Pará Ilustrado - 1943
~ ~ ELOGIO DA VElrlJCE ~ ~ MURILO MENEZES logar, os moços. Operários, artistas, mestres, nenhum ultrapassava os 25 anos. Este fardo que nos é comum a am.. E perguntou ao seu ciceroni: - E os ve- lhos ? bos, esta velhice ,que á no mle, -que- 0 t d " A .d i se · .\ vós em- ouro respon ·eu: - v1 a aqu T , , , - 11 .i e O - exaure depressa; só se aproveita gente nova". u es agua cantante • -..__ E apontando a travês de uma janela, um ce- E quando passas trêmula e o ,i mitério longe: d . ilh ~ d id [' -"Os velhos estão ali" rolam e tt m oes e ru os t, uma das razões disso, é que na América, Mólhas minha alma a minha m nde a máquina substitúe tudo, não se faz • ' ~ 1 _uestão de grandes artif!oes encaneci-ctos no a minha boca e o coraçao • !Perfeiçoamento da sua profissão, nem. dos * 'elhos e experimentados obreiros. Ang-elo Sca- 1 nos relata verdadeiramen,te desolado, o Escuto nos teus passos o rumor rnessivo prestigio que se dá á mocidade nos duma cáscata que se rola sobre JStados Uni1ios. E acrescenta: • • 'd - "A velhice na América é uma tragédia; Sinto a beleza ltqut a e cantantem volta dela forma-se o vácuo. Não a ou- do teu corpo humido e espelha~m os filhos; fógem os demais; e todos a Jul- . d A am um. peso morto para a S'ociedade . Ali num grito tremulo e amor hama-se á velhice: - o preconceito do pas- tado afogando a minha Yida . .ado. E sem se ter o culto pela tradição, con- Tú es agua cantante! .ena-se tudo que não é moderno no atual. Mal ,valia -essa gente, a condição tristissima que se ,stá a crear para o futuro. Ou ela n·ão enve– .hecesse ! ? . . . Depois disso, comenta Scala, - as moças Há um só[ Yiolento em cimá d ~mericanas, as que são belas, se julgam com E d ' fl d d. plêno direito de se despirem dos preconcei– esces, em re exos e tam,tos antigos do velho pudõr decadente. Mas como quem chora, como quemquantas são as belas ? E quanto dura a be- lh · h l · lesa ? Realmente, muito pouco . As moças e para mo ar mtn a a ma, a mi moços "ianqueis" não pensam que fatalmen- a minha boca e o coracão ! te, ou morrerão cêdo, ou hão de ficar velhos, , um dia. E conclúe que o Europeu no fim da 'T' - - ·- .,_ ~,~" • ,:;_, r, .,.fLff'J')Y. ,l.,ft' uma qoença da ima.gmaçao, e Ja na 'i'-"é1/t' diga que os casamentos mais felizes são aque– les feitos sem amôr. Isto é, feito pelas conve– niências, materiais, psiqulcàs, estéticas, fisio– lógicas, constituindo um áto de madura e sa- dia reflexão. . -Pois o amôr não i uma alucinação ' do amôr-próprio e da inteligencia1? O certo é que êle obtêra o racioci'Ilio e mascára a realidade. E' belo, porém, d'oentío . Primeiro, porque é a menos duralCloira de todas as paixões . E se– gundo, porque se durasse sempre ,ou dêle se fizesse uma profissão, precisava que a moci– dade fosse eterna justamente como queria Fausto; - para no fim de contas nada de útil ou 1:le prático ter-se construido na vigência. E isso, pelo motiv-0 dêle ser um estado mór– bido, uma semi-letargia dolorosa, uma obses– são doentia que uma pessôa sente por outra de sexo diferente .· Não tem conta, 'O número de vezes. que os .poétas teem instintivamente associa.dos nos seus poêmas, o Amôr e a Mor- ~ te . E' que, encarando-se o amôr no seu ver– dadeiro estaido de exaltação, verifica-se que ent·re êle e o "!)'onto_ f) na1", -há afinidades pro– fundas. Albertina Befta, no lindo romance, EXALTAÇAO, faz+d~e estado d'alma uma des– crição admirav~l. Quem encara a vida como um culto ao ~o/• tem dela uma idéia falsa e perniciosa ,stPara os que teem absoluta fé na m.lssão do :Qeus vendado, a vida só é vida enquanto ,. ,dura a mocidade . Puro absurdo 1 Daí, o er,r-0· da mentalldade norte-americana, - a ínàls eIIJIPírica de todas as concepções civlllsadas, - em querer consag,r-ar a supre– macia incondicional da mocidade . O nosso Coel-ho:tNeto, que foi um Insigne estudioso das coi'isas' huxruanas, conta a lenda de um per– sonagém que, conservando toda a varonillda– de, , vi·veu trezentos anos. Mas um tal ente, se existisse, passaria para toda a gente, como um eterno extranho e uma figura fantástica e sinistra. Na América há verdadeira obses– são por tudo que é jovem . O viajan-te inglês J. Frazer, quando ai! excursionou, admirou-se que 1;1as fâbricas, nos magazines, só tivessem 20-2-1943 sua carreira, vê os seus cabelos brancos hon– ra.dos pela universalidade. O Americano, ao contrário: vê deante de si, a própria velhice, como um terrivel fantasma ! Se 'D.