Pará Ilustrado - 1943
J PAG1ni:1s oe onrem e oe HOJe VesptJsit1no Rt1mos Estamos de acôrdo com Emil Far– hat quando diz que "o escritor de hoje no mundo é uma missão perante a humanidade. Não se escreve mais pa– ra decantar o pôr do sol. Escreve-se porque escrever ·é um meio de lutar .para quê o homem seja mais feliz na . sua trajetória sôbre a terra". "Na sua mão êle precisa trazer não só a luz para guiar os que não ' çompreendem, mas o martélo para destruir os que se fos·silizaram". Nós da Amazonia bem pouco te– mos feito. Um pouco talvês da ido– lência cabôcla que nos impa turra de tédio e desalento. No entanto póde ser tambem esse domínio e essa "di– reção" que nos querem dar os depar– tamentos impondo-nos regras, entoxi– cando o ambiente intelectual com uma multidão de artigos e regula– mentos. Não tivemos a sorte dos do meio norte com Graciliano, Jorge Amado, Raquel de Queiroz, José Américo e José Lins que se aproveitaram de uma époc·a de transição histórica e con– seguiram publicar os seus livros. Por aqui apenas ,\bguar Bastos com a sua Amazonia que Ninguem abe e Safra; Dalcidio Jurandir com o ·s._eu Chove nos Campos de · Cachoeira,, nos trouxe um romance vivo de psicolo– gia popular de vida intensa de um vilarejo do nosso interior. · Tirado uma parte daquele sentimentalismo · da abertura do livro, coisas aliás que o leitor não quer saber, colocaremos o Chove ao lado de Macunaima e de Amazonia que Ninguem Sabe, roman– ces que nem os seus autores serão ca– pazes de reproduzi-los, em outros as– suntos. A vitoria do Chove fôra quasi in– concebível em nosso meio. Ela pré- 20- 2 -1943 · uesp SIODO nnmos DOS OUTROS... cisava vir mesmo dp sul, bem lacra– da porque, senão, poderia desapare– cer da caixa dos correios . Vivemos num meio de igrejinhas intelectuais cada qual com o seu "lea– der" e seus sábios-mirís, sem fazer coisa alguma, incapazes de uma ini– ciativa proveitosa ou mesmo de me– diócres ·organisações intelectuais. A nossa vida cultural não passa das bancas de café . No entanto temos elementos. Va– mos começar por Mario Couto, que provou com a sua juventude que po– d~remos confiar nele e ter mesmo grandes esperanças. Não só isso: Que escrever não é mais monopólio de uma classe e sim o desejo de uma épo– ca. Eis ai um rapaz burguês fazen– do arte popular sem intenção nenhu– ma. Levi de Moura, támb~m tem tra– balhado e feito alg"1ma coisa nova e Machado Coelho não deixa de nos dar uma vês ou outra trabalhos seus, embora que esteja enquadrado na o– pinião de Emil Farhart. Lê-se Macha– do Coelho como leríamos as poesias de Frances James, escutando a reali– dade do passado transformada para a nossa época em fantasias. Seus be- Jos . trabalhos são capitulas burilados mais para impressionar na fórma. :€le chegou a estandatizar a sua o– bra. E' um sehtido réto não admitin– do curva.s de espécie alguma. São mesmo verdadeiras joias de arte inte– lectual muito bonitas e limpas para sêrem humanas. Finalmente perden– do o seu tempo e o seu talento . Sim, -vejamos um exemplo : o sr. Coelho Neto, embora deixando "In– verno em Flôr", é entre nós um sim– ples Deli . com as suas eslravaqanles tramas amorosas que só poderão im- p ARA' ILUSTRADO I'!t1vit1110 Pereirt1 pressionar as solteironas ou as me– ninas místicas de colégio de freiras. Póde quem quizer nos contestar, pou– co nos importamos com o máo gosto, o temperamento de cada um ou a falta de um sentido real para a nova arte de escrever. Balsac, Zola, Eça, Aluísio vivem em nossa época, por– que por sua vês viveram para o seu povo, escrevendo para a humanida– de e, esta, apezar das constantes mo– dalidades de evolução não se trans– forma e, antes pelo contrário, se re– habilita cada vês mais, procurando o seu sentido de bondade, nessa união fraternal entre os povos que se de– fendem do ultimo reduto dos máos. Mas os tabús da literatura continuam onde estavam; não só êles . Alguns moços da época presente que pode– riam completar a vanguarda dos li– teratos uteis, uns, ficaram remexen– do o balaio velho dos classicos rou– bando dêles o estilo e a fórma; ou– tros, - esses pouco ou nada nos po– deriam ajudar - são rapazes que er– raram o caminho com uma cultura de azougue, fugidia . Geralmente lin– dos mancêbos, bem comidos e bem tratados, coloridamente vestidos, dis– tilando bom humor e perfumes es– travagantes por todos os póros que só enchergam e pensam na alegria de sua mocidade, gostosa e despreocu– pada: Os futuros burgueses de ama– nhã, exploradores das massas traba– lhadoras para que não percam esse bem estar e esse prestígio na· vida que arranjaram só para êles. E' a beleza, decantada beleza de todas as coisas! ... São Cavaleiros andantes do amõr, armados a D. Juan, ricos em frases melosas e vestidos a, tarzan, numa ridícula e -indiscreta degenerescen– cia de sexo, numa época em que as -47-
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