída dele para o escrilorio na cidade, a efu~ão dos beijos e dos abraçÓs longo, tempo os retinha - e em preciso que . o marido. mostrando a cada instante o · relogio, suavemente forcejasse por que– brar o enleio e desprender-se das cari– cias da mulher, deixando-a sempre !riste, iuconsolada . Assim , Ires mezes após o casamento, era como se estivessem ain- . da noivos, como se ainda se · namoras– sem. ardendo em de .;ejo um do outro. Nesse dia, um sabado, lendo Jorge saido, ; Evelina, que com ele linha com– binado um passeio de aulomovel a Pe– lro.pólis no domingo, fez descer do .,so– brado uma valise d!) _inarido, que ali se i::uard'áva desde o dia: do casamento e cujo conteúdo ela -bão tivera ainda a cur.iosidade de examinar. 'E.' verdade que mais ·de uma vez falou em esvasia-la. pa ra eslar pronta a servir na primeira oportunidade. como agora acontecia . O dono . porem. sempre a dissuadia. pre– textando aue a mala de mão conlinha apehas papeis velhos e sem imporlancia, que ele num dia menos ocupado cuida– ria de des truir . Veiu a vali se. gorda. pesadona, tra– zida a cu slo pelo copeiro. e cujo venlre obeso denun ciava umo papelada respei– tavel. O co peiro abriu-a, esvasiando-a no ta()ele da sala de ja ntar. Sempre ouvira dizer que os homens de bonita leira não tinham espírito . . . E lembrava-se de Joi-ge: ·que rabisc~s.; in– decifraveis ! Oue caligrafia. desorderi_ada, realmenlé deleslavel I Mas' .. ·. com gue elegancia. beleza de forma e espirifuali– daeíe materializava n'o papel o" seu . p~n- • q , sarnento 1- Não resistiu ; leu a caria de Adriano: -,Jorge, meu caro.- Venho da casa de Lucia. Não ! Ela ainda le ama . .. Não m'o disse, mas percebi_- adivinhei em ludo: na alteração da voz. no ful– gor' do olliar: em cerlos silencias inexpli– caveis - percebi, adivinhei que ela le ama ainda. E tu me afirmaste. me ju– raste sempre que ludo eslava acabado. de um lado e de oulro, que o amor se havia convertido numa inofensiva cama– rndaqem . . . ão . amigo l Não é não l Admito que isso aconteça de lua parle; da parle dela. porem, não creio de ma– neira nenhuma. Queres uma prova? Ouando a informei. . ha poue:o, que linhas pedido Evelina em· <õasamento, Lucia, de subilo, com uma veemencia Er~m recaries de jornais e revistas, bilhetes de visita. coviles para reumoes e feslas, telegramas, faturas, recibos. carias em assustadora profusão. Põe-se Evelina a olhar com desanimo aquela colina de papel. De resto, que deveria fazer? Ler aquilo ludo? Rasgar ludo aquilo, já que dizia Jon~e não ler ne– nhuma imporlancia_?. Hesitava, preguiçp– sa, mesmo porque não havia avisado o marido de que ia violar o bojo da va– lise . E. eslava. por fim, resolvida a fazer guarda-la. de novo, no sobrado, quando a letra forte, mascula, simpalica do so– brescrito de uma caria a Jorge _espica– çou a ·~a curiosidade indolente. Apa– nhou a epislola, abriu-a e leu a assina. ura: Adriapo. , impeluosa. que me surpreendeu e me chocou. disse-me quasi grilando :-,Não é ·-possível 1. Não é possível 1 .Isso · é gra– cejo. e de mau gosto. - fiquei estupe– fato . Afirmei-lhe, então. que era verdade e que estranhava a sua ardente conles– lt1ção. Sabes a resposta que me deu? Esta:- ,Sr. Adriano , desde ontem não passo bem. E' enxaqueca. Conversare– mos melhor em outra ocasião. Boa noite: - E relirou-se bruscamente da sala. Saí desolado. Meu caro: se a 2-6-1943 '· PARA' ILUSTRADO minha suspeita se confirma. que será de mim. pois que a amo desesperadamente .? Ajuda-me, ele. Adriano». Evelina esla-\'a quase li vida. Tremia– lhe a mão, aperlando a caria entre os dedos crispados. Lucia era a suá amiga melhor, a sua amiga preferida, a sua amiga confidente; cresceram junlas. es~ ludaram juntas, divertiam-se juntas. ime-· paraveis. semp,~e, unidas. Não poderia? siquer imaginar .longínquamente tivesse havido jamais enlre ela e Jorge qualquer intimidade ele ,uma natureza que leria o direilo . de cori~iderar ,culposa•. mais · que isso :__ ,lraiçoeira•, pois ninguem das relações de ambas ignorava o seu amor pelo homem com quem finalmente ; . se casou. Não era possível! E, com os olhos pregados no monle dos velpó.s .Pf Peis. de onde inespt nda– menle acabava de ser asaltada pela re; velação de um Ião desconcerlanle segre- · do. põs-se Evelina a cismar, a revolver · recordações , a fazer conjeturas. Lembrou– se. por fi _m. de _que uma 5emana irnles do: seu casamepto. 4,µçi~ , linha parlido .. '. para a Europ~. , não pa;rlicipe ndc. dos· : seu~ regozijas. Dera -um pretexto de sau– de : em que. não acreêli!ou e chegou mes- > mo a . ext>.rcibar-lhe. com afetuoso ressen- ~ . lini_enlo. a crec.vsll• da amiga em asso– ciar-se á . sua felicidade . E desde então . decorricos Ires meses . não lhe linha ai,1- ,. da escrilo algumas poucas palavras. ao menos, num bilhete postal .. . T odavit1 , he- ••••••••••••••••••••• 1 111nuurnm111111111mum11munm111Il111nI111111111111nm nnllll11111nm11nnnunnnn111111111m1mP]llllllllllll! i a. • m · m□ • [J 1 ~ produ!o sobejamente experime,1tado ~ § nas· regiões impaludadas do Alto § ! !~~~e p:~fha~;sdede e~~~:: 0 ~u: n;i;~ ! ~ feito · imensas curas sem um unico ~ - SI . . . . = § insucesso § i ;~A~&~. i Praça da Republica, n. 43 ~=– PARA' -BRASIL llllllllilillillillllfllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllilllllllllll;
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