Pará Ilustrado - 1943

\._ 7J~O.d d4 ulà~çàd- u. ,o.lc ,,u u ~ - piO.~iu ~tU (Via Aérea - "Inter - Ameriac~) ''.Acha que eu devo ir, mamãe-? "Você é quem deverá tomar essa decisão por_si própria, Maria. Que é que você quer ir -fazer? "Gostaria de -cooperar para 9 esforço de guerra. Mas, nesse caso, teria d~ sair de casa. E eu não gosto disso. Dan ficará aqui trabalhando na fábrica e eu ficarei saudosa. No ~ntanto, conhecerei outras cidades, cousa que -sempre dese-jeí fazer. Travarei conheci– ment_o com .numerosas pessoas. Talvez fõsse melhor eu ir. Ma:s, deixo que- você resolva. "Não, milha filha, essa decisão cabe a você". Interessa-:ll}e -mais do que a qualquer nem mesmo á sua mãe. Você já tem idade ?U~ a pesso11: no mundo e você não deve, por _lssó, entregar-se completamente: aos outros suficiente para tomar decisões. ' PONDERE OS PRó E OS CONTRA:S "Ah, j á sei o que fazer. Pesarei as r azões e_d_elxarei a ,balança decidir .- Eis ó que fa– na o_professor V!!ssar. Vejamos. -Na escola de 10, eu gostaria de ir . Quantas razões me farão ficar ? Não tinha a menor idéia de como é dificil adotar uma decisão. ..Mamãe, que faria você em meu lugar ? · "Ora, Maria, eu nunca apliquei a mate– mática aos meus problemas . Sempre que es– tava embaraçada, procurava rezar e pedir esclarecimentos; apenas me cons ervava cal– ma, e não demorava muito que _acontecesse qualquer cousa capaz de me obrigar a tomar a minha decisão. E' PRECISO EVITAR A CONFUSAO "Não conheço outro método. Medite bem, estudando seu caso sob todos os -aspectos, e espere . Não pergunte a opinião de muitas pessoas. Isso apenas lhe trará confusão. Você deve decidir sozinha". E' melhor deixar que os jóvens assumam a responsabilidade pelos seus atos. Embora sejamos tenta.dos a resolver tais problemas para eles, o melhor é deixar que os jovens tomem sua propria decisão e a execute sem o auxilio de estranhos. Eles naturalmente Inverno na Ponta Grossa -- O pessoal da terra firme andava apavorado com o inverno. As chuvas havfam chegado muito cedo, alagando tudo . Quem ainda não tinha queimado roçado estava no mato sem cachorro. Bem fez o Mané.. Sousa que encoivarou e atacou fogo nas suas cinco ta– refas ainda no mês de novembro. As laba– redas comeram tudo, deixaram ó chão var– rido . Nem um tóquinho ficou para reme– dio . Caboclo previdente o Mané Sousa! Sabia o que era trabalhar em roça . Farinha dagua e maxixe nunca faltar am em sua casa. Gostava de apreciar o maxixe num cosido de pirarucú. Falavam dele mas era de in– veja. O tapuio sempre foi trabalhador, mm– ca pediu nada a ninguem. Que falassem, dissessem o que bem entendessem . Ele mes– mo ·é que não estava se incomodando . Gente safada que só levava se metendo na vida dos outros . Que fossem p ara o diabo. Quando entrou o mês de janeiro ninguem mais teve esperança em dia de sol. o agua– ceiro lavava a terra de madrugada á madtu– gada . Nem ao menos podiam sabrecar oro– çado mal acabado. Os caboclos da Ponta -.56- errarão, mas isso faz parte de sua aprendi– zagem. outras vezes, ao contrario, surpre– enderão aos seus pais, e tambem a si pro– prias, por revelarem· habilidades que se en– contravam ocultas sob o controlé e a autorl;;; dade paternas. - ESPEREMOS QUE OS J'OVENS PEÇAM CONSELHOS Os jovens naturali:nente necessitam de conselhos, mas é conveniente esperarmos que elas nos solicitam auxilio, e não devemos nos mostrar irritados quando os mesmos não -concordàm rapidamente com o ,que dizelJlOS_. Muitas vezes os jovens pedem_um conselho apenas como ponto de parti!la. para suas decisões-. Ouçamos a historia que eles nos teeín a contar e- procurem~ encontrar o que ~ há 'de bom nelas e :E!,áo os seus pontos fracos, e muito menos devemos apontar-lhes ao mesmo tempo os pontos fortes e os pontos -fracos de sua µárrativa. Protegemos ~emasiadamente os nossos jovens. Um ')qvem ·colegial é já b~tante inteligente para discutir os seus problemas, encontrar soluções praticas para os mesmos, e levá-los a càbo- sem o auxilio de pessoa al– -gm;na. _ E muitas delas o farão, se lhes de– rem oportunidade. Aproveitemos então, a emergencia da guerra atual em beneficio dos jovens. UM ROUBO PATRIOTICO BOSTON - Por via aérea - (Inter - Ame– ricana) - Os empregados do Hotel Statler de Boston têm experiência do que é o fervor patriótico, na parte que diz respeito â. coleta de borracha para as industrias de guerra. Todos os empregados aesse hotel têm o há.bito, qu!!,ndo (lntram no trabalho, de dei– xarem no vestiário os seus belos sapatos da rua e calçarem