ão , evoquemos os grandes velhos que na vigência da Grande Guerra revoluciona– ram sociologicamente a Europa : Hindenbu.rg, Clemenceau. . . E, antes, lemibremos tam.'bem, a velhice augusta de Leonardo de Vinci. Dona Maria Amélia Vaz de Carvalho em notav·el estudo, disse que os gênios iam parecendo . desa- Já não havia mais gênios, devido mór– mente á complexidade das clê'I!cias. Os inven– tos, as descobertas, ve'I!hem progredindo len– tamente, de mão em mão . O último gênio, acrescenta, foi Augusto Comte . Nao é tã:nto assim. Mas segundo ela, es– tamos na idade da experiencia, d'Os conheci– m,entos acumulados, em que 'Ilinguem nasce mais adivinho. Por Isso, só os anos e o estudo pódem da;r o saber. · ,o .LIVRO é hoje, mais que nunca, o ar– quivo da civllisação . A sociologia noo ensina, unicamente pela Jlção dos fátos compendiados, que tal medida é útil, que tal empreendimen– to em época passada, produziu esse resulta<lo. Os fá.tos de ôntem corrigem os erros de hoje. Isso, na historia ,e na própria vida de um hoim!m . Ora, não se..póde exigtr, pois, de mo– ços veementes e incautos. que improvisem, o que, só conhecendo os livros, tenham 'O saber dos anciãos experimentados e descrentes, que teern, além da cultura, a experiencia e o ceti– cismo, para os quais já não influe o feranen– tar das paixões. A mocidade é para obedecer, para ser mandada. Ela de si, é impetuosa, mas desori– entada, não ,propensa a cometer desati~s; e quando chega a assumir a direção de uma cousa magna que não os seus próprios interes– ses, falta-lhe a prãtica e descortino que só pódem ser adquiridos com o amadurecimento da razão . Se a principal função do homem fosse o amôr, não digo o amôr - reprodução da espé– cie, - mas o amôr galante que nada tem de creador, - estou certo que o mundo pararia PARA' ILUSTRADO no seu progresso material e intelectual . Nã.o sendo, pois, o amôr, a função básica da vida, deixa de haver razão para que, incondicional– m-ente, um moço valha m'ais de que um velho, cheio de ex,periencia e de saber. A principal atribulçálO do homem, depois da natural mis– são genésica de procreação, é construir. E' de qualquer maneira, melhorar a sorte dos seus sem~harutes, é trabalhar para o bem da fami– lia e em pró! da civllisação. E tudo isso se faz •bem, se se fôr sá:bio e superior na arte de pensar. Os povos fortes ·e .poderosos, são· os mais cultos, os que melhor pensam. Entendo que não se deveria conferir aos homens de menos de 50 anos, os cargos de ma– gistratura executiva ou judiciária . •Dir-se-á que Bonaparte era um moço e salvou a Gran– de Revolução . Mas Bonaparte era um gênio, e m'esmo assim, se tivesse chegado ao apogêu, na Vs;'lhice, teria decerto, conservado até a morte, o seu grantie Império. A mocidade é que nos defende na guerra, na luta armada, e que salva com o seu sangue, a integridade da pátria. Mas é a experiencia de Foch, de Hindemburg, de Jellcoe, de Makensen, que con- · duz a mocidade á vitoria . E' a velhice como a de Ruí, que faz a glória das nacionalidades . E' a ancianidade veneravel de Tolstoe, que constróe o allcérce moral de u:ma geração in– teira . A Mulher . . . Mas a mulher, como querem alguns poétas antigos, que não d'oi creada ex– clusivamente para o amôr. Para preocupá– la, passadas as escaramuças de Cupido, há a familia, a cultura do espirita, a arte, e a sua atuac;ão como ser pensante, nas colmeias de traba:lho e na sociedalde. Coefüo Neto tem uma pá1?lna admiravel, no seu llvro, CENAS E PERFíS : - Velhice. O mestre se revela. ali., como um extraordina– rio vidente. Mas o que diz, tem ares de der– rota e é sumamen<te triste. :E' porque êle qulz apenas se referir como julga e como vê, uma existencia adiantada em outôno1;, poréll'.l!, nu– ma clvlllsação amolentada e frouxa, cheia de snobism10 suicida, e onde se começa envelhe– cer aos trinta anos . . . Ora, dizia-me um amigo: Porque vale mais o homem no reino animal ? - Porque pensa ! Logo, é a inteligencia que faz dêle, o rei da creação . E' lógico, pois, que sendo êle o mais iàJoneo, com mais experiencia e avalição das cousas, te'I!ha mais valor que o mais novo, homem tam;bem, ·mas menos treinados nas con– tingencias da existencia . O mais novo pôde ser mais -arguto, mais lnstruldo. Mas o mais idoso, além de poder possulr estes diois re– quisitos, tem, o que o outro só poderá ter, Imlito tempo depois: o amadurecimento da reflexão e ,a prática dos homens . . . -+- Por uma dessas llndas manhãs soprava um vento algldo ·de inverno. Eu e o meu ci– tado amigo passeavamos pelo Bosque, e con• temjplavamos as perspectivas, onde aqui e ali, viam-se floridos arbustos que encollhiam-se humildes, enqua,nto que a beleza do local era tr-azida pelas frondes admiraveis das copa– das arvores seculares . -Linda paisagem, disse o meu compa– nheiro de Jornada. -Sim, esplendida naturesa ! respondi. Mas não sei porque, no intimo, comprava aquelas grandes arvores augustas, á velhice de certas pessôas venerâ,veis e !lustres, homens ou m'I.Üheres, insignes pe!IQ pensamento; que pela sua experiencia e pelo seu saber, dão mais superioridade e distinção ãs cousas sérias da '\(_ida .. . OUARIUT8_RAD {J. ~iadolt /)~ -41-
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