Pará Ilustrado - 1943
no VI lalNiinl / / Diretor-proprietario - JAIME DACIER LOBATO Red. e Of. : Trav. Redt1!or-chefe -Undol!)ho Mesq ,1ila ,S,.,·,t. -Sherlock Holmes C. Cosia FONE , 2 7 1 9 Campos Sales, 113 BeLem DO PARÁ, 6 oe m1=1RÇO oe 1948 ROmeú fflARIZ Hã quem desconheça em Belem o suplício dos Irmãos Nobre? p acaso ignora, alguem, a dolorosa "via-crucis", que êles têm percorrido nessas treis décadas de existencia ? o despertar da vida, amanheceram cantando. Cantavam, eavam a sua felicidade, embalando os sonhos da juventude, alegria de viver sonhando. Como cantavam' êles ! Ouvi-los, era a delícia da sociedade. Começaram numa vocação de predestinados. Eu voltava um dia e eerta vilegiatura e ouvi, então, de Alvaro Fausto, aquele lindo espírito que se foi, a nova do aparec~ento nas rodas de arte de Belenl, d~ uma menina prodígio, uma revelação, um temperamen- como dhem os italianos. Essa flôr primaveril de quinze anos Helena Nobre. Depois veio o seu irmãÓ, Ulysses Nobre, ambos inlãos de Jaime Nobre, outro talento musical, outra brilhante in– clinação, a quem o maestro Joaquim Franco e o maestro Sarti não üpensavam nas suas grandes orquestras teatrais, flautista con– àente, admiravel e exímio, que êle era. E Helena e IDysses cantaram para os seus íntimos, cantaram para o mundo nas igrejas, em festivais, em concertos memoraveis, em noites de arte e encanto, acolhidos, admirados, envolvidos nos ap]ausos das multidõe~: aturdidos pelo estrepitar das palmas, sor– rindo, enlevados, ao atenderem aos frenéticos "bis", das platéias em extasis. Orgulhava-se o Pará, orgulhava-se o meu velho e inesqueci– vel amigo maestro .Gama· Malcher daquele casal de jovens artis– tas, que se viam fadado a·-grandes vitorias, no caminho ilumina– do que iam palmilhando, vendo a glorià alem, como se vissem o RU oasis de felicidade . . . · As ciladas do Destino ! As encruzilha.das crueis ·das verêdas da vida ! Ah ! o Livro terrível, de páginas imensas, onde se movem Fatalidades, onde TUD.O está escrito! Liv,:-o danado, das tortu– ras humanas ! Os anos passaram velozes, no seu galope cadenciado~ indife– . rente, a construirem, a destruirem, cheios de determinismo. Como tem maldades o Destino ! Como tem crueldades o Tempo ! Um d~ ! . . . Para que falar nesse dià, para qge· rememo·ra-lo~ que lembra-lo? Mas foi nesse dia desditoso, que o turbilhão das fatalidades envolveu aquelas criaturas no seu tumulto impie– doso. Era a ronda dos Imprevistos,_na sua perfída ação policial, em torno do homem. Trabalhos, vigílias, necessidades, atropêlos tremendos, tra– vessias tenebrosas nos mares desencadeados e tempestuosos do "fura-_mundo" da existência. Os penêdos r~lavam pelas estradas, que pret,endiam atravessar. E mais tropeços e mais impecílios e trancos da sociedade fingida. Mirram as energias·físicas, alquebrantam-se as forças morais e a vida caminha, acelerada, para o aniquilamento. .Na dignidade dos seus sêres, firmes, estoicos, enfrentando as tormentas, os Irmãos Nobre, Helena e plysses identificaram-se com os sacrifícios, com o formalismo da sociedade, a esgot~rem o cálice das suas amarguras. Poucos compartilhavam da sua mágua íntima, poucos se a– piedavam dos seus sofrimentos. E que sofrimentos! Os de tlois entes tocados de invencível sensibilidade, de duas criaturas que nunca perderam a fé nos seus ideais, que nunca descreram das ilusões, antevendo seril"pre uma esperança ... E a sorte, um. dia, sacóde as suas emoções, fa-los vibrar, .co– movidos, certo sorrindo e chorando, .e .fazendo chorar e sorrir pela mesma causa, que os abalava num instante, todos quanto conhe– ceram do gesto de humanidade e ternura ·do interventor Maga– lhães Barata, concedendo aos dois grandes sofredores, uma pen- são de Cr$ 600,00 mensais, enquanto viverem. _ Bendito gesto, este, meu Deus, que vem curar tantas aflições, que vem remediar tantas carencias, que vem serenar tantas atri– bulações ! Bendito gesto, este; meu Deus, de tão elevada inspi– ração, que no âmbito daquele lar cheio de angustias, derralnou-se como um balsamo salutar, como um imenso lenitivo dos céus ! Beiidíto. g~sto, este, meus Deus, desse militar cidadão, que no seu peito abriga coração tão magnanimo, e cujo espírito cristão se póde assim exp~ndir em êstos de excelsa caridade, que traduzem a formaçãô de uma alma enternecida, alma que é um mundo de solidariedade humana, e que acolhe a dôr do próximo, ungida de uma suprema unção, alma das eu~arestias e de perdões, alma de sensib-ilidades~ sem . culpa a redimir !- Bendito gesto, este, meu Deus, que fez rebentar num terreno sáfaro, a planta miraculosa de onde bróta a flôr das alegrias, para perfumar os recantos soli– tários do coração e -enxugar as lágrimas das agonias perenes ! Bendito gesto, meus Deus !
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0