Pará Ilustrado - 1943
F JOSE' B. LINDOSO Já ~tá chovendo no sétimo céu eu gosto da chuva Já está chovendo no sétimo céu A chuva fecunda no ventre da terra as se- [mentes que vão ter o destino de ser árvores ·grai;lldes para cumprir um maior destino ainda dar sombras amigas à margem da estrada poeI'enta e t ão comprida ao Viajante que tem fome de pão ao Viajante que tem fome ·de água frE!f:ca ao ·viajante que tem .fome de Tepouso Eu ,gosto da chuva, eu quero a chuva que chove no telhado com melancolia que chove na calçada como risada de velha [descrente que chove por toda parte onde póde chover [.a chuva para motivo da alegria Incontida de viver dos m eninos adora vels que se b!!,nham de Chuva! Quanta cousa est ás a sugerir nêsse ritmo mole d_e agua ,batida Chuva que vem do céu e beija a terra e se entranha na terra e fica na terra tchuva. No calor de tua frle_za fecunda e simbólica Amo-te porque me encontro em ti ! A minh'alma tem gosto de <;huva O gosto huml1de e Impreciso da tulsteza E a t imidez da chuva cançada de chover da chuva que cal · e vai covardem,ente accmodando-se ao som de uma canção belha [e cética 'vai rolando pelos telhados pelas calçadas pelos belral.s da vida .. . .................... •- (Continuação da P'clna 4 dilhamento de·duas descuidadas êrlàtmas, na– quela sua preciosa rêde larga, toda branca e-– de varandas arrendadas que, de multo gosto, cedêra para leito solitário do amado sobrLnho. . Não acreditava no q_ue via . ,. Livre do es– panto, encheu-se e,Lnda mais de cólera e balan;– çqu, · com· multa força, os punhos retesados da rêde .. Aos empuxões .violentos, os dormentes ' acordá.raro-se·. E. D , Carlota Maria viu mais de perto, e mal.s ela.raro-ente · visto, 'reconhecendo– os com toda a conclencla da. sua visão de ma– trona tJem -- conhroedora <i.às •bpas velhacarias da vida, o Alv,aro e a Mundlca iRosa, no pleno vexame de uma situação tLplca e corriqueira– mente humana, mas tambem desgraçada ·e gos– tosatnente inevitavel, pelo muito avançado da tarefa 'Cie amôr, a .que, livre e folgadamente, se haviam entregues . +++ A velhóta piou alto . Só desculpas e lágrl- . mas, á Madalena, acalmaram-na, quando a Muntiica Rosa, toda tur-bada e de olhos meren– corios, explicou, com a inocencla dos seus dô– ces soluços Infantis, que ali não estava por mal, nem por maldade, que a. sua Intenção fôra so– mente ajudar o Alvaro a sonhar, ou sonhar com êle, como esperára, o mesmo sonho . Nada d,e mais, nada de escandall.sar :--questão Inti– ma, Intuito, aipenas, de cooperação. A veneranda senhora, então, derramando de em torno um mésto olhar, em que havia muito de saudade, de recordaçã o da sua pró– pria m-ocidade longlnqua e- de uma grande e resignada tristeza, por todo o i:ndecorôso da– quele quadro de amôr, que no momento a em– polgava, voltou para o isolamento vitalicio do seu ipobre leito de viúva lrremedlavel, para ficar em dolorosa vigllla por todo o resto da ·noite ainda longa. +++ A brincadeira da cooperação de sonhar déu, afinal, em facn casamento. E, assim, se "congêlou" uma situação que, por momentos, pareceu ser a coisa mais "encrencada" deste mundo velho . . . no pensar de d. Carlota Maria. Belem - 1943 . ..................... ' Joalheria A MARANHENSE A CASA DOS BONS RELOGIOS de R. N. de Souza Joias finas. relogios. bijoulerias, objetos de adorno , ele. Oficina de ourives e gravador. E.xecula e reforma q~alquer · jo"ià em pia- . tina, ouro e pedras finas. Dou– ra-se e prateia-se com perfeição. Rua João Alfredo, 25 - Telefone, 2751 - Belem .!...._ Par-ã - B'rasil ••••••••••••••••••••• A' MINHA ESPOSA A's margens do cau<ialoso Guamá, uma canôa, dolentemente se embalà.va ao jôgo das ôndas, que vinham se espalhar entre bailados maravilhosos, sôbre a areia clara e fina, que se alongava, beirando o Rio . .Ao longe, no centro das águas, desllsavam, l'.lorrent e a baixo, lençól.s e mais lençóis de franjadas espumas . • · -Então, dôce e mar'ulhante musica, en~ chia . com pl et amente aquelas risonhas •para– gens! · Um casal de jovens, repousava entre mi- mos, sobre a relva macia, que atapetava o sólo. Ela, filha dos trópicos, desabrochara na– queles recantos, como as flôres silvestres: - ás vezes, brav ia e Imponente, como as tulLpas; ás vezes, mimosa e delicada, como as. violetas dos vales ! Uma basta cwbelelra, de fios aveludados, a– cariciava-lhe ondul!llilte as formosas espáduas, ingenuamente postas á mostra. 