sapatos leves. Imaginem a surpresa que os abalou quan– do, num dos ultfmos dias, ao enfiarem os sa– patos, depois do trabalho, verificaram que todos os tacões de borracha tinham desapa- recido. _ No desejo bem patriótico de ajudar o Tio Samuel, um jovem empregado "limpou" os tacões de borracha dos sapatos de todos os camaradas. Grossa ficavam sem poder plantar um ga– lho de maniva. Tinham que _passar o ano inteiro comprando far inha a oitenta centa– vos o litro para temperar o assai. Pensavam n a_ borracha mas não ·adiantava. O aluguer das estradas estava puxado. _O coronel Zuza pedia um dinheirão pelas suas-seringueiras. Por menos de novertta. cruzeiros ninguem cortava uma estrada. O negocio era cair na lenha. F azer lenha e vir vender na cidade . Mas a lenha estava dando tão pouco . .. · o inve1no descia forte, espalhando o pes– soal da Ponta Grossa por todos os lúgares da ilha. Uns cortavam lenha, outros apa– nhavam assai. Em roça só quem falava era o Mané Sousa. Os pés de maniva nasciam bonitos, prometendo uma safra magnifica. Os jerimuns já estavam em ponto de '(lenda. Só em jerimuns Mané Sousa ia arranjar mais de mil cruzeiros. O cabôclo andava parvo, de peito tufado contando lambança . .-No dia da festa de São Sebastião na casa do velho Zé Pinheiro ia arrematar um bocadáo de coisas do leilão -só para dar o chá no pes– soal da lenha e do assai. Havia de ver mui– to moleque triste olhando para ele cheio de inveja . Quem mandou aquela canalha não aproveitar a surara do verão? Agora aguen– tasse chuva nas costas até a gata miar. Que levassem a bréca. Diziam que gente do Cea– rá era bicho trabãlhador mas Mané Sousa ainda não 'tinha visto nada. Todos eles che,. PARA' ILUSTRADO garam com tempo de sobra á Ponta Grossa e não queimaram nem ao menos uma tala de jupati. -Agora andavam se queixando. Era só o que faltava. Mais de cem homens sentados no terreiro olhando para o tempo. Ele mesmo é que não se trocava pQr nenhum deles . Estava cansado de _ouvir patota. Nunca perdelJ um verão e se gabava disso. Para Mané Sousa não havia maré grande nem tempo ruim :- Inverno nunca lhe meteu medo. Podia chover â. vontade que ele pou– co estava ligando. Cadê que o pessoal da ou– tra banda tinha medo de chuva ? Moleque trabalhador estava morrendo do outro lado do rio. Burro foi ele que não ouviu o conse– lho da Florença. Podiá estar melhor do que está hoje. Pelo menos não andava cercado de gente semvergonha. Mas não faltava muito tempo para Mané Sousa varrer da ilha aquela canalha. o coronel zuza já lhe ha– via ditQ que no dia onze aparecesse na vila com todo- o dinheiro para poder assinar a es– critura da ilha. M. • •••••••• ♦ .. ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦ • ♦• • 1~~ áf J.o.cmi (Carpinteiro Naval e Civil) Constroe e conce-r(a barcos. lan– chas, boles, carrosserie d-e camionetes, caminhão, onibus, char– rete-. .ele. Acei{a serviços de _construção civil, assim como. de encanador. vidraceiro, funileiro, todo e qualquer trabalho de sua especialidade. Trav. Apinagés, 178 BE.LE.M-PARÁ 0 iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiíiiiiiiiiiiíiiiiiiiiiiíiiiiiiiiiiiiiiii'o ♦• ♦• ♦ ♦♦ ♦ ♦ • ♦ ♦♦ ♦ ♦ ♦ ♦ ♦• ♦• ~dad-... GRAZIELA LEITE II A tarde primaveril já repousava languida- , mente, nos braços carinhosos e sombrios do crepusculo !. ·-· As folhas espalmadas dos ·co– queirais reviravam-se e gemiam cadenciadas, ao 9 refolhos que o vento soprava !. .. Os pássaros, sonolentos, marginando seus ninhos, acalentavam suas plumagens ! . . . O sino_carpindo morosamente, tangia os soluços á horá mistica do Angelus !. . . Ela - _absorta.. . . vivendo á saudade que lhe estigmatizâ.ra a alma. . . deleitando o olhar velado ao astro-rei que já recitava a préce do ocaso - cismava, na solidão mórbida da sua tristeza-. com a suave e- preciosa essên– cia que se evolára das inspirações poéticas !. . . Sentia-se isolada no aniquilamento que o destino sublinhára !.. . E o sonho . •. em desalentos, desfeito - "tombou da noite ao tétriço negror" !. .. Prostou-se abandonado no caminho da es– trada sonhadora da Vida l • •• Ela - quedou-se no ocultismo da mira-. gem esplanada das suas máguas ! . . . A flôr desabrochava singela e exuberante - o ven– daval do Tempo estiolou !. . . A fonte de cristais divinisados e luminosos onde se– denta, saciava a sêde da esperança do saber - secou,emudecida. . • deixando no rastro ... uma recordação indelevel . . . - uma saudade infinda! . . . 20- 2 -to+3

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