Pará Ilustrado - 1943

(Especial para o PARA ILUSTRADO) MANUEL GODINHO Vens, ainda muito além da montanha da rea– lidade e de cuja grimpa, nem sequer mal, consigo ver-te . .. Mas eu já sei que vens... Ânsia-cha– ma, da cratéra do meu sonho jogada para rolar por . lonjuras vagas do p11r-vir, com ela, e como ela, se vai' o .meu olhar. . . E o horizonte .que ·de tão longe o: tenta, acorreilta-·o, abisma-o em ,i, cégo de:··ei!'.a~sto,• num tenebroso insucesso de dis– tância .. . ---::::--- Mas eu sei que vens - pois que se não te– vejo, sinto-te . . . E o sentir, afinal, outra coisa não é senão o ver do coração . .. ---::::--- Há uma aurora que irrompe num esbanjamen– to de romarias de côres e festivais de ritmos . . . Há céus de deslumbramento na estranha apoteóse dêste desa_brochar das minhas mil esperanças no• vas . . . E em meu jardim de poéta, que, a postos para a orgia pagã da luz, já lhe toma as côres e lhe repercute os cânticos, reflorescem, para a pompa da arte, as papoulas rubras da Ilusão .. , Morena ou loura, sensual ou mística, sensual– mística ou mística-sensual - eu sei que vens .. . Di-lo á minha sensibilidade, até essa perturbante fragância tropical que, lânguida e vívida, errante anda no ar... no ar que é azul, como o rio, como e sonho, como o mar . . . O mar ! Minha alma é tam. bem o mar! . . . Aquele tão imenso mar, sôbre que, calma ou não, uma jangada de amôr qne se perdeu, já advinha próxima a sua aurifulgente es– trêla orientadora . . . Vens ! Meu coração o diz: di-lo ao meu crédo e o meu crédo a êle. . . E o próprio silêncio, que tão divinamente me fala, nas pergo– las baixas on altàs, destas minhas noites sem lua . .. ---::::--- E, assim, comovido eu te estendo os braços, os ávidos braços da minha grande esperança . .. ---: : ::--- Sim, vens ---::::--- Que já não és pressentimento, mas realidade . . . E o alcantil do monte, agora é chama - pois que se envolve na túnica esplendente que veste a mi– raculosa presença do teu sêr querido . .. ---····---- Vejo que Deus nos abençôa, pela mã~ ·d; ' noite qu~ surge, de novo a transportar para o som 0 brio das palmeiras em saudade, no luar·_ que. bri, lha, aquela impressionante graça amazônica, que lhes havia sido orgulho . .. ---::: :--- Bendita sejas ! - Se assim vens, anjo excelso do meu sonhar ... ---: : ::--- E lambem as auroras serão bem mais for– mosas. . . Seus ritmos mais jucundos, de mais ine– briante arôm; o sangue" das sua~ pétalas . . . -· --::::--- Agita-se a ·Natureza ao "Ecce !" da tua voz que será a voz do meu destino . . . . ::::---· ' Ajoelho - és m_ais · do que eu sonhá~a' ! E ajoelhado sofro, visto que. és maior do que aquele anjo do meu sonhar! Tu és a VIRGEM! A virgem que eu não ousára querer! eu, réprobo, apenas por um instante, crente ! ---::::--- Céu~ ! Raivas· trôam no espaço e de batalba– vertigem de faíscas, ensànguentado se ilumina o mundo . .. ---: :: :--- Vai-te, visão ! Renego-te, ventura ! Corre ! Meus lábios destilam o veneno letal das papoulas rubras do meu jardim de poeta. . . Deixa-me, que és a vida ! - E pará a vida eu não tenho altar . . . Meus beijos são o pecado e o pecado é a destruí– ção, que, por sua vez, é a Morte . . . ---::::--- Assim, visão, assim ! ao cântico, que já mal dis– tingo, da aurora que se faz cinzenta .. . ---::::--- E já não a vejo - e já nada escuto senão no horror dêste silêncio, que se fez a verdad~ira ~oz do meu destino, a palavra fatal, mensageira do sofrimento em que me acalmo e divinizo : -SO' !" ♦ ♦ ♦• ♦• ♦ ♦ ♦ •• ♦• ♦• ♦ ••• ♦ ♦ ºººººººººººººººººººººººººººº o o § Salão § o o .g Avenida g o o ·g Av. 15 de Agosto, 140 g o o g 1 o.dé )o,a.q,tdm de ~ & e.ª g , O O g AMPLO SALÃO g g DE BILHARES g g Confortavel Barbearia g . 0 de 1. ª Ordem o .Q g ARTIGOS DE PERfUMARIA g 8 NACIONAES g g E ESTRANGEIRAS g o o o Grande o o o g Sortimento · g g Biiuteria 8 o o g ESPECIALISTA EM g g ARTIGOS REGIONAES g o o -0000000000000000000000000000 ---m----•••-~~------- { !dação.de , , C)M,U, do.d, n{WO.d - GREMIO LITERARIO E COMER– CIAL PORTUGUEZ-Com grande so- E raiva.a ígneas do meu ser, Ormuzd contra ,. ✓le~idade , realizou-se no sabado ult imo Ariman, a ti, Beleza, eu reduziria a _ci!lza; a ti, a festa de colação de gráu dos novo5 Amôr, eu reduziria 1 a nada f .. . conlabilislas du Gremio Literariá e Co– mercial Porlu~uez. ---::::--- E na lota com o Céu, mais uma vez, e em mim, venceria o Inferno ! A turma que colou gráu fez a c~ri– monia de mcneira brilhante. em presença d~ autoridades e convidados t\ftNlAZ Nl DE VIVEft ~o. d,a,~ 7Jú,,a CASA CAffllLO D8 m8RC8ílRlíl-B0T80Ulm Av. Tito franco, 257 · - Esquina da travessa Curuzµ Fone, 3710 E3 @ I!. @ [ill e::. [;) (:) !TI (:) r, e::. E3 ITr[:) ~ □ 11 - - 44 - PARA'ILUSTR.U>O 20-2-1943

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