'Drazia, com essa faceirice tão peculiar ao sexo, preso por um pequenino laço de fita azul– celeste, é. altura da fronte, um ltndo jasmim, ·que se destacava delicadamente. Em seus 14blos polpudos e. rosados, brin– <eava um sorriso insinuante e ani-ma<ior, trans– mitindo-lhe aos olhos, reflexos de profunda alegria. El!l, forte, sadiamente atlético e bronzea– do, era um belo espécimen, de nossa raça . ~ . deitados -ao longo, repousavam debr.uçados sôbre os ante-braços, tendo o bus– to, Hgeiramente alevantado . , As suas ,faces, quasi que se tocavam!. . . !Rememoravam, assim, os temipos de uma grande felicidade, quando ainda se. falava em PARA' ILUITKADO Paz e o seu amôr, era o Tudo d e suas vidas. . . ."Sim querida, agora que sau chamado a integrar o ,n:ieu dever, voltando âs fileiras do nosso Glorioso Exército, dóe-me nalma, sen– tir que vou me afastar de ti, porém, acima de todos os nossos afétos, está o amôr sublime, que consagramos devotadamente á nossa Pá– tria!'' .. . Um sorriso triste assomou ligeiramente em seus lábios, sendo reprimido quasi ao mesmo instante, sem siquer os músculos do seu rost o, . denunciarem o grande pezar que I:i1e 1:1 no co– ração . · Ela, alisando-lhe de leve os anelados ca– belos: num arroubo de .patriotismo, exclamou: -"Meu amôr, meu grande e unlco amôr, ju, 7 gas porventura que tua partida, embon nos pareça um transe doloroso e diflcil, 5eja para mim, motivo de lágrimas e tristesas ? ! Não quel'ido, ja.mal.s ! Vai, vai defender a nossa Pátria adoravel, porque, lã no campo da lut a ' no ardor da refrégà, quando nossa Bandelr~ fôr desfraldada á tua guaroa, sentirás em teu ·coração a Ínals nobre das ·alegrias e tua alma 'te ditará, que nesse Instante, não é só o chão verde-ouro da Pátria defendes e nem tão pouco estas plagas venturosas ! Mas, t am:bem, á mim - a tua amada, á tua mãe, tuas irmãs os velhinhos, ás criancinhas e ás mulheres to– das do nosso Brasil 1 Sente como Isso é subll.J?:le e como será ·grandiosa a gratidão de toda essa gente !... E quando tú, ó meu adorado, feito um he– -rol, coberto mesmo de gloriosas cl·catrlzes, vol– tares aos meus braços, quão delic\oso será o nos!!<> beijo de chegada ! 1 , Vai, meu queriao!. . . Aqui, ficarei oran– 'do a DEUS por nossa Pátria, .por ti e pelos nossos valentes soldados, e, peço-te ardorosa– mente, - traz contigo, as vitorias das nossas ·armas!'"' · :11:le, num ímpeto de entusiasmo e admi– ~ação levantou-se ráJpldo e tomando-a nos braços, colou os lábios nos dela, celando assim, a despedida, como um long.o e profundo bei- jo. . Dirigindo-se á praia, de um saltÕ,-aspru– mou-se no bôjo da pequenina embarcação e com .poderosas remadas afastou-se rapidamen– te, àté a correntêsa. De lá, sua inão ergue-se acenando um a– deus . Enquanto, êle buscava célere, sôbre o dorso dàs aguas, o Corpo Militar para onde fôra con– vocado, ela debruçada sôl:>re a relva, dava ex– pansão ás primeiras lágrimas de saudades, en– voltas com balbuciantes préces, dirigidas á Virgem Santa de Nazaré. ... No horizonte, um pequenino ponto es– curo, encurtava mais e mais, a distancia que o separava da ainda longe Baía do Guajará. ALVARO DIAS •••••••••••••••••••••• . J!!illlílUilllJUIIIIUIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIUllllllllllllllllllllllllllllllllllllnlll1rnuumnuruum1ullllllJIUITIIID!j!g 1 PARA' ILUSTRADO 1 I = no Pinheiro PA.RA' _i=== De hoje em dian-le, 1 ~IIii;;:;:~:~:,~:t:i;I~~ ! ~ nheiro, onde o seu prnprielario sr. § ! · Raimundo Saturnino dos Santos !! está aplo para tratar sobre qua_l- =_= qu_er assunto; como assinaturas, anuncias e etc. -para esta revista. WllllllllllllllllllllllllllllamlllllllllllWIIIIIIIIIIIIIIIIHIIIIIIIIIII -25-
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0